Macu e Jaiminho: amigos até a última cena.
Acho que nenhum filme escolhido pelo Ministério da Cultura a concorrer a uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro gerou tanta polêmica quanto o filme biográfico do ex-presidente Lula. Um dos motivos para reclamarem era que o Brasil contava com uma boa safra de filmes naquele ano e um dos mais elogiados foi esse Bróder a que só assisti recentemente. O filme de Jeferson De tem algumas virtudes, mas perde força por investir em alguns lugares comuns que acabam tornando a história dos três amigos de infância moradores de uma favela paulistana menos interessante do que deveria ser. As primeiras cenas com o personagem Macu (Caio Blat) são bastante interessantes pela proposta de mostrá-lo no escuro numa conversa tensa no celular para depois revelá-lo aos poucos. As boas ideias continuam quando o mostram andando pela favela num plano sequência que revela mais do que a maior parte das cenas do filme. Enquanto apresenta seus personagens o filme prende o interesse, seja na tensão de saber que aquele rapaz gente boa está metido numa encrenca, seja pela visita do astro de futebol Jaiminho (Jonathan Haagensen) que aguarda sua convocação para a seleção enquanto visita a madrinha (Cássia Kiss) na comunidade em que cresceu ou nos conflitos do certinho Pibe (Silvio Guindane) que casou com a ex-namorada de Macu e foi embora daquela realidade. Existem outros personagens interessantes na trama, especialmente o núcleo familiar de Macu, mas o filme faz questão de mostrar que aquele dia comum onde se comemora o aniversário do protagonista com uma feijoada tenta abafar uma violência que se anuncia cada vez mais. É a opção de mostrar que mesmo no dia mais comum a violência pode aparecer e estragar tudo que Jeferson De arrasta cenas como o do jogo de sinuca, o almoço, a pelada no campinho de futebol, o passeio de carrão pela cidade ao som de Racionais enquanto descobrimos o plano em que o protagonista se meteu e carregou junto os seus amigos. Embora o filme tenha bons momentos, as partes em que tenta captar o cotidiano da vida na comunidade podem cansar. Podem até parecer autênticas, mas esse tipo de cena não me impressionam como narrativa, pelo contrário, faz tudo parecer mais do mesmo, mais um favela movie. A diferença é que Jeferson De prefere abafar a violência até a cena final onde o protagonista deve fazer a escolha mais difícil de sua vida. Até lá, ele embaralha os caminhos do trio de amigos num roteiro que precisa mostrá-los como pessoas comuns e reais. Quando para de reproduzir cenas "realistas" e resolve construir "cenas de cinema" (como o belo diálogo de Cássia Kiss com a filha que descobre-se grávida) o filme acerta em cheio, pena que nem sempre isso acontece. Bróder está longe de ser uma obra-prima, mas se beneficia da vontade de ser menos sensacionalista que a maioria dos filmes que compartilham a vida na favela com ele.
Bróder (Brasil/2009) de Jeferson De com Caio Blat, Jonathan Haagensen, Silvio Guindane, Cássia Kiss, Aílton Graça e Zezé Motta. ☻☻☻
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