Damon: jovem Ripley como manda o figurino.
Lançado em 1955, o livro O Talentoso Ripley se tornou a obra em que a escritora Patricia Highsmith nos apresentou seu personagem mais famoso: Tom Ripley. Tom é apresentado como um jovem pobre, mas ciente das oportunidades que atravessam seu caminho. É assim que ele aceita a oferta de um milionário para ir à Europa e trazer seu herdeiro de volta. Se no início, Tom é capaz de nos despertar alguma simpatia, aos poucos ele demonstra ser um dos personagens mais ardilosos e oportunistas que a literatura já concebeu. O romance se tornou um marco da literatura do século XX e gerou um personagem com fôlego para perpassar várias obras da escritora. Se Highsmith é adorada pelo cinema, obviamente que a obra recebeu uma versão para o cinema. O Sol por Testemunha trazia o belo Alain Delon na pele de Ripley e Maurice Ronet como o tal herdeiro milionário chamado, o Dickie Greenleaf. O filme se tornou um clássico, embora o cineasta francês René Clement traia a obra original com um final um tantinho moralista. Se há um princípio que Patricia sempre deixou claro sobre Ripley é que ele "sempre irá se safar". Que assim seja. Talvez seja esse o principal motivo para o britânico Anthony Minghella arriscar uma nova adaptação do aclamado romance. Minghella tinha um Oscar fresquinho na estante por O Paciente Inglês, que em 1997 havia levado para casa nove Oscars, incluindo melhor filme e direção. No entanto, Anthony tinha uma abordagem bastante diferente sobre Ripley. Lendo as entrelinhas do romance de Highsmith (e os outros quatro romances em que o personagem aparece, especialmente The Boy who Followed Ripley lançado em 1980), Minghella ressalta a homossexualidade do personagem e transforma sua relação com Dickie e todos os outros personagens muito mais interessante. Obviamente que a radicalização desse conceito provocou polêmicas, mas o cineasta não se esquivou e persistiu em entrevistas destacando que sua intenção foi sobrepor dois pontos que nutriam a sensação de exclusão de Tom: a pobreza e a homossexualidade. Longe de querer justificar as ações de um serial killer, a leitura de Minghella sobre o personagem lhe oferece nuances diferenciadas mesmo aos que estavam tão familiarizados com a personalidade do cultuado personagem. Para encarnar Ripley, o cineasta fez a ótima escolha de colocar Matt Damon (talvez no melhor trabalho de sua carreira), que começa exalando fragilidade e aos poucos se torna um ser realmente ameaçador. Levando em conta que o personagem seguiu sua trajetória em outros livros, fica a impressão que se torna um filme de origem que poderia ter rendido continuações se a bilheteria (infelizmente) não houvesse ficado abaixo da esperada. Damon está muito bem em cena, defendendo com perfeição as alternâncias do protagonista, melhor ainda que ele esteja acompanhado de um cintilante Jude Law (indicado ao Oscar de ator coadjuvante), que constrói um mimadamente sedutor Dickie Greenleaf - que se torna mais do que um amigo para Tom, mas um verdadeiro objeto de desejo pelo qual Ripley acredita valer a pena fazer qualquer coisa para tê-lo por perto, ou pelo menos até que tudo saia dos trilhos. Minghella tempera o filme com bastante suspense e toques de homoerotismo, sem perder de vista a importância de outros personagens na história, entre eles a noiva de Dickie, Marge (Gwyneth Paltrow), o insuportável amigo Freddie Milles (Philip Seymour Hoffman), além da dondoca Meredith Logue (Cate Blanchett) que tem papel fundamental em toda a confusão identitária que se segue na segunda metade do filme (afinal Ripley não apenas deseja Dickie, mas deseja ser ele, literalmente). Ao longo de toda a trama, Ripley irá demonstrar como é esperto o suficiente para manipular todos que estão ao seu redor, embora, ao final, deixe claro que manter suas mentiras exija cada vez mais sacrifícios. Com belíssima fotografia, cenários e figurinos caprichados, O Talentoso Ripley é um belo suspense, embora tenha um gosto mais amargo do que a plateia esperava. Se Minghella queria se consagrar novamente perante a Academia teve que se contentar com uma indicação ao Oscar de melhor roteiro adaptado. O filme ainda concorreu às estatuetas de figurino, direção de arte e trilha sonora e não ganhou nada. E daí? O que importa é que Patricia Highsmith teria adorado esta adaptação.
O Talentoso Ripley (The Talented Mr. Ripley/EUA-1999) de Anthony Minghella com Matt Damon, Jude Law, Gwyneth Paltrow, Cate Blanchett, Philip Seymour Hoffman, Jake Davenport, Philip Baker Hall, James Rebhorn, Sergio Rubini e Celia Weston. ☻☻☻☻☻
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