Cinco produções assistidas que merecem destaque:
quinta-feira, 31 de julho de 2025
PL►Y: Gradiador II
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Paul Mescal: musculatura para sustentar um roteiro ruim. |
Reza a lenda que desde o sucesso de Gladiador (2000) especularam sobre uma sequência do sucesso protagonizado por Russell Crowe. Obviamente que Crowe estaria fora da produção, já que todo mundo sabe como ele termina ao final daquele filme. Muitas versões ao longo do tempo depois, finalmente tomaram coragem para realizar a famigerada sequência. Toparam a empreitada com Ridley Scott na direção novamente, Connie Nielsen no seu papel de Lucilia e agregaram nomes em alta para gerar ainda mais interesse na produção. O filme estreou no ano passado, mas todo mundo sabia que repetir todos os feitos do primeiro seria complicado. Apesar de toda pompa de superprodução, o primeiro Gladiador era um filme fora da caixinha, não se fazia épicos há tempos em Hollywood e ninguém imaginava se o filme teria apelo perante o público. Russell Crowe ainda era candidato ao posto de astro na época e a produção enfrentou tantos problemas que se não fosse um nome tão experiente como Ridley Scott à frente da produção, provavelmente, o filme teria se tornado um fiasco. Para se ter ideia, ficaram famosos os relatos de que o roteiro era alterado todos os dias, muitas vezes chegando ao elenco minutos antes de ser gravado. No fim das contas, o tom épico misturado ao trágico da jornada de Maximus foi abraçada pelo público que lhe rendeu 460,5 milhões nas bilheterias (nada mal para um orçamento de 103 milhões). No Oscar foi indicado em doze categorias e levou cinco para casa: filme, ator (Russell Crowe), figurinos, som e efeitos visuais. Se tornou um daqueles casos em que o Oscar reencontra um sucesso de bilheteria. Obviamente que a continuação todo este sucesso, mas o roteiro... não ajuda. Que texto mal escrito. O filme já começa com batalhas épicas intermináveis (o que considero um tanto tedioso, já que não faço ideia quem são aqueles personagens e porque estão lutando, sendo assim, não sei para quem ou para o que torcer diante do que vejo na tela) para depois descobrirmos que a narrativa será sobre Lucius (Paul Mescal), o filho de Lucilla (Connie Nielsen) que com a morte de Maximus (Joaquin Phoenix) se tornou herdeiro de Roma e suspeita-se de uma conspiração para assassiná-lo. Por conta disso ele foi mandado para longe, mas o destino se incumbiu de afastar o menino de vez e fazê-lo comer o pão que Plutão amassou. Ele se torna soldado, escravo e depois um dos gladiadores de Macrinus (Denzel Washington), que elevou o massacre nas arenas a outro nível para o "entretenimento" das plateias. Scott já deixou claro em produções anteriores que não está preocupado com fidelidade histórica (basta ver o que ele fez anteriormente com Napoleão/2023), mas se no filme de 2000 ele apresentava seriedade suficiente para não deixar tudo cair no ridículo, aqui ele perdeu as estribeiras e investe em tudo: de babuínos sanguinários aos tubarões em uma arena aquática, GladiadorII é surreal. Com tudo isso você até esquece como seria interessante a ideia das pendengas familiares de Lucius serem resolvidas na arena, mas essas questões acabam ficando em segundo plano perante o sangue jorrando em cenas ainda mais violentas que do primeiro longa. Diante de tudo isso dá até pena de Paul Mescal em cena, acostumado a viver personagens mais introspectivos (como na série Normal People/2020 ou na sua indicação ao Oscar por Aftersun/2022), aqui ele precisou crescer a musculatura para ter que lidar com diálogos pré-fabricados de um personagem com uma nota só. Pedro Pascal também não tem muita ajuda para construir o seu apaixonado General Acacius, que se meteu em uma treta familiar complicada misturada com os desmandos dos irmãos imperadores Geta (Joseph Quinn) e Caracala (Fred Hechinger). Quem faz milagre é Denzel Washington em um papel pequeno que lhe valeu até indicação ao Globo de Ouro de ator coadjuvante, ao menos os figurinos foram lembrados no Oscar deste ano. Longe de ser destinado a virar clássico como o filme de 2000, talvez Gladiador II não queira ser mais do que um épico delirante.
