Keira e Michael: romance proibido.
Em 2003 foi lançado um filme chamado Jornada da Alma de Roberto Faenza, protagonizado por Emilia Fox, Iain Glen e Craig Ferguson que foi um sucesso nas premiações italianas. Por aqui o filme foi lançado em DVD com pouquíssima repercussão ao desbravar a relação da jovem russa Sabina Epielrein com o Doutor Carl Gustav Jung. O tórrido romance entre os dois servia como pano de fundo para a consolidação da psicanálise como forma de tratamento para pessoas com a sanidade questionada no início do século XX. No entanto, apesar da temática interessante, o filme é recomendável somente para aqueles que possuem problemas para dormir (a cura é certa!). Arrastado e pretensioso, o filme entrou para minha lista e não recomendações. Quase dez anos depois, o diretor canadense David Cronenberg resolveu contar a mesma história. Vale ressaltar que Cronenberg tinha a grande vantagem de ter no currículo obras que o faziam ser o mais indicado para contar a relação entre a psicanálise e a sexualidade impressa na relação Jung/Spielrein, basta lembrar respectivamente de Gêmeos - Mórbida Semelhança (1988), Spider (2002), Videodrome (1983) e Crash - Estranhos Prazeres (1996). Além disso, a alardeada "maturidade" apresentada por Cronenberg, além da promessa de mais uma parceria com Viggo Mortensen, ajudaram a criar a expectativa positiva ao redor do filme. O problema surgiu quando o filme foi lançado. Tropeçando na própria pretensão, Cronenberg se perde na história que tem em mãos, mesmo com Jung (Michael Fassbender), Sabina (Keira Knightley) e Freud (Mortensen) entre sua galeria de célebres personagens. Baseado na peça The Talking Cure de Christopher Hampton o filme nunca consegue alcançar o ritmo proposto, talvez por conta do diretor não se decidir se quer fazer um filme explosivo ou um romance de época. Sempre que uma dessas rotas é sinalizada pelo longa, existe uma manobra brusca para a outra direção, de forma que o resultado é bastante confuso - prejudicando o desenvolvimento dos conflitos pessoais que poderiam ser o grande trunfo do filme. Quando Sabina (Knightley exagerando nas caretas e trejeitos) é internada no hospital em que Jung trabalha em Zurique, ela chama atenção do doutor que percebe nela a chance de testar o método inovador estudado por Freud. Através de conversas, aparentemente informais, Jung consegue conhecer a historia de Sabina, fazendo-a repensar a forma como se relaciona com seus próprios conflitos (especialmente com seu fetiche em ser humilhada). Sabina por sua vez se interessa pelo método utilizado por Jung e retoma o interesse em se tornar médica enquanto a atração entre médico e paciente fica cada vez mais intensa. Neste momento está o primeiro ponto fraco do filme, a transição de Sabina de histérica para moça comportada é abrupta e ainda falta explorar melhor a forma como Jung aceita satisfazer o desejo da moça levar... umas palmadas! O que poderia servir de elemento crítico na relação dos dois é Freud, que questiona a postura do amigo, mas sem muita profundidade. Freud aparece pouco e Mortensen tem que se contentar em dizer frases de efeito como se fossem pérolas... Acho que faltou a Cronenberg coragem para transformar figuras tão importantes em personagens de verdade. Sabina além de paciente precursora se tornou uma das primeiras mulheres psicanalistas da história, mas Keira Knightley se contenta em criar uma heroína romântica chegada ao sadomasoquismo - enquanto Jung e Freud ao invés de ganharem complexidade se tornam cada vez mais unidimensionais. O engraçado é que nem a música encaixa nas cenas e os personagens secundários não servem para muita coisa (Vincent Cassel entra e sai de cena sendo sub aproveitado e a esposa de Jung não diz a que veio após as insinuações de sua insatisfação com o casamento). Com o final insatisfatório, fica a impressão de que este é o filme mais melindrado de Cronenberg que nunca dirigiu algo tão desinteressante.
Um Método Perigoso (A Dangerous Method/EUA-2011) de David Cronenberg com Michael Fassbender, Keira Knightley, Viggo Mortensen e Vincent Cassel. ☻
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