Fassbender e Diane: atuações vigorosas na guerra de Tarantino
Acho que vale a pena destacar o filme que colocou Michael Fassbender (o jovem Magneto de X-Men Primeira Classe) no mapa hollywoodiano e que de quebra é um dos melhores filmes do diretor Quentin Tarantino. Inglorious Basterds era um filme que eu mesmo acreditava que nunca seria feito. Desde que estourou mundialmente com a Palma de Ouro em Cannes por Pulp Fiction (1994) este era o filme que QT começava a preparar. Mais de uma década depois ele finalmente ficou pronto e, não por acaso, foi exibido pela primeira vez em Cannes. A crítica se dividiu entre elogios e críticas sobre a fantasia do diretor sobre o holocausto - não que fosse uma comédia como a realizada por Roberto Benigni em A Vida é Bela (1997, o qual eu detesto), mas por exibir uma leitura completamente original sobre as mazelas provocadas pelo nazismo na Europa. Depois de Cannes o filme voltou para a edição e o resultado estreou muitos meses depois. Em Basterds não há campos de concentração, mas a tensão anti-semita e o sentimento de vingança sobre o clima de guerra perpassa todas as cenas. Ajuda muito também o elenco espetacular que o diretor conseguiu reunir para contar a história insusitada de um grupo de soldados americanos com a missão de caçar nazistas e - se possível - matar Hitler. Só para se ter ideia, o nome no alto dos créditos é de Brad Pitt (como o caricato líder dos Bastardos - papel que seria de Michael Madsen), mas ele parece coadjuvante de atores europeus em atuações inesquecíveis. A começar pela francesa Mélanie Laurent que vive a heroína Shosana, a sobrevivente de uma família dizimada por nazistas em seu próprio lar e que tem a chance de se vingar do oficial mandante do massacre, o escorregadio Hans Landa (o austríaco Christoph Waltz que levou para casa todos os prêmios de coadjuvante naquele ano - e o de melhor ator em Cannes). Três anos após o massacre Shosana possui um cinema, que por um desses acasos do destino (leia-se roteiro), acaba sendo o espaço escolhido para marcar a premier de um filme alemão de divulgação nazista - estrelado por um herói de guerra que apaixona-se por ela (o alemão Daniel Brühl). Vale ressaltar que a premier irá contar com o alto escalão no Reich e seu plano tem tudo para dar certo. Paralelamente conhecemos o grupo de soldados americanos judeus com o mesmo sentimento de vingança, mas estes personagens são mais atrapalhados do que eficientes. Os planos de Shosana e dos Bastardos irão se cruzar por conta da atriz Bridget Von Hammersmark (Diane Krugger, que nunca apareceu tão bonita e tão boa atriz numa tela). Tarantino embaralha esses dois planos que convergem para uma mesma noite com muita eficiência e alguns cacoetes que poderiam ter perecido na ilha de edição (a cena de Eli Roth saindo da caverna com o taco de beisebol poderia ter ficado de fora, assim como a participação arrastada de Mike Miyers), mas QT apresenta-se em plena forma nas cenas mais difíceis. A cena inicial é de tirar o fôlego e faz Shosana ganhar nosso coração nos primeiros minutos, da mesma forma, a cena da discussão na taberna com (os atores alemães) Michael Fassbender, Til Schweiger e Diane Krugger é espetacular sendo um dos melhores momentos do cinema tarantiniano. Mas nada se compara ao ápice da narrativa: a execução do plano de Shosana. O diretor alcança a perfeição na execução e na tensão que cresce na plateia. No fim das contas, mais do que a pergunta de que se vale a pena combater o mal utilizando as mesmas armas que ele, fica a impressão que Tarantino queria experimentar uma temática (o holocausto) dentro de duas linguagens diferentes. Bastardos busca o equilíbrio de uma narrativa americana (do espetáculo) e a européia (a intimista) e não precisa nem dizer que durante a sessão a parte europeia ganha de lavada. Quando a sessão termina o diretor declara que está diante de sua obra-prima. Não sei se é correto, mas com certeza, Bastardos Inglórios está entre os melhores filmes do diretor, sendo que trouxe de volta o Tarantino que sabe digerir diversas referências e construir uma obra original e que exala ousadia em seu texto e formato. Pelo caminho da ficção, Tarantino reescreve a história mundial - não por acaso num cenário de cinema - e talvez por isso considere que depois desta obra, a temática da Segunda Guerra Mundial não fará mais sentido. Será?
Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds/EUA-Alemanha - 2009) com Brad Pitt, Mélanie Laurent, Diane Krugger, Michael Fassbender, Til Schweiger, Eli Roth e Daniel Brühl. ☻☻☻☻
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