Gladiador II (Gladiator II / EUA - Reino Unido - 2024) de Ridley Scott com Paul Mescal, Pedro Pascal, Connie Nielsen, Denzel Washington, Joseph Quinn, Fred Hechinger, Derek Jacobi e Matt Lucas. ☻☻
Prêmio Grande Othelo 2025
Melhor filme
"Ainda estou aqui"
Melhor longa de documentário
"3 obás de Xangô"
Melhor longa de animação
"Arca de Noé"
Melhor longa infantil
"Chico Bento e a goiabeira maraviósa"
Melhor longa ibero-americano
"Grande Tour" (Portugal)
Melhor direção
Walter Salles, "Ainda estou aqui"
Melhor primeira direção de longa
Pedro Freire, "Malu"
Melhor atriz
Fernanda Torres, "Ainda estou aqui"
Melhor ator
Selton Mello, "Ainda estou aqui"
Melhor atriz coadjuvante
Juliana Carneiro da Cunha, "Malu"
Melhor ator coadjuvante
Ricardo Teodoro, "Baby"
Melhor direção de fotografia
Adrian Teijido, "Ainda estou aqui"
Melhor roteiro original
Pedro Freire, "Malu"
Melhor roteiro adaptado
Murilo Hauser e Heitor Lorega", "Ainda estou aqui"
Melhor direção de arte
Carlos Conti, "Ainda estou aqui"
Melhor figurino
Claudia Kopke, "Ainda estou aqui"
Melhor maquiagem
Marisa Amenta, "Ainda estou aqui"
Melhor montagem
Affonso Gonçalves, "Ainda estou aqui"
Melhor efeito visual
Claudio Peralta, "Ainda estou aqui
Melhor som
"Ainda estou aqui"
Melhor trilha sonora
"Ainda estou aqui"
Melhor série brasileira de ficção
"Senna"
Melhor série brasileira de documentário
"Falas negras"
Melhor série de animação
"Irmão do Jorel"
Melhor atriz de série
Adriana Esteves, "Os outros"
Melhor ator de série
Gabriel Leone, "Senna"
Melhor curta
"Helena de Guaratiba"
Melhor curta de documentário
"Você"
Melhor curta de animação
"A menina e o pote"
domingo, 27 de julho de 2025
CATÁLOGO: Meu Querido Companheiro
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David e seus amigos: o fantasma da AIDS nos anos 1980. |
Meu Querido Companheiro de Norman René entrou para a história do cinema como o primeiro filme de Hollywood a tratar a propagação da AIDS. Lançado em 1989, o filme trazia para as telonas um tema bastante atual, além de difícil e bastante espinhoso de ser trabalhado. Assistido nos dias atuais, percebe-se que apesar do ritmo arrastado e do tom novelesco, o filme até que envelheceu bem na forma como lida com o tema. O maior trunfo do filme é driblar os estigmas que ainda eram bastante presentes na época, chegando até mesmo a citá-los mas de forma que ainda hoje conseguimos ver como uma crítica ao olhar limitado que o período possuía com relação à doença e sua proliferação entre homossexuais. A narrativa inicia em 1981, quando começam as primeiras notícias em torno da estranha doença que afeta o sistema imunológico de suas vítimas. No centro da trama está um grupo de amigos gays que precisará lidar com aquela ameaça desconhecida, com as perdas que se seguirão no grupo e os preconceitos gerados por ela. O roteiro de Craig Lucas estrutura a história com passagens de tempo que atravessam a década de 1980, revelando os rumos que as vidas dos amigos com o HIV pairando sobre eles. O mais interessante é que o roteiro consegue construir identidades para seus personagens para além do fato de serem homossexuais (algo que até hoje é uma dificuldade em produções de estúdio), eles possuem suas vidas estruturadas, profissões, relacionamentos que perduram, terminam e recomeçam. Além disso, consegue retratar o temor de perceber que um amigo está emagrecendo demais ou a ameaça de uma mancha que aparece na pele, além de marcas bastante comuns sobre o período em que sabiam pouca coisa sobre a doença, o que tornava o uso de objetos um cumprimentos algo visto como "perigoso" entre membros da comunidade, afinal, ainda era um mistério a forma omo a doença era transmitida. Obviamente que por ser feito nos anos 1980, a maioria do elenco é formada por atores héteros, rendendo até uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante para Bruce Davison na pele de David, que terá que lidar com a doença de seu parceiro. O longa também recebeu o prêmio do Júri no Festival de Sundance e ainda é visto como uma das obras mais importantes de seu período de lançamento. A temática do filme já foi explorada outras vezes, seja na estupenda minissérie Angels in America (2003) ou em filmes como E a Vida Continua (1993) e The Normal Heart (2014). Uma curiosidade é que o filme independente Buddies (1985) recebeu menos projeção em sua época de lançamento, mas oferece uma visão bem mais sombria sobre o período do que a oferecida em Meu Querido Companheiro, que peca um pouco pela forma um tanto formal com que lida com o drama dos personagens.
Meu Querido Companheiro (Longtime Companion / EUA - 1989) de Norman René com Bruce Davison, Campbell Scott, Dermot Mulroney, Mary Louise Parker, Patrick Cassidy, John Dossett e Michael Schoeffling. ☻☻☻
PL►Y: Não Fale o Mal
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McAvoy: aquele dia de imitar a cena de Jack Nicholson em O Iluminado. |
Sou daquelas pessoas que nunca entendem muito bem os motivos de Hollywood fazer um remake de um filme estrangeiro recente. Eu sei, argumentam que é mais seguro investir em uma trama que já provou funcionar na telona, também já ouvi aquele argumento de que os sobrinhos do Tio Sam odeiam legendas e, por conta disso, consideram um acerto maior ainda fazer a versão em inglês de um filme gringo. No entanto a refilmagem do dinamarquês Speak no Evil (2022) evidencia uma motivação até então pouco discutida em um remake made in USA: alterar o final. O longa europeu de Christian Tafdrup se consagrou em festivais e premiações por ser um dos suspenses mais perturbadores dos últimos anos, especialmente por conta do seu final aterrador e impregnado de simbologias. O final é tão angustiante que muita gente teve pesadelos com aquele desfecho por meses. Tafdrup dirigiu apenas três filmes em sua carreira (estreou com Pais/2016 e depois lançou Uma Mulher Terrível/2017 antes de ganhar reconhecimento mundial com a história do casal que vai visitar um outro casal recém conhecido e acaba se envolvendo em uma trama sinistra ao lado da filha. Ao longo de sua carreira, Tafdrup já deixou claro seu gosto pela provocação e o pulso firme na hora de construir desconforto na plateia. Já a versão americana caminha para o lado oposto. Saem todas as camadas presentes nas entrelinhas e escancara-se o que o filme preferia manter em segredo até que o espectador se percebesse tão sem saída quanto a família de visitantes. O diretor e roteirista James Watkins tem bem menos destreza do que Tafdrup na condução da trama, o que faz com que o longa perca não apenas a sutileza, mas também a atmosfera de tensão que era construída milimetricamente ao longo da narrativa, porém, o maior problema está no horrendo desfecho cheio de perseguições, sanguinolência e histeria. O remake reserva ainda algumas surpresas para os espectadores do original, algumas delas desnecessárias e até mesmo confusas para não soarem politicamente incorretas. Muito do interesse se deve aqui ao elenco, capitaneado pelo sempre eficiente James McAvoy, que vive o truculento Paddy, casado com Ciara (Aisling Franciosi) e pai de Ant (Dan Rough). O trio está em uma viagem pela Itália quando conhecem Ben (Scoot McNairy) e Louise (Mackenzie Davis), pais de Agnes (Alix West Lefler). As famílias se aproximam e gera um convite para uma visita posterior à casa de campo de Paddy. Porém, durante a tal visita, a convivência revela que a família anfitriã é bem menos agradável do que imaginavam e, mais do que isso, que guardam segredos arrepiantes. O remake mantêm várias cenas clássicas do filme original, mas que geram um impacto menor do que o esperado pelo tom exagerado impresso pela direção. O Speak no Evil original funcionava justamente por ser enxuto e manter aquele tom de mistério até mesmo após o desfecho. Do jeito que está, parece que a nova versão foi feita para reparar os danos psicológicos deixados pelo filme de 2022. Há quem goste, mas eu ainda prefiro todo o desconforto elaborado por Tafdrup que pode ser conferido em sua versão original no streaming da Reserva Imovision.
