Apesar da overdose de artistas com botox, devemos reconhecer que não há nada mais sagrado para um ator do que sua expressão facial. No entanto, existem aqueles papéis desafiadores em que esse precioso instrumento de trabalho é quase que neutralizado - seja por maquiagens, máscaras, capuzes, ou, simplesmente inércia muscular. Esta lista é dedicada a cinco atuações que transcendem a expressão facial, cada uma ao seu modo e se tornaram referência para seus colegas:
5 V de Vingança (2006) Os fãs de Matrix que me perdoem, mas os irmãos Wachowski não me convenceram ainda. Depois da trilogia badalada eles resolveram bancar a história do rebelde mascarado que luta contra um sistema opressor. Baseado na obra de Michael Moore, particularmente eu não gosto do filme - ainda mais que percebo uma incômoda apologia ao terrorismo. Seja como for, além de Natalie Portman como mocinha da trama, ainda podemos desfrutar da inusitada química da estrela ao lado de um mascarado Hugo Weaving, que atua como manda o figurino com o corpo todo coberto durante o filme.
4 Marcas do Destino (1985) Clássico da sessão da tarde em minha infância, lembro como toda a família se emocionava com esse filme de Peter Bogadanovich que contava com atuações precisas de Cher e Eric Stoltz. Cher foi até indicada ao Oscar de melhor atriz como a mãe de Rocky Denis (Stoltz), um adolescente que devido a uma doença rara tem o rosto desfigurado (como se usasse uma máscara) e enfrenta vários preconceitos. Baseado numa história real, Eric tem uma atuação exemplar debaixo de pesada maquiagem e consegue ganhar a empatia da plateia desde a primeira cena (o segredo está no olhar, mas quem levou o Oscar foi o maquiador naquele ano). Pelo trabalho o ator foi indicado ao Globo de Ouro de ator coadjuvante.
3 O Escafandro e a Borboleta (2007) Mathieu Amalric tem a vantagem diante de seus colegas de ter cenas em que pode expressar todas as emoções sem o impedimento de máscaras ou maquiagens elaboradas em poucas cenas deste filme de Julian Schnabel. No entanto, seus melhores momentos como o real, Jean-Dominic Bauby, são aquelas em que só consegue se comunicar com o mundo através do olho esquerdo. Ditando suas reflexões sobre a vida apenas com o piscar do olho, Balby ganha ainda mais o interesse da plateia com a narrativa inspirada de Mathieu. Entre romances mal resolvidos, relacionamentos deixados pela metade e delírios de uma mente aprisionada num corpo quase totalmente inerte, o ator consegue ser mais expressivo parado do que você imagina!
2 O Homem Elefante (1980) David Lynch adora uma bizarrice, mas ao contrário do que os preconceituosos podem pensar, o que há de mais bizarro no filme não é a maquiagem ostentada por John Hurt, mas o mundo que está ao seu redor. John Merrick (Hurt), sofre de uma terrível doença que faz seu corpo produzir vários tumores. Merrick é descoberto pelo doutor Frederick Teves (Anthony Hopkins) num circo e depois passa a ser o centro das atenções em um hospital - onde o personagem se torna uma atração cientifica. Merrick realmente existiu, mas Lynch conta sua história com alguma licença poética que reforça, ainda mais como a sociedade lida com as diferenças. Além disso, John Hurt está fenomenal como Merrick (foi indicado ao Oscar de ator pelo papel).
1 Watchmen (2009) Alguém pode me explicar como Jackie Earle Halley não foi indicado aos grandes prêmios do cinema por sua magnífica atuação como o vigilante mascarado Rorschach? Jackie parece ter sido criado por Allan Moore e David Gibbons, dada a sua desenvoltura de encarnar o paranóico personagem da cultuada série de gibis! Com o rosto coberto por um capuz durante quase todo o filme, o ator transpira o personagem da primeira até a última cena. Trata-se de um trabalho inacreditável de expressão corporal e vocal - que pouquíssimos atores no mundo seriam capazes de alcançar! Diante de uma rede de intrigas que pode gerar o fim do mundo, é a atuação de Jackie que nos faz acreditar no apocalipse iminente!
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