Jones: um gato tão interessante quanto o rato.
Reza a lenda que quando anunciaram que Tommy Lee Jones ganhou o Oscar de coadjuvante em 1994, ouviu-se um múrmuro angustiado na sala de imprensa. O motivo? Jones é famoso pelo seu mau humor e impaciência com os jornalistas - e mesmo quando faz comédias, o ator investe neste tipo sisudo. No entanto, ele ganhou o Oscar por um papel em que não insistiu em fazer o trivial. Filmes de ação baseados em perseguições costumam ser decepcionantes a partir do momento em que percebemos que, não importa o que aconteça, o filme está preso à fórmula do "gato e rato" até o final mais previsível e tedioso. Poucos filmes conseguem romper com essa camisa de força e despertar na plateia um sentimento incomum de torcida, tanto para o perseguido quanto para o perseguidor. Esse empate técnico motivador é um dos elementos que fazem a diferença em O Fugitivo, clássico filme de ação da década de 1990 baseado num seriado de mesmo nome, lançado em 1963. O filme funciona tão bem que concorreu aos Oscars de Filme, fotografia, edição, efeitos sonoros, trilha sonora, som e - o já dito - prêmio de ator coadjuvante. O filme conta a angustiante história do Doutor Richard Kimble (Harrison Ford, indicado ao Globo de Ouro), que é acusado de assassinar a esposa (Sela Ward) depois que chegam de uma festa. Sempre alegando inocência, Kimble é preso e após um espetacular acidente ferroviário, o doutor aproveita a chance para fugir e provar a inocência. Seguindo as pistas que deixou pelo caminho, está o policial Samuel Guerard (Tommy Lee Jones), que apesar de toda obstinação, percebe que Kimble é uma figura mais interessante do que os outros fugitivos que atravessaram sua renomada carreira. O mais interessante do filme é que enquanto Davis se concentra nas pistas coletadas por Kimble (sob o uso de disfarces e discrições), a trama segue paralelamente os acontecimentos acerca das investigações de Guerard - que se mostra bastante astuto ao ponto de perceber que o perfil de Kimble está longe de ser o assassino frio que dizem ser. Enquanto Ford tem um dos momentos mais eficientes de sua carreira, Lee Jones é capaz de roubar a cena com o olhar humanista que lança sobre o policial que interpreta. Jones transforma seu personagem numa espécie de parceiro às avessas do protagonista, proporcionando novas camadas a um personagem que poderia ser facilmente burocrático neste tipo de filme (é o tipo de coisa que Michael Mann queria ter alcançado com Christian Bale em Inimigos Públicos/2009 e não conseguiu). Além do suspense que se desenrola em torno da investigação de um cidadão acima de qualquer suspeita, Davis nunca perde de vista os personagens que se tornam cada vez mais desenvolvidos e interessantes. Essa preocupação afeta até os atores que tem poucos minutos em cena, como é o caso da enfermeira vivida por Julianne Moore - que tem poucos minutos em cena, mas o suficiente para exibir as contradições que a figura de Kimble possui. No entanto, o trunfo dos filmes é a química de seus dois atores principais, uma química que funciona tão bem que eles nem precisam estar juntos na mesma cena durante quase toda a duração do filme.
O Fugitivo (The Fugitive) de Andrew Davis com Harrison, Tommy Lee Jones, Sela Ward, Joe Pantoliano e Julianne Moore. ☻☻☻
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