Ao que tudo indica faz algum tempo que Brynn (Katlyn Dever) vive sozinha em uma casa afastada do centro da cidade pequena em que vive. Pelos ensaios de sorrisos e acenos que a vemos fazer diante do espelho, percebemos que encarar a vizinhança não é tarefa fácil para ela. Não é mesmo. Ninguém cumprimenta Brynn. Ninguém acena para ela ou sorri quando a vê. Nem um bom dia a moça recebe. Pelo contrário, as pessoas a encaram com certo desprezo, até um casal chega a cuspir em seu rosto ao vê-la em um comércio local. Essa solidão da personagem se torna ainda mais latente pela quase total falta de diálogos do filme. Existem poucas falas durante os noventa minutos de filme, obviamente por Brynn não ter ninguém para conversar e ninguém querer conversar com ela. Ela pode até se incomodar com o tratamento que lhe é dispensado, mas passa a impressão que prefere ficar sozinha em sua casa a encarar aquelas pessoas novamente. Existe um motivo para tanto desprezo, mas só o descobriremos quando o filme chegar em sua reta final. Até lá, a casa que era o refúgio seguro da protagonista irá se tornar uma ameaça, afinal, ela percebe que sua casa foi invadida. Não se trata de um grupo de ladrões, mas alienígenas que chegam por lá e, ao que tudo indica, planejam abduzir a moça. Escrito e dirigido por Bryan Duffield (roteirista de Amor e Monstros/2020), o filme confirma a habilidade do rapaz de reciclar referências de um gênero em prol de extrair algo novo. Em Ninguém Vai te Salvar existem todos os elementos de filmes de alienígenas que cansamos de ver ao longo dos anos, mas Duffield insere as novidades nos detalhes. Das habilidades particulares de cada ET cinzento de aparece ou a esperteza habilidades de Brynn motivada pelo instinto de sobrevivência, a narrativa do longa depende do ritmo frenético com que a protagonista enfrenta os invasores. Conta pontos para isso o talento de Katlyn (que fez sucesso nos cinemas com Fora de Série/2019 e foi indicada a vários prêmios por seu trabalho na minissérie Inacreditável/2019 da Netflix), que carrega o filme nas costas de forma notável. O longa tem recebido atenção da crítica que se questiona qual o motivo para o filme ter sido lançado diretamente no Star+ e não ter sido lançado nos cinemas (a verdade é que os estúdios estão cada vez mais convencidos que o cinema hoje é para um tipo bem restrito de produções), já o público tem se dividido na apreciação da história, especialmente por conta do seu desfecho. Apesar do final iluminado, algumas pessoas podem ficar confusas sobre o significado daquilo. Pode parecer que Brynn sempre foi um ET para sua vizinhança, mas eu prefiro imaginar que ele é fruto da empatia que o sofrimento da personagem desperta a certa altura. A ideia de que ela só precisava de um grupo para acolhe-la para sentir-se melhor me conforta, afinal, a culpa já a fez pagar seus pecados ao longo dos anos.
Ninguém vai te Salvar (No One Will Save You / EUA-2023) de Brian Duffield com Kaitlyn Dever, Zach Duhame, Elizabeth Kaluev, Dane Rhodes e Daniel Rigamer. ☻☻☻
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