Shreryl e Kyle: os primórdios de Twin Peaks. |
Faz tempo que assisti Fire Walk With Me, ou como ficou conhecido no Brasil: Os Últimos Dias de Laura Palmer. Este é o sexto longa-metragem de David Lynch, lançado no ano seguinte após o cancelamento da cultuada série de televisão Twin Peaks (1989-1991), programa que revolucionou as minisséries televisivas ao inserir uma linguagem mais cinematográfica à uma estrutura novelesca temperada com mistério e surrealismo. A série (que está disponível na MUBI atualmente) marcou época e costuma ser mais lembrada pela sua era de ouro do que a pataquada de esquisitices que se tornou quando Lynch se afastou na produção para se dedicar à Coração Selvagem (1990), seu quinto longa e ganhador da Palma de Ouro em Cannes. Bastou Lynch se afastar para o programa se perder em um monte de bobagens sem sentido e jogar no lixo o seu principal fio condutor: quem matou Laura Palmer? Lynch até tentou salvar o programa nos últimos episódios, mas o martelo já estava batido e a série foi cancelada, até retornar em 2017 com mais dezoito episódios - que embora não tenha alcançado o apelo da série original, o resgate fez a glória dos fãs de Lynch. O título deste filme no Brasil rendeu uma grande decepção aos fãs da série, já que não explica detalhadamente o que houve com Laura Palmer (Sheryl Lee), mas quem é fã de Lynch já tinha entendido muito bem ao final da série o que tinha acontecido com a cobiçada jovem loura da pacata cidade que dá título à série. A série já deixava claro que debaixo de toda a paz da cidadezinha, havia algo de sórdido escondido entre seus habitantes e Laura, tinha uma vida secreta com parceiros sexuais variados, visita a inferninhos, investimento em fetiches e... todo este apetite pela autodestruição parece motivada por conta dos abusos vividos por Laura em sua própria casa. A situação de abuso parece relacionada à morte de outra personagem, Teresa Banks (Pamela Gidley), a amante de Leland Palmer (Ray Wise), o pai de Laura. Quando o filme começa, tudo gira em torno da morte de Teresa e a investigação realizada pelo agente Chester Desmond (Chris Isaak) e seu parceiro Sam Stanley (Kiefer Sutherland) e, logicamente, que Lynch não seguiria uma trama de investigação convencional, mudando o rumo antes da primeira hora de filme. Lynch reproduz aqui a atmosfera da série, com sua cadência lenta e contemplativa, seguindo Laura em seus encontros amorosos e situações de crise ao ser assombrada por Bob (Dana Ashbrook), um personagem misterioso que somente ela é capaz de ver. A maioria dos personagens importantes da série aparecem pouco e chama atenção a substituição de Lara Flynn Boyle por Moira Kelly no papel de Donna (dizem que a atriz já estava de saco cheio de lidar com sua personagem da série e queria novos rumos na carreira), a melhor amiga de Laura. Lynch recria a atmosfera da série e faz um ótimo contraste do tom de novela com a sordidez dos personagens e seus habituais momentos em que parece divagar em outra dimensão que está mais relacionada com os níveis de consciência do que com o multiverso. Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer não acrescenta muito ao universo da série (que rendeu várias outras produções e até um game para os fãs), mas ressalta que sobre aquele crime, Lynch não tinha mais muita coisa a dizer.
Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (Twin Peaks: Fire Walk with Me / EUA - 1992) de David Lynch com Sheryl Lee, Ray Wise, Chris Isaak, Kiefer Shutherland, Kyle MacLachlan, Moira Kelly, David Bowie, Mädchen Amick, Pamela Gidley, Heather Graham, Peggy Lipton, James Marshall, Eric DaRe e David Lynch. ☻☻
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