Miguel: perdido num condomínio que confunde justiça com vingança.
Conhece aquela frase do escritor Walter Lippman: "Quando todos pensam a mesma coisa é porque ninguém está pensando", existem vários filmes sobre isso, especialmente com um grupo de pessoas que passa a viver numa comunidade com regras próprias. Geralmente são filmes que mostram que a coisa costuma não caminhar para o bom caminho, assim vimos A Vila (2004), Dogville (2003), Manderlay (2005) e até A Praia (2000). Cada um funcionava dentro de uma simbologia sócio-política, mas veio do México o filme que escancara as relações sugeridas nos filmes citados com a ordem mundial que acabou recebendo o prêmio internacional da crítica no Festival de Toronto/2007. Zona do Crime é ambientado quase que totalmente num condomínio fechado chamado La Zona, nele os moradores sentem-se seguros com as câmeras e a ação dos seguranças. Eis que um dia, um acidente acaba promovendo a entrada de três delinquentes naquele condomínio. Os três invadem uma casa e depois de ficar na escuridão, ouvimos tiros e depois contam quatro cadáveres: a senhora que teve a casa invadida, dois dos invasores adolescentes e um segurança. Preocupados com o fato, os moradores estabelecem uma espécie de pacto para que resolvam a situação mantendo a imprensa e a polícia fora do ocorrido. Além disso, todos querem encontrar o terceiro rapaz que invadiu o condomínio e que ainda se encontra escondido entre as residências do local. O roteiro assinado por Laura Santullo e o diretor Rodrigo Plá (que concorreu ao prêmio Goya de melhor roteiro) consegue ser assustador mantendo a tensão sempre crescente entre os moradores, de forma que qualquer comportamento divergente sofre represálias - como o morador que chamou a polícia e tem sua linha telefônica cortada. Da mesma forma é impossível não se incomodar com um grupo de pessoas estabelecendo leis próprias que proíbem até uma viúva de ver o corpo do marido segurança morto ou de fornecer informações à polícia. Ainda aparecem na trama os adolescentes que se divertem com a possibilidade de encontrar o invasor foragido e fazer "justiça com as próprias mãos". O filme explicita bem como a lógica da maioria é capaz de borrar as fronteiras entre justiça e vingança, por isso o filme fica melhor quando mostra os moradores com um pouquinho mais de consciência se enfraquecendo perante a truculência dos vizinhos e, especialmente, quando o jovem Alejandro (Daniel Tovar) passa a ajudar o jovem de 16 anos, chamado Miguel (Alan Chávez), que deu o azar de acompanhar os dois amigos naquela infração. La Zona mostra-se uma prisão sem saída para o adolescente e sua única chance de escapar depende da honestidade de um policial que percebe que existe algo de muito estranho nos moradores daquele condomínio. O maior pecado de Daniel Plá está no determinismo de sua trama, parece que todas aquelas falas dos moradores mais intolerantes ganham força conforme o filme caminha para o final e tudo se torna previsível quando chega ao último ato. A revolta do espectador é certa, mas ela pode perder fôlego com os toques melodramáticos que tomam conta do roteiro quando o mal já está feito. O mais interessante do filme não está nas denúncias mais óbvias que exercita (como as falas sobre corrupção policial), mas na forma simétrica como apresenta os moradores bem de vida do condomínio não percebendo a semelhança com aqueles três delinquentes. "Eles controem a própria cidade e querem ter leis próprias também", diz um morador do condomínio - o irônico é que ele se refere aos moradores da favela que fica ao lado de La Zona e não aos próprios vizinhos.
Zona do Crime (La Zona/Espanha-México/2007) de Rodrigo Plá com Daniel Giménez Cacho, Daniel Tovar, Maribel Verdú, Mario Zaragoza, Blanca Guerra e Andrés Montiel. ☻☻☻
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