Green, Rapace e Fassbender: A humanidade como efeito colateral.
Prometheus foi um dos mais filmes mais aguardados do ano e fiquei muito aborrecido por não conseguir assistí-lo no cinema. Quando tive tempo, o filme era exibido num horário inviável. Mas ainda bem que Deus inventou o DVD e o filme já pode ser visto quantas vezes eu quiser! Isso serve de dica para aqueles que vão ficar com alguns questionamento em mente quando o filme acabar - e ao contrário do que muitos pensam isso não é algo ruim, mas algo extremamente bom que mantém o filme vivo em nossas mentes por um longo tempo. O retorno de Ridley Scott à ficção científica resultou num de seus melhores trabalhos em muito tempo, vale lembrar que Ridley tem no currículo o clássico Blade Runner/1982 e Alien - O 8º Passageiro/1979 que inaugurou uma nova forma de ficção científica mesclada ao terror e, do qual, Prometheus é uma prequência - contando a história antes da saga da Tenente Ripley (Sigourney Weaver). O roteiro de Prometheus tem tantas camadas que quando assistimos temos a grata sensação de que a história sempre esteve ali, mas precisava de uma voz competente para contá-la - e o melhor é que o filme não decepciona tanto no quesito de adicionar novas simbologias da franquia Alien quanto criar cenas de ação que os espectadores de hoje tanto prezam. Houve quem criticasse o filme por não oferecer respostas para as questões que apresenta, mas se apresentasse repostas elas provavelmente seriam erradas e limitadoras à leitura do espectador, acho que quem afirma esse tipo de coisa não entendeu aquela cena inicial que já responde a pergunta principal da protagonista antes mesmo que ela a construa. No início de Alien - O 8ºPassageiro ouvimos um pouco da história da nave Prometheus, uma expedição que acabou na morte de quase toda a sua tripulação. O filme conta a história dessa expedição espacial, que foi motivada por dois cientistas Elizabeth Shaw (a sueca Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) que descobrem em uma caverna o que poderia ser um convite para a humanidade conhecer o seu criador. Interessado na ideia, o misterioso dono da Weyland Corporation (vivido por um Guy Pearce envelhecido após participar de uma campanha viral de divulgação do filme) banca uma expedição até uma lua distante com uma estranha caverna com ar semelhante ao da Terra. Para lá Shaw e Holloway lideram um grupo de pesquisadores que irão procurar pistas sobre o criador da humanidade e irão se deparar com situações estranhas que apontam para experiências que podem exterminar a própria vida na Terra. Como dá para perceber, ambição é o que não falta ao texto que busca responder a origem da humanidade enquanto caminha para o lado oposto. Ridley Scott não é bobo e sabe que para dar conta de uma história dessas precisa de um elenco vigoroso para não deixar tudo descambar para o suspense barato, por isso escolheu Noomi para ser uma autêntica herdeira de Ripley na franquia - e a moça, que até então não me convencia, alcança a melhor atuação de sua carreira. Além dela, o filme conta com Charlize Theron numa participação especial que vive nos cantos envolta de mistério, além de Michael Fassbender em outra excelente atuação na pele de David. Acho que o personagem dele é o mais rico da trama, um andróide (figura sempre presente na franquia Alien) que tem referências explícitas que vão de Peter O'Toole de Lawrence de Arábia/1962 aos replicantes enigmáticos de Blade Runner e o robô vilão HAL de 2001 - Uma Odisséia no Espaço (1968). Além de referências cinematográficas o filme ainda tem um embasamento filosófico que o diferencia de todos os outros do gênero. Prestando atenção você poderá encontrar Assim Falou Zaratrusta de Nietszche e especialmente Eram os Deuses Astronautas? de Erich Von Daniken, isso sem falar no próprio mito grego de Prometeu que roubou o fogo dos deuses e foi condenado ao sacrifício eterno (ou seja, é a história de desafiar o criador e suas consequências, parece moralista mas é mais científico do que parece). Difícil imaginar outro filme que conseguisse contar essa história com tanta segurança e ainda servir de ponto de partida para um universo cinematográfico consagrado há mais de três décadas. Acima de tudo, Prometheus parece querer colocar a franquia Alien de volta aos trilhos depois de um quarto episódio que deixou a desejar e dois filmes que quase estragaram a mitologia de série nos confrontos do monstrengo com Predador (numa das misturas mais indigestas que Hollywood já cometeu). A bilheteria de três vezes o seu orçamento ao redor do mundo provou que as ideias lançadas por Scott tem fôlego para uma nova saga espacial e se uma sequência chegar à metade da eficiência apresentada neste filme eu já ficarei satisfeito.
David: referências filosóficas e cinéfilas.
Prometheus (EUA-Reino Unido/2012) de Ridley Scott com Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron, Logan Marshall-Green, Idris Elba, Guy Pearce, Sean Harris e Patrick Wilson. ☻☻☻☻☻
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