O trio: um ménage platônico.
Talvez seja pela sexualidade híbrida do mundo pós-moderno, ou até pela queda dos rótulos sobre a sexualidade ou propagação das infinitas possibilidades sobre as relações entre homens e mulheres que se tornou cada vez mais comuns filmes sobre casais que buscam novas formas de se relacionar. Acho difícil que exista um filme que consiga ser tão simples e autêntico na abordagem do tema do que este longa alemão de Tom Tykwer. Embora seja cultuado pelo oco Corra, Lola, Corra (1998), meu filme favorito do diretor ainda é Perfume (2006), mas Triângulo Amoroso está ali, quase empatado. Embora Tykwer ainda invente um delírio visual aqui e outro ali só para dizer que ainda é moderninho (como o pesadelo em preto e branco onde o personagem perde todos os dentes ou as vezes em que divide a tela em várias cenas), o filme é muito bem resolvido quando aborda a relação que se estabelece entre o casal Simon (Sebastian Schipper) e Hannah (Sophie Rois, que parece a irmã gêmea de Brian Molko da banda Placebo) ao conhecerem o biocientista Adam (Devid Striesow). O casal namora há mais de vinte anos, embora ainda não tenham oficializado o casamento, é impossível não percebê-los como marido e esposa. Além da atração que ainda sentem um pelo outro, aqueles dias de rotina massacrante também aparecem em cenas como o silencioso café da manhã, ou a cama dividida em lados distintos. O ritmo do casal começa a ser alterado com a inquietação da jornalista Hannah ao ver uma entrevista cedida por Adam. É mais ou menos nessa época que Simon tenta lidar com a morte iminente da mãe (que está no fim graças a um câncer no pâncreas) que Hannah aprofunda seu flerte com Adam - parece uma provocação de que precisa fugir de um universo que parece estar moribundo. Ironicamente, é quando resolve trair Simon que este descobre que tem seu próprio câncer para administrar. Diagnosticado e perdendo um testículo, Simon é submetido ao esgotamento causado pela quimioterapia. Nesse período difícil que ele conhece Adam num clube e se rende às possibilidades apresentadas pelo médico sedutor. Além do fantasma de não terem um filho (talvez por um deles ser histéril) e da ironia de se envolverem com um profissional que lida com a inseminação artificial, o mais interessante é como Tykwer consegue orquestrar seus personagens/atores de forma que podemos conhecer as motivações de cada um para que embarcassem naquela aventura amorosa. Enquanto a pulada de cerca serve de afrodisíaco para o próprio relacionamento do casamento (que se torna ainda mais ativo sexualmente), ela serve para que o próprio Adam comece a repensar sua vida solitária de múltiplos parceiros. O maior trunfo do filme é não olhar para os seus personagens com tom moralista ou vulgarizado. Tykwer consegue um equilíbrio incomum para os filmes que se aventuram por tramas semelhantes - não desafinando nem quando explora, com bastante humor, o desfecho do casal que descobre que se traia com o mesmo homem. Tudo é tão fluente, que mesmo o final que poderia ser um escândalo para os traídos/traidores (ou puritanos) é resolvida de forma concisa e bastante real diante do que acompanhamos até o desfecho, ali os personagens se despem (literalmente) de seus pudores, pecados e representações de si e das convenções sociais. Contando com cenas de discussões sobre sexualidade, fertilidade e relações contemporâneas, Tykwer consegue resolver muito bem o dilema de ter três personagens que se conhecem e se complementam - e ao som de Space Oddity de David Bowie tudo parece ainda melhor.
Triângulo Amoroso (3/Alemanha-2010) de Tom Tykwer com Sophie Rois, Sebastian Schipper, David Striesowe e Alexander Hörbe ☻☻☻☻
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