Não Fale o Mal (Speak no Evil/ EUA - 2024) de James Watkins com James McAvoy, Mackenzie Davis, Scoot McNairy, Aisling Franciosi, Alix West Lefler, Dan Hough e Kris Hitchen. ☻☻
sábado, 26 de julho de 2025
CATÁLOGO: Aquário
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Katie e Michael: desconforto em forma de filme. |
Mia (Katie Jarvis) mora com a mãe, Joanne (Kierston Wareing) e a irmã caçula, Tyler (Rebecca Griffiths) no subúrbio e passa a maior parte do tempo se metendo em encrencas com os moradores locais. Na primeiras cenas fica evidente que Mia não tem muito o que fazer para passar o tempo, ao mesmo tempo fica claro que ela não tem alguém que preste muita atenção no que ela está fazendo. Depois dos momentos iniciais em que a história ainda parece não ter sido encontrada, a adolescente conhece o novo namorado de sua mãe: Connor (Michael Fassbender). Connor começa a ser figura sempre presente na casa e se aproxima cada vez mais de Mia, por vezes tendo atitudes que fazem a plateia começar a duvidar de suas boas intenções junto daquela família. Carente por atenção, Mia deixa que Connor preencha cada vez mais as lacunas deixadas em sua vida emocional sem perceber o quanto ele pode se aproveitar de toda aquela situação de vulnerabilidade em que se encontra. Aquário (na verdade o Fish Tank do título original) faz alusão à uma das cenas que demonstra mais sobre a personalidade de Connor do que se imagina, já que ele ensina Mia a pegar um peixe com as mãos ao perceber exatamente a hora certa de agarrá-lo. Este é o segundo longa-metragem de Andrea Arnold e se tornou a obra mais marcante de sua carreira. A diretora inglesa que ganhou um Oscar pelo seu curta-metragem Wasp (2004) e gosta de voltar sua câmera para personagens em situações sociais complicadas, o que geralmente se molda muito bem ao seu estilo áspero de direção. Arnold filma como se fizesse um documentário sobre a vida de seus personagens, o que imprime bastante realismo e uma certa angústia em suas narrativas. Confesso que tenho dificuldades para lidar com sua forma de fazer cinema, mas sempre tive curiosidade em assistir Aquário por conta das críticas positivas que sempre ouvi em torno dele. Considero que este seja seu melhor trabalho, já que após o início um tanto caótico, o filme se concentra cada vez mais em uma dinâmica perigosa entre Mia e Connor, dois personagens plenamente valorizados por seus intérpretes desconhecidos até então. Difícil acreditar que este foi o primeiro trabalho de Katie Jarvis como atriz devido a profundidade que apresenta, especialmente na última e desoladora parte do filme. Já Michael Fassbender estava prestes a se tornar mundialmente reconhecido após sua participação em Bastardos Inglórios de Quentin Tarantino no mesmo ano. Aqui ele utiliza seu charme e talento habitual para construir um personagem execrável e tornar o filme ainda mais desconfortável para o espectador. Dolorido de assistir, o filme se desenvolve de forma hipnótica até que o drama ganha tons de suspense perto do desfecho. Aquário foi recentemente lembrado na lista do New York Times sobre os 100 melhores filmes do século XXI e merece ser descoberto.
Aquário (Fish Tank / Reino Unido - 2009) de Andrea Arnold com Katie Jarvis, Michael Fassbender, Kierston Wareing, Rebecca Griffiths, Harry Treadaway e Jason Maza. ☻☻☻☻
sexta-feira, 25 de julho de 2025
.Doc: A Movie About Movie Posters
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Mais do que cartazes de filme: objetos de culto. |
terça-feira, 22 de julho de 2025
4EVER: Ozzy Osbourne
John Michael Osbourne nasceu em Birmingham na Inglaterra. O quarto irmão de uma família trabalhadora de seis filhos. Ainda pequeno recebeu o apelido Ozzy na escola em que frequentava e foi diagnosticado com dislexia. Aos 16 anos acabou deixando a escola para trabalhar em pequenos empregos. A adolescência foi bastante turbulenta e o gosto pela música o fez fundar o Black Sabbath em 1968. A sonoridade pesada valeu o título de pioneiros do Heavy Metal. O primeiro álbum da banda foi lançado em 1970 e ao longo da carreira junto à banda lançou sucessos como Iron Man, Paranoid e Sabbath Bloody Sabbath. Em 1979, em meio a problemas com a banda (motivados pelo uso de drogas e álcool), Ozzy partiu para uma bem-sucedida carreira solo. Ao longo da vida artística, o cantor se envolveu com histórias lendárias como o dia em que mordeu um morcego no palco e questões ligadas ao seu envolvimento com as trevas (que lhe valeram até o apelido de "príncipe das trevas"). No século XXI sua popularidade foi renovada com o reality show Os Osbournes exibido pela MTV que apresentava a rotina fora da caixinha do músico ao lado de sua esposa Sharon e dos filhos Kelly e Jack. Nos últimos anos o artista vivia com a saúde debilitada e faleceu em decorrência do mal de Parkinson.
