Lily e Armie: conto de fada repaginado.
Depois de investir em adaptações de games e histórias e quadrinhos, Hollywood tenta tornar rentável as versões modernas dos contos de fadas. Neste ano duas produções resolveram atacar se inspirar no clássico Branca de Neve dos irmãos Grimm, um enveredou pelo campo da aventura (Branca de Neve e o Caçador), o outro preferiu seguir pelo caminho da comédia amalucada. Este Espelho, Espelho Meu investe num humor claramente voltada para crianças um pouco mais crescidas e deixa várias referências à história original que conferem algum charme ao longa metragem do indiano Tarsem Singh. Tarsem já é famoso pela plasticidade de seus filmes, mas é constantemente criticado pela habilidade meio capenga em contar uma história. Aqui, como a essência da história é conhecida por todos, ele se sai melhor do que em seus outros trabalhos Made in Hollywood. Por conta da direção de arte e figurinos espalhafatosos, alguns exagerados chegam à chamá-lo de novo Tim Burton, mas por enquanto à marca de sua assinatura continua mais presa ao visual do que ao filme como um todo. O filme ganhou grande notoriedade desde que Julia Roberts topou fazer o papel da bruxa madrasta que trama contra a herdeira do trono de um reino onde as pessoas viviam cantando e dançando, mas agora vive um tempo de miséria - por conta de uma rainha que aumenta impostos para bancar festas. Além de ser a rainha de um reino falido, Julia investe aqui mais uma vez em uma atuação cool, cheia de piadinhas que podem ser vistas como referências às sua própria figura pública - afinal, ninguém colocaria a Linda Mulher (1990) de frente para um espelho perguntando se existe alguém mais bela do que ela por acaso. No filme, o motivo da Rainha querer se livrar de Branca de Neve (a filha de Phil Collins, Lily Collins) é que ela está de olho num príncipe (o cara de príncipe Armie Hammer) que anda visitando o reino depois de ser assaltado por um bando de anões. A história parece ler nas entrelinhas da história original de forma até coerente e engraçada - ao ponto de colocar Branca de Neve e os anões como uma espécie de Robin Hood das redondezas. Pode-se dizer que Lily (que chegou a dar entrevistas dizendo que não queria ser uma estrela de Hollywood, então querida... lamento informar, que está no caminho errado) cumpre bem o seu papel de fazer a heroína romântica um pouquinho mais destemida que o habitual - e sorte que seu parceiro Armie Hammer não tem pudores em parecer ridículo como nas cenas em que imita um cachorro apaixonado. No entanto, quem rouba a cena é Julia Roberts como uma rainha malévola, divertida e cheia de charme. Sem ela, provavelmente o visual espalhafatoso do filme não lhe garantiria o sucesso de bilheteria (rendeu o dobro do custo em arrecadação mundial, o que é muito num ano de colapso na arrecadação). Os figurinos são uma atração a parte (Julia chegou a dizer que algumas roupas eram tão pesadas que era impossível se mover), com destaque para uma rainha de séculos atrás com detalhes cortados a laser (sem falar nas roupas de baixo que parecem desenhadas por Jean Paul Gaultier). Tanta ousadia visual é cortesia de Eiko Ishioka (que chegou a trabalhar com Alexander McQueen) que deve concorrer a alguns prêmios de figurino na temporada de ouro. Outro aspecto interessante do filme é a forma como atribui novas identidades aos sete anões e a estratégia de usar pernas de pau camufladas por calças sanfonadas - gerando um efeito mais que interessante. Enquanto versão modernizada de um clássico a maior ambição do filme é alcançada: divertir.
Espelho, Espelho Meu (Mirror Mirror/EUA-2012) de Tarsem Singh com Julia Roberts, Lily Collins, Armie Hammer, Nathan Lane e Sean Bean. ☻☻☻
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