Direito de Amar: Firth contempla a morte.
O estilista tom Ford já trabalhou para Gucci e Yves Saint Laurent, mas desde 2006 tem sua própria marca - ainda mais famosa pelas campanhas publicitárias de forte apelo sexual. Ford resolveu imprimir sua marca no cinema em 2009, com este Single Man e surpreendeu muita gente já na primeira exibição do filme no Festival de Veneza - onde ganhou o prêmio de melhor ator para Colin Firth (que dali em diante foi indicado a todos os prêmios do cinema, ganhou alguns, como o BAFTA, mas no Oscar e Globo de Ouro teve de se contentar somente com indicações). O que mais me surpreende no filme é a atuação de Firth, o qual sempre considerei um tipo insosso, sem muita emoção, burocrático, mesmo que fosse o tipo que gosta de encarnar no cinema (Johny Depp é tipo maluquinho, Michael Cera é tipo nerd, Woddy Allen é tipo... Woody Allen) nunca me agradou muito. Aqui Firth tem atuação contida, mas que transborda sentimento em cada cena, um acréscimo perfeito para um filme elegante ao extremo que marca a estréia de Ford na direção. Firth é George Faulkner, um professor homossexual que amarga a perda de seu parceiro, Jim (Matthew Goode, que fez outro personagem afetado no mesmo ano em Watchmen - o cara vai sofrer para perder esse tipo...) em meados da década de 1960 e todos os preconceitos. O filme acompanha um dia na vida de George, o jeito como prepara sua casca para enfrentar os alunos, as espiadelas ao quintal vizinho, a promessa de jantar com uma amiga... tudo cortado por lembranças muito bem inseridas na narrativa. Poderiamos considerar que é só um dia comum na vida de George, mas tudo indica que ele irá se suicidar ao fim do dia (nesse ponto o filme me lembrou muito As Horas de Stephen Daldry). Em contraste com o vácuo deixado pelo parceiro, George terá algumas experiências que poderão fazê-lo mudar de ideia – as mais importantes são o jantar com a amiga Charly (Julianne Moore, belíssima como uma diva da década de 1960) e Kenny Potter (Nicholas Hoult - o crescido moleque de Um Grande Garoto). Ambos aparecem como promessas de um novo rumo de vida, mas ao mesmo tempo estão impregnados do passado. Moore tem o mérito de criar uma personagem complexa em dez minutos de tela (fato que lhe valeu uma indicação ao Globo de Ouro de coadjuvante) que ao mesmo tempo expressa amor e frustração pelo que Charly e George poderiam ter sido um para o outro, enquanto Hoult (foi indicado ao BAFTA de ator mais promissor pelo papel) abusa dos olhares que sugerem um interesse maior pelo seu professor, mas que ao mesmo tempo sinaliza características que lembram muito o jovem George. É impressionante o que Ford consegue fazer com uma trama tão intimista. O filme ainda utiliza um belo truque com a fotografia sempre que George se conecta com alguém – por exemplo, ao conhecer um rapaz de Madri, a coloração da cena quase transborda de vermelho (segundo o personagem a cor significa “raiva”, “desejo”... um paradoxo?) diante de um pôster gigantesco de Psicose (lembra muito Almodóvar, acredite). Ford apresenta um domínio cênico impressionante nos enquadramentos, no corte perfeito e nas atuações de uma trama que exala melancolia até o final irônico de um personagem que precisa de motivos para acreditar que o mundo ainda merece a sua presença. Baseado no livro mais aclamado de Christopher Isherwood (lançado por aqui com o nome de Um Homem Solitário, que é infinitamente mais seco e de personagem antipático) o pior do filme no Brasil é esse título de novela das seis, Direito de Amar, escolhido para enganar a mulherada desavisada.
Desejo de Amar (Single Man/EUA-2009) de Tom Ford com Colin Firth, Julianne Moore, Nicholas Hoult, Mathew Goode e Ginnifer Goodwin. ☻☻☻☻
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