Urdezowsky e Créton: amar é sofrer!
Um amigo disse que o que ele mais odeia nos filmes franceses é que eles são capazes de fazer qualquer porcaria parecer que é uma grande coisa. Lembro que critiquei o preconceito de seu comentário, mas depois que assisti Adeus, Primeiro Amor tive vontade de ligar para ele e pedir desculpas. O longa de Mia Hansen Love tem admiradores fervorosos pela forma como aborda o amor pela ótica de sua protagonista, Camille (Lola Créton). No início ela tem quinze anos e vive um romance com Sullivan (Sebastian Urzendowsky), ele é desencanado e ela parece até antiquada com seus diálogos de heroína romântica do século XVIII. Desde o início ela deixa claro para o espectador que amar é sofrer, chorar, perder o gosto pela vida quando o amado está longe. O problema é que Sullivan não gosta dessa postura de sua namorada e deixa claro para a plateia que está prestes a dar no pé numa viagem pela América Latina. Antes dele partir os dois vivem quase num universo à parte, uma casa de campo onde vivem como se todo o resto do muno desaparecesse, mas as cobranças de Camille permanecem e ressaltam ainda mais a indiferença de seu amado. Sullivan sempre parece mais interessado no prazer que a garota desperta nele do que pela garota em si, comenta mais sobre o tempo que gosta de passar com os amigos do que os momentos que passa com a namorada. Ou seja, enquanto ela o trata como a razão de seu viver, ele se satisfaz de aproveitar os momentos que tem juntos, sem fazer planos ou julgamentos. Quando ele vai embora e os laços com a namorada se tornam cada vez mais fragéis até que as cartas trocadas entre eles se tornam cada vez mais raras, Camille precisa continuar sua vida. Quando ela vai cursar arquitetura e se envolve com um professor, o filme fica até interessante, mas as coisas parecem voltar ao ponto de partida quando a personagem reencontra Sullivan. Enquanto ela se torna uma arquiteta promissora, ele ganha uns trocados trabalhando como fotógrafo. Se o início é mais bucólico do que romântico, depois o filme se rende à nostalgia que Camille sente de um amor que nunca se concretizou da forma que ela gostaria. Penso que se o filme tivesse uma atriz mais interessante do que Lola Cretón o filme poderia ter sido outra coisa, a garota passa o filme todo com uma apatia que torna difícil qualquer mortal querer ficar perto dela. Seu olhar consegue transmitir somente indiferença, nem quando as coisas começam a se ajeitar quando ela passa a dividir o teto com um homem mais velho (Magne-Havard Brekke) a garota parece satisfeita. No entanto, devo admitir que o Urdezowsky tem mais sorte, já que com quase trinta anos ele convence como adolescente que, mesmo com o caráter questionável consegue causar empatia na plateia. Os mais intelectuais podem dizer que o filme mostra a perda da inocência da personagem (que de heroína romântica se torna uma adúltera), os mais deslumbrados vão dizer que o primeiro amor é inesquecível, os mais otimistas vão dizer que Mia Hansen Love fez uma ode ao amor juvenil. Honestamente eu não vejo nada disso, só percebi como ao final do filme, sua heroína se torna mais parecida com Sullivan do que ela poderia imaginar (mesmo que ao final ela volte a ser a mesma garota chorona do início do filme). Ainda que possamos lembrar de nossos primeiros amores, tudo é filmado com distanciamento e, mesmo as cenas que deveriam ser sensuais, não conseguem demonstrar mais do que frieza. Ainda assim, o filme pode impressionar por sua capacidade de mostrar as perdas na transição da adolescência para a vida adulta.
Adeus, Primeiro Amor (Un amour de Jeneusse/França-Alemanha,2011) de Mia Hansen Love com Lola Cretón, Sebastian Urzendowsky, Magne-Havard Brekke e Serge Renko. ☻☻
Adeus, Primeiro Amor (Un amour de Jeneusse/França-Alemanha,2011) de Mia Hansen Love com Lola Cretón, Sebastian Urzendowsky, Magne-Havard Brekke e Serge Renko. ☻☻
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