domingo, 20 de julho de 2025
4EVER: Preta Gil
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08 de agosto de 1974✰ 20 de julho de 2025 |
Preta Maria Gadelha Gil Moreira nasceu na cidade do Rio de Janeiro, filha do músico Gilberto Gil e da empresária Sandra Gadelha. Tendo como madrinha a diva Gal Costa, era quase inevitável que Preta Gil seguisse carreira artística. Seu primeiro trabalho como cantora foi lançado em 2003 que gerou muitos comentários por conta da capa em que exibia suas curvas sem pudores. Com grande desenvoltura diante das câmeras, Preta trabalhou como atriz na novela Agora que São Elas no mesmo ano de lançamento do seu primeiro CD e em 2004 começou a apresentar o programa Caixa Preta na Bandeirantes. Embora o programa fosse bastante divertido, não recebeu a atenção devida e durou pouco tempo. Durante a licença maternidade de Angélica, Preta assumiu a apresentação do quadro Video Game no Video Show. Preta Gil lançou quatro álbuns de estúdio e fez várias participações como atriz ou na pele dela mesma em programas de televisão. Em 2023 foi diagnosticada com câncer no intestino e desde então realizou vários tratamentos e procedimentos contra a doença. A artista faleceu em nova York enquanto tentava um tratamento experimental.
domingo, 13 de julho de 2025
§8^) Fac Simile: Nicholas Hoult
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Nicholas Caradoc Holt |
Nicholas Hoult nasceu em 1989 em Berkshire na Inglaterra e ainda que muita gente lembre dele como o Marcus de Um Grande Garoto (2002) ao lado de Hugh Grant, sua estreia aconteceu em um filme de 1996, quando tinha apenas seis anos de idade. Desde então, Hoult se tornou o tipo raro de ator infantil que consegue ter uma carreira depois de crescido e pode se dizer que tem um currículo respeitável, com uma versatilidade comprovada em filmes de diversos gêneros. Entre franquias milionárias e filme indicados ao Oscar, o ator agora vive o icônico vilão Lex Luthor no novo Superman e teve uma conversa de poucos minutos com nosso repórter imaginário - que gerou esta entrevista que nunca existiu.
§8^) É verdade que você queria o papel de Superman e te mandaram raspar a cabeça?
Nicholas Sim! É a mais pura verdade! Achei que era uma espécie de promessa... mas o James Gunn disse desde o início que escolheria do Superman com base na química dele com a atriz que fizesse a Lois Lane. Por conta disso eu perdi o papel do herói e me escolheram para ser Lex Luthor!
§8^) Você se inspirou em alguma pessoa conhecida da atualidade para construir seu personagem?
Nicholas Prefiro não citar nomes [risos]. Deixa baixo, deixa baixo... mas você percebe vários Lex Luthors por aí. Alguém tão consciente de sua inteligência e fortuna que esquece que existem outros valores importantes no mundo. Cultuar pessoas assim é um enorme risco para a humanidade.
§8^)Em uma cena de O Grande Garoto (2002) você dizia que se fosse bom de drama seria famoso como o garoto de O Sexto Sentido (1999), o tempo passou e as pessoas falam mais de você do que do Haley Joel Osment. Você se acha bom de drama no momento?
Nicholas Woooow! Acho que melhorei bastante [risos] O Haley estava no auge naquela época, foi indicado ao Oscar e teve outras performances incríveis, mas continuar a fazer sucesso tem mais relação com a forma como o público observa o crescimento dele do que o talento. Eu tive sorte que quando era pequeno não tive toda a projeção que ele teve, os holofotes chegaram aos poucos sobre a minha carreira, mas eu adoraria ter uma indicação ao Oscar no meu currículo.
§8^) Além do seu trabalho em O Grande Garoto quais os outros papéis que você considera que ajudaram a consolidar sua carreira junto ao público e a crítica.
Nicholas As pessoas lembram muito do meu trabalho na série Skins (2007-2008) que veio um tempo depois, mas eu considero meu papel em A Single Man (2010) do Tom Ford muito importante para uma espécie de renascimento de minha carreira no cinema. Ali as pessoas começaram a me olhar mais como um ator mais adulto, disposto a crescer e topar desafios. Depois, cada papel ajudou a me fazer subir de nível na carreira.
§8^) A fama e a carreira longa ajudaram a render à você o maior cachê de Superman...
Nicholas Sim! Isso me ajudou a construir o Lex Luthor também...
§8^) E a inveja por ter perdido o papel de Superman?
Nicholas Também! Ooops...
Na Tela: Superman
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David: Superman que dispensa apresentações. |
Quando assisti Pearl (2022) e vi aquele ator fazendo o projecionista, imaginei que ele ficaria perfeito para ser o novo Superman. James Gunn viu o mesmo filme e imaginou a mesma coisa ao escalar o ilustre desconhecido David Corenswet para encarnar o kryptoniano mais famoso do mundo. A escolha mostrou-se um grande acerto para um diretor que tem uma responsabilidade gigantesca nas mãos ao ser escolhido para criar a nova cara e estrutura dos personagens da DC Comics no cinema. Já que o Snyderverse deu mais dor de cabeça do que propriamente sucesso nas telas, Gunn (que dirigiu os três queridos filmes dos Guardiões da Galáxia para a Marvel e foi convidado para um teste ao reformular O Esquadrão Suicida) demonstra que quer distância de tudo o que fizeram antes, ou quase isso, já que o seu Superman não perde tempo explicando a origem do personagem. Ele entende que a cultura pop está tão entranhada entre os espectadores de filmes de heróis que não precisa explicar como o bebê kryptoniano veio parar na Terra e como cresceu no aconchego da fazenda dos Kent. Da mesma forma ele também não quer enganar a plateia de que a namorada de Clark Kent não sabe que ele é o Superman. A Lois Lane (vivida por Rachel Brosnahan) sabe que os dois são a mesma pessoa e se torna responsável por um verdadeiro embate entre os princípios do herói e questões geopolíticas que estão totalmente fora do radar do Homem de Aço - que tem como principal objetivo salvar vidas. O filme começa explicando que Superman acaba de sofrer sua primeira derrota para um ser misterioso e as coisas só pioram quando Lex Luthor (Nicholas Hoult) se empenha cada vez mais em ressaltar que o homem de cueca vermelha por cima do uniforme é um alienígena e, portanto, deveria ser visto mais como uma ameaça do que como um salvador. O fantasma das fake news e da Inteligência Artificial paira sobre isso, assim como a capacidade de personalidades megalomaníacas agregarem fãs e seguidores fiéis em tempos de internet - daí imaginar este efeitos nas relações políticas e diplomáticas é um verdadeiro pulo. Porém, apesar de utilizar estas nuances na trama, o filme de Gunn é bastante simples e com o maior clima de matinê. É verdade que Gunn baixa a bola de seu estilo inquieto e realiza um filme mais comportado e ingênuo, ainda que apresente cenas bastante violentas em alguns momentos (uma mistura que já se tornou marca do diretor). Enquanto idealizador do novo DCU, Gunn já demonstra não ter medo de apresentar seu personagem em mundo de fantasia já existente (e ainda bastante vinculado à nossa realidade), fala sobre os meta-humanos que existem há três séculos, insere na história outros super-heróis não tão populares dos quadrinhos: Guy Gardner (Nathan Fillion) que é o meu Lanterna-Verde favorito justamente por ser insuportável, Mulher-Gavião (Isabela Merced) e Sr. Incrível (Edi Gathegi), além do Homem Elemental (Anthony Carrigan), deixando os mais conhecidos (e desgastados) para projetos futuros. Apesar do elenco esforçado, das cenas de ação, da pancadaria e dos efeitos especiais caprichados, tive a impressão que o filme não quis mostrar demais sobre este novo universo, provavelmente por já ter um risco bastante elevado em suas costas. Também não posso deixar de citar a participação do Krypto, o pet de Superman que na verdade é de outra pessoa que tem uma participação especial no finalzinho. Por conta do cãozinho bagunceiro, tive a impressão ainda mais forte que se houvesse assistido o filme com o meu sobrinho, eu teria gostado ainda mais ao ver sua possível empolgação com o que temos na telona. As cenas iluminadas e o uso de cores que remetem à animação de 1996 deixam ainda mais clara (sem trocadilhos) a sensação que a era Snyder ficou para trás. Resta saber se o público comprará a ideia desta nova reformulação.
Superman (EUA - 2025) de James Gunn com David Corenswet, Rachel Brosnahan, Nicholas Holt, Nathan Fillion, Isabela Merced, Skyler Gisondo, Sara Sampaio, Anthony Carrigan, Frank Grillo, Wendell Pierce, Pruitt Taylor Vince, Neva Howell, Sean Gunn, Alan Tudyk e Bradley Cooper. ☻☻☻
sábado, 12 de julho de 2025
Pódio: Kyle MacLachlan
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Bronze: o acusado perplexo |
3º O Processo (1993) Kyle MacLachlan nasceu em Washington e não seria exagero dizer que se tornou o ator favorito do diretor David Lynch. No entanto, ele fez vários outros trabalhos (incluindo a voz do pai de DivertidaMente/2015 , o patrão de Os Flinstones/1994 e o empresário sacana de Showgirls/1995). Talvez seu trabalho mais elogiado fora do universo de Lynch seja esta personificação de Josef K. nesta segunda versão para o cinema do clássico livro de Franz Kafka. Produzido para a BBC e lançado nos cinemas brasileiros, Kyle consegue encarnar com bastante consistência o tom de paranoia do personagem que é julgado por um crime que ele não faz a mínima ideia do qual seja.
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Prata: o jovem apaixonado. |
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Ouro: o detetive instigado. |
CATÁLOGO: Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer
Shreryl e Kyle: os primórdios de Twin Peaks. |
Faz tempo que assisti Fire Walk With Me, ou como ficou conhecido no Brasil: Os Últimos Dias de Laura Palmer. Este é o sexto longa-metragem de David Lynch, lançado no ano seguinte após o cancelamento da cultuada série de televisão Twin Peaks (1989-1991), programa que revolucionou as minisséries televisivas ao inserir uma linguagem mais cinematográfica à uma estrutura novelesca temperada com mistério e surrealismo. A série (que está disponível na MUBI atualmente) marcou época e costuma ser mais lembrada pela sua era de ouro do que a pataquada de esquisitices que se tornou quando Lynch se afastou na produção para se dedicar à Coração Selvagem (1990), seu quinto longa e ganhador da Palma de Ouro em Cannes. Bastou Lynch se afastar para o programa se perder em um monte de bobagens sem sentido e jogar no lixo o seu principal fio condutor: quem matou Laura Palmer? Lynch até tentou salvar o programa nos últimos episódios, mas o martelo já estava batido e a série foi cancelada, até retornar em 2017 com mais dezoito episódios - que embora não tenha alcançado o apelo da série original, o resgate fez a glória dos fãs de Lynch. O título deste filme no Brasil rendeu uma grande decepção aos fãs da série, já que não explica detalhadamente o que houve com Laura Palmer (Sheryl Lee), mas quem é fã de Lynch já tinha entendido muito bem ao final da série o que tinha acontecido com a cobiçada jovem loura da pacata cidade que dá título à série. A série já deixava claro que debaixo de toda a paz da cidadezinha, havia algo de sórdido escondido entre seus habitantes e Laura, tinha uma vida secreta com parceiros sexuais variados, visita a inferninhos, investimento em fetiches e... todo este apetite pela autodestruição parece motivada por conta dos abusos vividos por Laura em sua própria casa. A situação de abuso parece relacionada à morte de outra personagem, Teresa Banks (Pamela Gidley), a amante de Leland Palmer (Ray Wise), o pai de Laura. Quando o filme começa, tudo gira em torno da morte de Teresa e a investigação realizada pelo agente Chester Desmond (Chris Isaak) e seu parceiro Sam Stanley (Kiefer Sutherland) e, logicamente, que Lynch não seguiria uma trama de investigação convencional, mudando o rumo antes da primeira hora de filme. Lynch reproduz aqui a atmosfera da série, com sua cadência lenta e contemplativa, seguindo Laura em seus encontros amorosos e situações de crise ao ser assombrada por Bob (Dana Ashbrook), um personagem misterioso que somente ela é capaz de ver. A maioria dos personagens importantes da série aparecem pouco e chama atenção a substituição de Lara Flynn Boyle por Moira Kelly no papel de Donna (dizem que a atriz já estava de saco cheio de lidar com sua personagem da série e queria novos rumos na carreira), a melhor amiga de Laura. Lynch recria a atmosfera da série e faz um ótimo contraste do tom de novela com a sordidez dos personagens e seus habituais momentos em que parece divagar em outra dimensão que está mais relacionada com os níveis de consciência do que com o multiverso. Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer não acrescenta muito ao universo da série (que rendeu várias outras produções e até um game para os fãs), mas ressalta que sobre aquele crime, Lynch não tinha mais muita coisa a dizer.
Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (Twin Peaks: Fire Walk with Me / EUA - 1992) de David Lynch com Sheryl Lee, Ray Wise, Chris Isaak, Kiefer Shutherland, Kyle MacLachlan, Moira Kelly, David Bowie, Mädchen Amick, Pamela Gidley, Heather Graham, Peggy Lipton, James Marshall, Eric DaRe e David Lynch. ☻☻
domingo, 6 de julho de 2025
PL►Y: Pecadores
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Jordan em dose dupla: mistura de gêneros. |
Alçado ao posto de melhor lançamento cinematográfico de 2025 até agora (e recentemente disponível no Max), Pecadores de Ryan Coogler já possui uma torcida forte para chegar nas premiações de fim de ano. Muito da empolgação em torno do filme se deve à trama inventiva que mistura diversos gêneros cinematográficos, algo cada vez mais raro em tempos em que sequências, reboots e remakes tomam conta dos lançamentos ao longo do ano. O filme conta a história dos irmãos gêmeos Fumaça e Fuligem (ambos vividos por Michael B. Jordan), que voltam para a terra natal afim de deixar o passado para trás. Lá eles reencontram alguns amigos que se juntam para transformar um celeiro abandonado em um bar de blues no Mississipi de 1932. O local ainda é marcado pela segregação racial e a ameaça da Ku Klux Klan ainda se faz presente. Junto aos dois irmãos está o jovem primo Sammie (Miles Caton) que se mostra um prodígio do blues. Se está parte sedimenta o filme como uma celebração da cultura negra local, o filme expande este contexto social para outras analogias sobre ancestralidade, memória, apropriação cultural e luta por identidade quando acrescenta elementos de terror com a chegada de um vampiro (Jack O'Connell) disposto a morder todo mundo que passar em sua frente. A dupla Coogler/Jordan realiza aqui mais um projeto bem sucedido e o faz com bastante estilo, deixando o filme com cara de filme de época com doses de musical e terror realmente arrepiante, sem parecer desengonçado ou forçado. A música tem papel importantíssimo no filme e lhe confere um atmosfera bastante particular, a fazendo despertar diferentes sensações, seja de sensualidade, horror ou religiosidade. A montagem bem executada, boa reconstituição de época e a fotografia soturna na medida certa, ajudam Pecadores a se destacar na safra cinematográfica do ano. Embora o nome de Jordan esteja no alto dos créditos o elenco de apoio mostra-se excepcional, com destaque para O'Conell, (a sempre excelente) Wunmi Mosaku e Hailee Steinfeld. Com seu passeio por diversos gêneros, Pecadores é um filme surpreendente, no melhor sentido que existe.
Pecadores (Sinners / EUA -2025) de Ryan Coogler com Michael B. Jordan, Miles Caton, Saul Williams, Jack O'Connell, Delroy Lindo, Wunmi Mosaku, Hailee Steinfeld e Buddy Guy. ☻☻☻☻
PL►Y: O Intruso
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Ray, Black e Kowal: Teorema erótico segundo Bruce La Bruce. |
Houve quem considerasse que o canadense Bruce LaBruce estava cada vez mais comportado após seu trabalho em São Narciso (2020). O diretor do grotesco LA Zombie (2010) já havia provado que era capaz de criar um filme mais contido e interessante com Gerontofilia (2013) e, ciente de que não precisa provar nada para ninguém, ele resolveu polemizar novamente com O Intruso, uma espécie de releitura pornográfica do clássico Teorema (1968) de Pasolini. O filme contava a história de uma família italiana rica que recebe a visita de um jovem estrangeiro, que seduz um a um os membros daquela família, até que decide partir e desequilibra de vez aquelas relações. O filme de Pasolini voltou a ser comentado quando identificaram suas claras referências no recente Saltburn (2023). Enquanto a maioria das pessoas identificavam no filme de Emerald Fennell as semelhanças com O Talentoso Ripley (1999), LaBruce deve ter imaginado que estava na hora de fazer um tributo mais explícito a um dos seus filmes favoritos. O Intruso carrega nas tintas tórridas do filme italiano e torna ainda mais explícito não apenas o que existe de sexual em suas entrelinhas, mas também seu vínculo com as relações de classe, trazendo para uma visão ainda mais atual com um mundo dividido com a situação dos imigrantes nos países desenvolvidos. No entanto, o diretor não se satisfaz apenas com isso e imprime frases de ordem libertárias sobre liberdade sexual e a fluidez das relações entre os gêneros (só para provocar ainda mais a direita conservadora). A trama conta a chegada do visitante (Bishop Black) que chega a um país dentro de uma mala e se instala na casa de uma família burguesa através do convite do criado (Luca Federici). Logo, ele seduz o filho (Kurtis Lincoln), a mãe (Amy Kingsmill), a filha (Ray Fillar) e o pai (Mackli Kowal) em cenas que não causariam estranhamento em um filme erótico da internet. Toques de militância, verniz politizado e discursos de liberdade sexual não conseguem disfarçar o gosto de LaBruce para desafiar o público com uma verdadeira orgia com toques surreais de ficção científica e comédia caricata. O sexo é explícito mesmo e algumas cenas devem causar estranhamento até no cinéfilo mais mente aberta que se deparar com o filme que se perde em meio a tantas provocações. No fim das contas, a impressão é que La Bruce nutriu várias fantasias em torno de Teorema e resolveu compartilhar com o público da forma mais desavergonhada possível.
