Zoe e Paul: por que tentamos controlar quem amamos?
Ruby Sparks está na minha lista de comédias românticas favoritas. Minha mãe diria que o filme está lá por que eu adoro um filme doido, mas eu não ligo para isso, eu já me acostumei a ter uma atração por qualquer obra em que os envolvidos olham para fora da caixa (ou da caverna, como preferem os platônicos - ou seria platonistas?). O mais interessante é que o filme marca a estreia de Zoe Kazan (neta do lendário Elia Kazan), que protagoniza o filme ao lado do namorado Paul Dano. Dano, por sua vez, retoma a parceria com o casal de diretores Johnatan Dayton e Valerie Ferris, o casal responsável pelo sucesso Pequena Miss Sunshine (2006), que aqui repete o mesmo estilo leve do filme anterior. No entanto, assim como em Sunshine, conseguem colocar alguma coisa séria no que parece ser apenas uma comédia inofensiva. Calvin Weir-Fields (Dano) é um jovem escritor consagrado em sua primeira obra. Desde então escreve contos e crônicas enquanto faz análise e espera a inspiração para escrever seu segundo livro. A vida social de Calvin é um fracasso, seu melhor amigo é o irmão, Harry (Chris Messina, num contraste genético interessante com o protagonista), e ele ainda não se recuperou do rompimento com sua ex, Lila. Quando o analista lhe passa um exercício de escrita, Calvin começa a colocar no papel uma uma personagem com quem sonhou certa vez, Ruby Sparks. Sua devoção à personagem a fará se materializar aos poucos diante dele, até que ele não consigam mais viver sem ela. Ruby (Zoe Kazan) é adorável, com seu jeito meio adolescente, meio inconsequente, mas ainda assim apaixonante. Embora o roteiro siga por uma série de situações que parecem seguir algum manual de roteiros (a solidão de Calvin, o encontro, o processo de negação, o fato dela nãos er uma alucinação coletiva, a apresentação à família, a crise no relacionamento...), Zoe consegue lidar com as situações propostas com um frescor incomum que só alguns iniciantes podem proporcionar ao texto. O mais interessante do filme acontece quando Calvin percebe que seu Haroldo (desculpem, eu não resisti) Ruby tem opinião própria, e nem sempre semelhante a dele. É aí que o filme deixa de ser só mais uma comédia romântica para se tornar uma provocação interessante sobre a forma como tendemos a querer modificar e controlar aqueles que amamos. O que era amor passa a ser posse e o que era bom torna-se uma espécie de prisão para os dois - ainda mais para Ruby. Embora Harry não queira abordar as questões éticas envolvidas na relação entre Calvin e Ruby, são elas que passam em nossa mente enquanto vemos o personagem manipular as emoções do outro, até que a situação torna-se insustentável. Paul Dano merece, mais uma vez, os parabéns por dar conta de um personagem complicado, sem ter medo de abraçar seus sentimentos mais obscuros. Da mesma forma, Zoe mantem seus olhos brilhando da primeira à última cena. Além da química entre o casal, o filme conta com bons coadjuvantes (o único problema é o péssimo Antonio Banderas como padrasto de Calvin) e trilha sonora moderninha com muito pop francês escolhido a dedo pelos diretores. Agradável de assistir e capaz de gerar reflexões em casais apaixonados, o filme foi indicado ao prêmio de melhor roteiro no Independent Spirit deste ano - só pela catártica cena final o filme já merecia alguns prêmios, a cena poderia ser engraçada, mas consegue ser trágica ao exibir a necessidade de Calvin se auto-afirmar como homem genial. Não é Ruby que diz aquelas falas, mas o ego inchado que se esconde debaixo da figura inofensiva de Calvin. Algo assim, não se vê todo dia...
Ruby Sparks - A Namorada Perfeita (Ruby Sparks-EUA/2012) de Jonathan Dayton e Valerie Ferris com Paul Dano, Zoe Kazan, Chris Messina, Annette Bening, Steve Coogan e Antonio Banderas. ☻☻☻☻
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