sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

KLÁSSIQO: Veludo Azul

Kyle e Isabella: quando sonho e pesadelo são universos em colisão.

 David Lynch tentava se recuperar do trauma que foi realizar a (primeira) versão cinematográfica de Duna (1984) para Dino de Laurentis após a aclamação por O Homem Elefante (1980). Se o seu segundo longa rendeu oito indicações ao Oscar, Duna só rendeu dores de cabeça e se tornou um filme (feito por encomenda) que o cineasta renega até hoje. Estava na hora de colocar novamente a carreira nos eixos e isso aconteceu com Veludo Azul, uma obra que se tornou um marco no estilo que o diretor adotaria dali em diante. Estão presentes as mudanças atmosféricas durante a narrativa, a mistura de sonho com pesadelos, além daquele jeitão que transpira um cinema clássico que está ali para ser virado do avesso. Desde o início, Lynch apresenta seus cenários como se fossem feitos de pura perfeição suburbana. Uma tranquilidade absoluta que é logo abalada com um personagem que é hospitalizado e, debaixo de toda aquela perfeição vemos um amontoado de besouros agitados digladiando. Este é o ponto de partida para a chegada de Jeffrey Beaumont (Kyle MacLahclan), um jovem  que volta para a terra natal para cuidar da loja do pai. Eis que de volta ao lugar tão familiar e confortável, Jeffrey encontra uma orelha humana no gramado! Intrigado com aquela situação, ele procura a polícia e acaba se envolvendo com Sandy (Laura Dern), filha do detetive de polícia. Embora seja doce e comportada, Sandy sabe mais do que o pai imagina sobre o caso e acaba favorecendo o encontro do curioso Jeffrey com a bela Dorothy Valens (Isabella Rossellini), cantora de uma casa noturna que sofre um drama familiar por conta dos bandidos que a perseguem. Isso é o suficiente para que Lynch faça dois universos completamente diferentes colidirem. Se Jeffrey e Laura parecem pertencer a um filme clássico tradicional de romance entre jovens estudantes (e a aparência do casal colabora muito para isso, basta ver como Kyle tem a estampa de um galã das antigas e como Laura transpira a ingenuidade de uma mocinha clássica do cinema, ideia ampliada ainda mais por sua primeira banhada de luz), por outro lado, Dorothy habita o submundo, repleto de crimes e violência, mas não importa o que ela faça, ela parece estar presa naquele universo como se estivesse enclausurada em um pesadelo. Vale a pena dizer que Isabella (namorada de Lynch na época) solta faíscas na tela desde a primeira cena em que canta a faixa título (Blue Velvet que foi regravada até pela Lana Del Rey e gerou um clipe cheio de referência ao universo Lynchiano) e recebeu o prêmio de melhor atriz no Independent Spirit Awards. Sua presença banha o filme com uma aura incomum de sensualidade e vulnerabilidade, o que se beneficia ainda mais com a química potente apresentada ao lado de Kyle MacLachlan (que depois do mico de protagonizar Duna se firmou ao longo do tempo como muso de Lynch, estrelando as temporadas de Twin Peaks e outros projetos do cineasta). Em contrapartida ao triângulo amoroso apresentado, o filme conta com Dennis Hopper encarnando o bizarro Frank Booth, responsável pelas maiores atrocidades d. Quase quarenta anos após seu lançamento, Veludo Azul ainda chama atenção pela forma fluente com que trafega entre os gêneros cinematográficos e como sua aura de mistério é milimetricamente construída entre a beleza e a estranheza. Não por acaso, Lynch foi indicado ao Oscar de Melhor direção pelo seu trabalho, única categoria em que o o filme foi celebrado pela academia. 

Veludo Azul (Blue Velvet /  EUA - 1986) de David Lynch com Kyle MacLachlan, Isabella Rossellini, Laura Dern, Dennis Hopper e Dean Stockwell. 

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