O Intruso (The Visitor / Reino Unido - 2024) de Bruce La Bruce com Bishop Black, Mackli Kowal, Ray Fillar, Kurtis Licoln e Amy Kingsmill. ☻
sábado, 5 de julho de 2025
PL►Y: Saturday Night
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Elenco de milhões: o caos diante e atrás das câmeras. |
No próximo dia 11 de outubro o humorístico Saturday Night Live irá comemorar 50 anos de existência! Com tantas décadas em cartaz, o programa se tornou uma marca cultural da comédia dos Estados Unidos e revelou dezenas (ou já se pode dizer centenas?) de artistas ao longo de sua existência. Nomes como Chevy Chase, James Belushi, Maya Rudolph, Amy Poehler, Will Ferrell, Mike Myers, Molly Shannon, Adam Sandler, Dan Aykroyd, Jimmy Fallon, Tina Fey, Eddie Murphy, Bill Murray e Kristen Wiig alguns nomes que migraram o programa para as telas de cinema. Provavelmente o diretor Jason Reitman ouviu tantas histórias sobre o programa que ficou instigado em saber como toda essa história começou e, ao lado do roteirista Gil Kenan, resolveu contar como foram os noventa minutos que antecederam a primeira transmissão do programa. Se o SNL já transparece uma energia caótica até hoje, os bastidores da noite de estreia não são muito diferentes. O filme é uma colagem de vários personagens e situações que ajudaram a construir a identidade do programa, quem costura tudo isso é Lorne Michaels (Gabriel LaBelle), o idealizador do programa que corre de um lado para o outro no estúdio da NBC para fazer com que as coisas se organizem minimamente na estreia. Os roteiros não estão finalizados e uma censora faz questão de identificar qualquer frase que tenha duplo sentido. Os comediantes escolhidos para participar do programa oscilam entre as piadas engraçadas, as perigosas e disputas de ego inflado. Com tanta gente trabalhando contra o relógio, paira no ar a ameaça do programa ser cancelado antes mesmo da estreia pelos executivos do canal (capitaneados por Willem Dafoe). Sorte que Lorne tem seus cúmplices, a produtora Rosie Shuster (Rachel Sennott, ótima como sempre) e o dedicado Dick Ebersol (Cooper Hoffman) e, de vez em quando, os lampejos de genialidade de nomes como Chevy Chase (Cory Michael Smith, um desses atores que eu adoraria ver mais em filmes) e Andy Kauffman (Nicholas Braun) ajudam a bancar o projeto. Jason Reitman realiza aqui um dos seus melhores trabalhos e se arrisca muito ao abraçar a atmosfera caótica do programa. O cineasta bebe diretamente na fonte de Robert Altman e constrói um filme milimetricamente orquestrado por trás de toda a bagunça que se vê na tela. O elenco com dezenas de atores vivendo nomes conhecidos como Dan Aykroyd (Dylan O'Brien), Joh Belushi (Matt Wood), Billy Crystal (Nicholas Podany), deixa cada um com seu momento para brilhar - e em alguns momentos beiram o surreal. Durante o filme eu fiquei tenso, dei risadas e fui invadido por uma certa nostalgia de um tempo de ousadia criativa que não existe mais. Ignorado nas premiações e pelo público, o filme se tornou um fracasso de bilheteria rendendo menos da metade de seu orçamento. No entanto, Saturday Night consegue ser mais interessante do que muito filme que pairou no Oscar deste ano.
Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia (Saturday Night - EUA / 2024) de Jason Reitman com Gabriel LaBelle, Rachel Sennott, Cooper Hoffman, Willem Dafoe, Kaia Gerber, Kim Matula, Cory Michael Smith, J. K. Simons, Ella Hunt, Nicholas Braum, Dylan O'Brien, Matt Wood, Andrew Barth Feldman, Lamorne Morris, Emily Fairn e Finn Wolfhard. ☻☻☻☻
PL►Y: Better Man - A História de Robbie Williams
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Robbie: um chipanzé no mundo do entretenimento. |
Não tem jeito, as biopics de artistas famosos vieram para ficar. Se a grande maioria segue uma receita formulaica, poucas se aventuram a fazer algo diferente e sair do lugar comum. No cinema brasileiro o recente Homem com H (2025) de Esmir Filho enveredou pela sexualidade de seu biografado para fugir da cartilha sem sal da maioria, este Better Man fez por onde ser lembrado no Oscar de... efeitos especiais?! Pois é, ao contar a história do astro pop Robbie Williams, o filme chama a atenção por substituir o ator principal por um chipanzé feito através da captura de movimentos. A ideia maluca já vale o filme, muito pela competência com que o recurso é utilizado, além disso, o filme carrega nas tintas com a ironia (típica do artista) para representá-lo como um animal do circo do entretenimento da música pop. Quem interpreta o chipanzé é o ator Jonno Davies, mas as expressões foram capturadas do próprio rosto de Robbie, o que torna o resultado ainda mais autêntico. Fora este recurso, o filme segue a estrutura dos filmes do gênero, mostra a infância do personagem no subúrbio de Londres, as dificuldades no relacionamento com o pai, a chegada da fama quando foi selecionado para compor a boy band Take That e sua bem sucedida carreira solo. No entanto, quem viu a minissérie dedicada ao artista na Netflix já sabe como as coisas acontecem, especialmente quando Robbie se entrega aos vícios e enfrenta problemas em sua vida pessoal e tenta colocar a carreira novamente nos trilhos. Na verdade, este se revela o maior problema do filme, já que o fato da minissérie e do filme serem lançados com tanta proximidade (pouco mais de um ano de diferença), deixa uma sensação de falta de novidade. No entanto, o diretor Michael Gracey (de O Rei do Show/2017 estrelado por Hugh Jackman) confere bastante energia ao filme e compõe alguns momentos surpreendentes, como aquele em que o protagonista começa uma verdadeira guerra com seus fantasmas durante um concerto. Outro trunfo do filme é o próprio repertório de Robbie, que é um dos melhores astros pop que surgiram nos anos 1990 e que aqui recebem um tratamento diferenciado que dão corpo de musical fabuloso à produção. Falando nisso, Robbie não lança um álbum pop de inéditas desde 2016 (desde The Heavy Entertainment Show), agora que ele já exorcizou seus fantasmas, ele bem que poderia agradar os fãs com canções novas.
