Charlize: sofrendo por um espelho cego.
Dá até para imaginar os produtores tramando: "Vamos adaptar Branca de Neve para um público mais juvenil" "Ah, eu também tive essa ideia! E agora?" "Simples, eu faço uma versão para meninas com Julia Roberts e você faz uma versão para meninos", assim nasceram, respectivamente "Espelho, Espelho Meu" e "Branca de Neve e o Caçador". Se o primeiro é leve, bem humorado, com ares de comédia romântica e figurino colorido, o outro é sombrio, repleto de violência e com figurino gótico. Em ambos o destaque é a performance da madrasta, sendo que Roberts opta por uma rainha malévola cool enquanto Charlize Theron aposta alto para se tornar uma das vilãs mais sombrias de 2012. No embate é Charlize que honra um dos maiores ícones vilanescos do cinema. Sem falar que a loura tem talento de sobra para compensar a sonolência de Kirsten Stewart que se beneficia mais da montagem do filme do que dos parcos talentos dramáticos que corre em suas veias. O conto dos irmãos Grimm recebe uma versão épica, voltada especialmente para aqueles que curtem cenas de ação mirabolantes temperada com doses de fantasia. A história começa de forma clássica, mas a coisa já muda no início quando um rei admirado por todos encontra uma prisioneira de um exército inimigo. Ela é Ravenna (Theron), que não mede esforços para reinar sozinha. Para garantir seu poder irrestrito ela mata o rei e prende a sua enteada Branca de Neve (Kristen Stewart), que cresceu com vontade de vingar o legado de seu pai. Quando o espelho mágico diz para a bruxa madrasta que Branca de Neve irá tomar o seu lugar, Ravena decida matá-la. Branca acaba fugindo do castelo e se refugiando na estranha Floresta Negra e a madrasta precisa contratar os serviços de um homem que sobreviveu à estranha floresta. O caçador Eric (Chris "Thor" Hemsworth) aceita a empreitada meio a contragosto sob a promessa de ter sua esposa ressuscitada pela rainha - que é chegada à uma magia negra. Não precisa pensar muito para perceber que ele se meteu numa grande furada e acaba se aliando à sua caça. O interessante é como o filme arruma soluções para encaixar referências à história original, como o momento em que os sete anões aparecem na trama (desta vez interpretados por atores como Bob Hoskins e Ray Winstone diminuídos por efeitos de computador) como ladrões e o anúncio shakesperiano (que parece chupado de Macbeth) de que Branca de Neve é a mais bela do mundo não apenas por sua aparência mas pela inocência, caráter e força - sendo a única a poder destronar a rainha. Com visual caprichado e cenas de ação bem produzidas, o filme recebeu mais elogios e atenção do público do que a versão cômica da clássica história. As comparações são inevitáveis, mas não é novidade que a violência sempre leva mais pessoas ao cinema, mas é fato que este filme é mais bem cuidado e fluente que o Espelho Espelho Meu de Tarsen Singh. A verdade é que sempre que Theron está em cena, o filme sobe vários (de)graus no interesse da plateia e mostra que Kirsten Stewart está longe de ser o talento que Hollywood espera que ela seja (ela bem que poderia gastar algumas milhas num bom curso de interpretação). Quanto à Chris Hemsworth ele faz o trabalho direitinho, mas em alguns momentos ele fica claramente sobrando na história - esse é o preço de se transformar um personagem pequeno em protagonista. O estreante Rupert Sanders mostra-se um diretor eficiente e seria uma pena ele ser mais lembrado como o homem que terminou o namoro de Kristen com Robert Pattinson. Ao final da sessão o que fica é o enigma da beleza de Charlize que está cada vez mais linda - embora seu espelho no filme seja claramente cego.
Branca de Neve e o Caçador (Snow Shite And the Huntsman/EUA-2012) de Rupert Sanders com Charlize Theron, Kristen Stewart, Chris Hemsworth, Sam Claflin, Bob Hoskins, Ian McShane, Ray Winstone e Toby Jones. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário