Tautou: uma Chanel como manda o figurino.
Ainda vou descobrir qual é a graça de pegar uma personagem histórica para transformá-la em heroína romântica. Sei que todo mundo ama e quer ser amado, mas pegar uma figura importante e transformar um relacionamento ou outro em fio condutor de sua história não é o que podemos chamar de genial. Em 2009 foi a vez da estilista revolucionária Coco Chanel ser vítima desse (des)favor. Quem for atrás da história da mulher que se tornou um dos maiores ícones do século XX terá que se contentar com um lampejo aqui e outro ali da genialidade desta mulher que revolucionou a moda com seus terninhos e o conceito básico de elegância. A obra de Anne Fontaine é até bem feita e com elenco competente, mas faltou um roteiro que desse conta de se apaixonar pela mulher que revolucionou o vestuário feminino por volta da década de 1910 com inspiração nas roupas masculinas. Como o filme indica, a história se concentra no período em que Coco ainda era Gabriele, a menina órfã de família humilde que cantava em cabarés ao lado da irmã. É nesse ramo que ela conhece seu primeiro amante importante, Étienne Balsam (Benoît Poelvoorde), com quem acaba morando numa mansão por um bom tempo, conhecendo pessoas envolvidas com o teatro francês e chamando atenção pelos chapéus que criava. É até interessante como o roteiro explora o estranhamento causado pelo visual de Coco, que insistia em utilizar calças e roupas simples e elegantes a partir de sutis arranjos nas roupas masculinas que estavam disponíveis ao seu alcance. A visão crítica de Coco perante as roupas femininas de sua época está presente todo o tempo em reclamações aos excessos que acabavam desfavorecendo as formas da mulherada. No entanto, falta ânimo ao texto de Anne e Camille Fontaine. A trama se arrasta mais do que devia na relação entre Chanel e Balsam até que ela encontre o britânico Boy Capel (o subestimado Alessandro Nivola), amigo de Balsam e que é apresentado como o grande amor de sua vida - e como em toda novela romântica ela descobrirá que se trata de um romance proibido mediante os interesses financeiros envolvidos. Embora tenha mais erros do que acertos é um filme a que se assiste sem constrangimentos especialmente pela atuação de Audrey Tautou na pele de Coco. A atriz que ficou famosa como a eterna Amélie Poulain/2001 se convence na expressão sisuda da estilista - e a forma como deixava o cigarro pendurado em sua boca -, pena que o filme termina quando a Chanel é apenas um embrião da marca multimilionária que conhecemos hoje e sem abordar as polêmicas na vida de Coco (como sua prisão por crimes de guerra e o exílio de uma década que rendeu o ódio dos franceses). Curiosamente no mesmo ano outro filme francês revisitou o mito: Coco Chanel & Igor Stravinsky, de Jan Kounen era estrelado por Ana Mouglalis & Madds Mikkelsen e parece uma continuação aos fatos apresentados no filme de Fontaine - só que com mais ousadias.
Coco Antes de Chanel (Coco avec Chanel/França-2009) de Anne Fontaine com Audrey Tautou, Alessandro Nivola, Benoît Poelvoorde, Marie Gillain e Emmanuele Devos. ☻☻
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