quarta-feira, 10 de outubro de 2012

CATÁLOGO: Viagem à Darjeeling


Os manos em Darjeeling: road movie familiar. 

Que tipo de diretor coloca seu ator favorito correndo atrás de um trem somente para perdê-lo e não participar do filme? O tipo Wes Anderson. Essa é a primeira piada auto-referencial que aparece em Viagem à Darjeeling, o quinto longa metragem do cineasta. Além do estilo próprio, o diretor ainda tem uma série de manias que os críticos sempre reparam. Um deles é a fixação com a figura paterna, que aqui ele parece deixar de lado para explorar mais a relação de três irmãos em busca da mãe que resolveu ser missionária na Índia. Mera ilusão, já que um dos motivos para procurarem a progenitora é encontrar uma justificativa para ela não ter aparecido no funeral do marido - isso sem falar que no caminho sempre retomam a velha temática de quem era o filho favorito. Lançado depois do criticado A Vida Marinha com Steve Sizou (2004), Darjeeling foi elogiado pela crítica, embora esteja longe de ser o melhor momento do cineasta. Embora tenha alguns momentos divertidos e interessantes, existem tantos outros em que o diretor parece perdido em ditar os rumos de seus personagens - que são apresentados com tanta empatia que até perdoamos esse deslize. Francis (Owen Wilson) sofreu um acidente e considera que o fato de ter sobrevivido foi uma espécie de oportunidade para melhorar seu relacionamento familiar. Em busca de uma espiritualidade que até então desconhecia, convida seus dois irmãos, Jack (Jason Schwartzman) e Peter (Adrien Brody) para uma viagem pela Índia. A jornada em busca de crescimento espiritual serve mesmo é para que se aproximem e compartilhem suas intimidades. É assim que Francis descobre que Peter tenta lidar com o fantasma da paternidade mesmo distante da esposa grávida e com o fato de Jack não conseguir lidar com o fim de seu namoro (conferindo sempre os recados da secretária eletrônica de sua ex). Obviamente que a Índia mostrada por Wes Anderson é mais fantasiosa do que realista, de forma que o primeiro terço do filme passa quase que exclusivamente de um trem colorido que atravessa paisagens áridas, nele os três irmãos se metem em confusões até serem expulsos. Depois quando a fraternidade está em frangalhos acabam se envolvendo no resgate de três meninos vítimas de um acidente e revivem um momento crucial de suas vidas. Depois entram em contato com um rito fúnebre num vilarejo até que se reencontrem com a mãe (Anjelica Huston) que está mais preocupada com um tigre que assombra a região do que em afagar os herdeiros.  Sei que para a maioria da humanidade o humor de Wes Anderson é no máximo esquisito, mas é interessante a forma como explora a personalidade de seus personagens, especialmente de Francis, que mesmo com as melhores intenções mostra-se um grande chato, impondo aos irmãos as condições que considera as ideais para que possam ser mais próximos. Entre os diálogos podemos perceber pérolas como "Se não fossemos irmãos, será que seríamos amigos?" ou "Será que ela [a mãe] quer nos ver?" que evidenciam que debaixo de todo estilo e cores impressas por Anderson podemos perceber mais uma alegoria sobre as relações familiares que tanto lhe fascinam. Embora não esteja entre os meus filmes favoritos de Wes, o cuidado com a trilha sonora (sempre impecável), figurinos e direção de arte trazem a marca identitária do diretor, mas, devo admitir, que aquela sequência final onde a vida de todos os personagens são apresentadas em vagões de trem é simplesmente genial - e supera qualquer irregularidade na narrativa. Na tela e em DVD o filme contou com a exibição prévia do curta Hotel Chevalier que é uma espécie de epílogo para a trama de Darjeeling - e que causou grande repercussão por contar com a participação de Natalie Portman sem roupa e cheia de hematomas. Provando que tem um fã clube devotado, o filme rendeu o dobro de seu custo na arrecadação mundial nas bilheterias.

Viagem à Darjeeling (The Darjeeling Limited/EUA-2007) de Wes Anderson com Owen Wilson, Jason Schwartzman, Adrien Brody, Anjelica Huston, Bill Murray, Amara Karan e Natalie Portman. ☻☻☻

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