Better Man - A História de Robbie Williams (Better Man / Reino Unido - EUA - França - China - Austrália - França / 2024) de Michael Gracey com Robbie Williams, Jonno Davies, Steve Pemberton, Alison Steadman, Kate Mulvany, Frazer Hadfield e Damon Herriman. ☻☻☻
sexta-feira, 4 de julho de 2025
4EVER: Julian McMahon
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27 de julho de 1968✰ 02 de julho de 2025 |
Julian Dana William McMahon nasceu em Sydney na Austrália, sendo o segundo filho de Sir William McMahon, que mais tarde se tornou primeiro ministro e Lady Sonia McMahon, terapeuta ocupacional. Antes de tornar-se ator, Julian se graduou em Direito e Economia. No entanto, o trabalho formal engravatado não o agradou e ingressou na carreira de modelo, engatando uma carreira promissora que o fez percorrer o mundo. Ao final dos anos 1980 começou a participar de séries de TV, ganhando destaque em Profiler (1996-2000) e Charmed (2000-2005). O sucesso chegou como o doutor Christian Troy da (ótima) série Nip/Tuck (2003-2010) que lhe rendeu indicações e prêmios. O sucesso da série impulsionou sua carreira no cinema, tendo como papel mais importante o de Dr. Destino nos primeiros filmes do Quarteto Fantástico (2005 e 2007). Ele também atuou com Sandra Bullock no suspense Premonições (2007) e no sucesso RED - Aposentados e Perigosos (2010). Nos últimos anos ele voltou a atuar na televisão na série FBI (2019-2022) e recentemente se afastou da carreira para tratamento de um câncer que se tornou a causa de seu falecimento.
PL►Y: Cuckoo
Cuckoo apareceu em algumas listas de filmes de terror mais interessantes do ano passado, mas só recentemente ficou disponível no Brasil via streaming pelo Prime Video. Vi muita gente recomendando o filme e talvez por isso, minhas expectativas ficaram relativamente altas com a produção que termina mais confusa do que memorável. A ideia é mesmo interessante, já que bebe na fonte de uma das maiores curiosidades do pássaro que dá nome ao filme. O Cuckoo é famoso por seu estranho hábito de deixar seus ovos no ninho de um outro pássaro só para que seu filhote seja criado por outra família até que o filhote se torne independente. O filme escrito e dirigido pelo alemão Tilman Singer bebe nesta fonte para construir uma história intrigante, mas que não consegue se sustentar quando sucumbe a várias esquisitices, correndo sério risco de cair no ridículo. O longa conta a história de Gretchen (Hunter Schafer da série Euphoria), que devido a um incidente familiar, passa a viver aos cuidados do pai (Marton Csokas), junto à madrasta (Jessica Henwick) e a companhia da irmã caçula, Alma (Mila Lieu). O quarteto vai viver em um resort remoto e vazio nos alpes alemães que é administrado por um sujeito estranho, de simpatia forçada (Dan Stevens). Quando Gretchen começa a trabalhar na recepção do resort, ela começa a notar uma série de situações estranhas acontecendo com as hóspedes. Ela nem imagina que sua família está envolvida naquelas esquisitices há mais tempo do que pensava. Cuckoo começa bem, cheio de atmosfera e sugestões sobre o que pode estar acontecendo naquele lugar, mas aos poucos começa a investir em tantas vertentes do horror que se perde em suas maluquices. Existe toques de body horror, de folk horror, de terror psicológico, gore e a coisa poderia ser melhor se o diretor (que está em seu segundo longa-metragem) conseguisse manter um pouco mais o fio da meada. Hunter Schafer começa bem nos primeiros atos, mas conforme a trama se complica, sua personagem parece coadjuvante da própria história, perdendo muito do peso dramático que apresentava no início. É um caso de filme com ponto de partida interessante, mas que possui dificuldades para desenvolver as simbologias, que aos poucos se toram sandices, pelo meio do caminho.
Cuckoo (EUA - 2024) de Tilman Singer com Hunter Schafer, Jan Bluthart, Dan Stevens, Marton Csokas, Jessica Henwick, Mila Lieu e Greta Fernández. ☻☻
quinta-feira, 3 de julho de 2025
FILMED+: Cães de Aluguel
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Os homens coloridos: cuidado, cães raivosos. |
4EVER: Michael Madsen
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25 de setembro de 1957 ✰ 03 de julho de 2025 |
Filho de uma poetisa e um bombeiro, Michael Soren Madsen nasceu na cidade de Chicago. Antes de se tornar ator, Michael foi pintor residencial, mecânico e trabalhou em um hospital antes de se tornar ator antes de completar trinta anos. O ator também se dedicava a escrever poesias, tendo lançado livros e colhido elogios por seus trabalhos. Após realizar vários trabalhos para a televisão nos anos 1980, ele conquistou papéis em filmes importantes como The Doors (1991), Thelma & Louise (1991) e, finalmente, Cães de Aluguel (1992) em que vivia o assustador Mr. Blonde. O ator disse em entrevistas que teve problemas para lidar com o personagem, já que não gosta de violência. No entanto, o filme inaugurou sua parceria com Quentin Tarantino que o escalou posteriormente para atuar em Kill Bill (2003-2004) e Os Oito Odiados (2015). Madsen quase trabalhou em Bastardos Inglórios (2009), mas por estar envolvido em outros projetos, o papel acabou com Brad Pitt. Madsen atuou em mais de trezentos projetos e ainda que não tenha recebido prêmios importantes por seus trabalhos no cinema, seu trabalho como Mr. Blonde encontra-se em várias listas de maiores vilões do cinema. O ator faleceu em decorrência de um ataque cardíaco.