segunda-feira, 17 de março de 2025

PL►Y: Baby

João e Ricardo: relação tumultuada na noite paulistana.  

Ouso dizer que dois diretores prometem colocar de vez o cinema queer brasileiro no mapa das premiações. Um é o goiano Daniel Nolasco, responsável pelas tintas surrealistas que deram ares diferenciados para Vento Seco (), o outro é o mineiro Marcelo Caetano, que já havia chamado atenção com Corpo Elétrico (2017) e foi exibido no Festival de Cannes no ano passado com seu novo filme, Baby. O filme conta a história do jovem Wellington (João Pedro Mariano), que acaba de sair do Centro de Detenção de São Paulo após criar problemas em sua antiga escola. De volta à sua antiga rotina, o rapaz não sabe muito o que fazer perante a família que não o vê com bons olhos, além disso, sem emprego e sem grana, o rapaz corre o risco de dormir nas ruas. Resta os encontros com sua galera na cidade (e a câmera de Caetano capta muito bem essa energia urbana). Em uma noite, quando o grupo busca por alguma diversão, vão até um cinema pornô e lá o protagonista encontra Ronaldo (Ricardo Teodoro), que lhe oferece abrigo, mas também se tornará parceiro de trabalho. Este é o ponto de partida de uma relação que perpassa todo o filme, mas que caminha para além do desejo entre os dois, já que a dinâmica apresente cumplicidade e proteção, mas também envolve aspectos complicados como ciúme e exploração. Ainda que o filme não se esquive de apresentar cenas apimentadas da rotina dos personagens, Marcelo Caetano está mais contido na condução do que o filme teria de mais sexual, se em seu filme anterior já havia o interesse em abordar as emoções de seus personagens, aqui, ele consegue ser ainda mais profundo no relacionamento entre os personagens. João Pedro realiza um bom trabalho apresentando a vulnerabilidade do personagem perante um mundo que ainda mexe com suas feridas pessoais, enquanto Teodoro rouba a cena como um homem que se prostitui há tempos e parece bem resolvido com isso, no entanto, sua ligação com o jovem pupilo sempre é atravessada por questões que fogem do seu controle, especialmente quando o submundo ameaça o que resta de integridade nos dois. Pela sensibilidade (surpreendente) de sua interpretação, Ricardo Teodoro ganhou um prêmio de ator revelação em Cannes no ano passado. Embora muita gente vá ver o filme em busca de cenas tórridas, haverá uma grande surpresa em ver que a narrativa privilegia os sentimentos entre Wellington e Ronaldo em uma paisagem urbana que teima em acentuar  a solidão de seus habitantes. 

Baby (Brasil-2025) de Marcelo Caetano com João Pedro Mariano, Ricardo Teodoro, Ana Flavia Cavalcanti, Bruna Linzmeyer, Luiz Bertazzo, Marcelo Várzea, Patrick Coelho e Sylvia Prado. ☻☻

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