Mais alguém acha que Rachel Weisz tem que se benzer depois que ganhou seu Oscar de atriz Coadjuvante por O Jardineiro Fiel (2005)? Desde que ela levou para casa o prêmio pelo filme de Fernando Meirelles, ela se tornou um dos maiores pé-frios de Hollywood. Desde então, não adianta se o filme é ambicioso (Fonte da Vida/2006 ou Alexandria/2009), alternativo (Um Beijo Roubado/2007 ou Vigaristas/2008), simpático (Três Vezes Amor/2008), bem intencionado (A Informante/2010) ou voltado para as massas (O Legado Bourne/2012), as bilheterias são tão decepcionantes como se eles fossem simplesmente ruins (Um Olhar do Paraíso/2009 ou A Casa dos Sonhos/2011). Até quando ela consegue ter uma atuação elogiada pela crítica (como em Deep Blue Sea/2012 que lhe indicou ao Globo de Ouro) o filme tem problemas com os distribuidores. Talvez por conta dessa maré de azar ela tenha aceitado voltar a trabalhar com o brasileiro Meirelles, pena que o resultado é o pretensioso e pouco empolgante 360. Lembro de entrevistas na época de Cidade de Deus (2002) em que Meirelles vivia contando que tinha em mente realizar um projeto ambicioso, com vários personagens de diversos países. Na época o projeto se chamava Tolerância II, mas não sei se esta ideia foi transformada neste roteiro do premiado Peter Morgan baseado no livro A Ronda de Arthur Schnitzler. Na época em que o filme foi lançado no Brasil, depois de ser bastante criticado em festivais no exterior, Meirelles ressaltava que não lia as críticas aos seus filmes, mas sua auto-crítica convergia para o mesmo ponto apontado pelos jornalistas. Ao ter mais mais de uma dezena de personagens, o filme decepciona por não saber lidar com as diversas tramas que o compõe, de forma que não consegue desenvolver personagens e tramas de forma envolvente. No fim das contas, algumas histórias se salvam mais pelo trabalho dos atores do que propriamente da direção ou do texto. A trama começa com um ensaio fotográfico em que pensamos sobre o que se trata, até descobrirmos que é uma espécie de cadastramento de prostituição para golpes. Dessa histórias passamos a conhecer o casal infeliz (Weisz e um envelhecido Jude Law que está ficando com a cara de Jonathan Pryce) que se mistura com o destino de outro casal (os brasileiros Maria Flor e Juliano Cazarré). Enquanto isso conhecemos um maníaco sexual (Ben Foster) que cruzará o caminho da brasileira, assim como Anthony Hopkins que vive um senhor em busca da filha desaparecida. Para completar ainda tem uma mulher apaixonada pelo patrão muçulmano (na trama mais inútil do filme). A mistura soa distante, fria e desinteressante. Se a intenção de Meirelles era ser uma manifesto ao distanciamento das relações contemporâneas, ele poderia ter caprichado mais na narrativa que resulta arrastada e irregular, além de repleta de clichês solucionados de forma absurda pelo roteiro. A falta de tempo compromete o andamento de dois bons momentos que poderiam gerar um filme interessante se pudessem se articular de forma menos apressada. Uma delas é a trama do maníaco, que traz momentos realmente arrepiantes (embora flerte de forma desconfortável com o estereótipo promíscuo da mulher brasileira no exterior) a outra trama é a centrada em dois personagens periféricos que conseguem empolgar mais do que outros que receberam mais destaque no roteiro. São eles, o motorista russo Sergei (vivido pelo ótimo Vladimir Vdovichenkov) e a mocinha Anna (Gabriela Marcinkova) que roubam a cena nos momentos finais antes que o roteiro tenha o arremate mais óbvio possível para um filme chamado 360. Tenho a sensação de que Meirelles não fazia a mínima ideia do que estava fazendo (assim como a maioria dos bons atores que escolheu para um trabalho tão inexpressivo).
Vladimir e Gabriela: periféricos que roubam a cena.
360 (Reino Unido/Áustria/França/Brasil-2011) com Jude Law, Rachel Weisz, Moritz Bleibtreu, Maria Flor, Anthony Hopkins, Ben Foster, Marianne Jean Baptiste, Jamel Debbouze, Vladimir Vdovichenkov e Gabriela Marcinkova. ☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário