Pattinson e Ricci: experimentando o amor de verdade.
Não é novidade que fora da franquia Crepúsculo a carreira de Robert Pattinson não conseguiu gerar um sucesso nas telonas. Se nem as fãs histéricas colaboram, imaginem o que a má vontade da crítica pode fazer! Devo dizer que do trio protagonista daquela bobajada, ele é o único em que consigo perceber um verdadeiro esforço em ser respeitado como ator. Kirsten Stewart tem que nascer de novo para conseguir interpretar um ser vivo, Taylor Lautner parece se contentar em tirar a camisa em filmes de ação futuramente, já Pattinson ousa escolher papéis em que a maioria dos mortais não gostaria de vê-lo (dá para imaginar o que passou pela cabeça dele quando aceitou atuar num romance ambientado num circo ao lado de dois atores ganhadores de Oscar? Pois é, se Água para Elefantes/2010 não foi bem nas telonas, em DVD ele teve seus méritos água com açúcar descobertos). Seu empenho culminou com os elogios recebidos em Cosmópolis (2012) de David Cronenberg, um filme destinado a ser cult e que prometo comentar em breve. Entre um e outro, o inglesinho interpretou o anti-herói do clássico mordaz Bel Ami do escritor francês Guy de Maupassant. Publicado em 1885 o interesse pelo livro atravessa gerações ao contar em tom de crítica social os três aspectos que podem promover a ascenção social: mérito, herança ou sexo. Girando em torno do jovem Georges Duroy (vivido por Pattinson), a trama mostra como esse rapaz de origem humilde, mesmo sem conseguir escrever direito, consegue galgar uma posição na sociedade parisiense no final do século XIX. Como ele consegue isso? Se envolvendo com as esposas de alguns dos homens mais influentes da sociedade local. No início, Duroy é apenas um ex-soldado que tenta a carreira de jornalista na capital francesa com a ajuda do ex-colega do exército, Charles Forrestier (Phillip Glenister). Até ali, o personagem mora num quarto bolorento, se relacionando com prostitutas de forma que não existe nada de atrativo em sua vida. Mas tudo muda quando ele conhece Madeleine Forrestier (Uma Thurman em papel que seria de Nicole Kidman), que o ajuda a escrever artigos para o jornal de seu esposo - e ensina a Georges a pular de cama em cama até chegar aonde quiser. O que poderia ser uma obra que faria páreo com Ligações Perigosas (1988), mostra-se desengonçado ao alterar a essência de seu protagonista. Era de se esperar que em pouco mais de hora e meia de projeção, muito das quatrocentas páginas da obra ficasse de fora da adaptação realizada pela roteirista Rachel Bennette, mas, ao que parece, até ela caiu na lábia do personagem ao retratá-lo como um coitado. Caindo nessa armadilha, os diretores Declan Donnellan e Nick Ormerod conseguem entregar um protagonista que desperta mais pena do que sedução. Parecendo ingênuo, inseguro e ignorante, ele é mais uma peça nos jogos de intrigas traçados por Madeleine. É por conta dela que Georges se envolve com a jovem Clotilde de Marelle (uma ótima Cristina Ricci) e a certinha Virginie Rousset (Kristin Scott Thomas). É até interessante como o sexo com cada uma dessas personagens significa algo diferente na trama: com Madeleine parece um jogo de submissão (dele por ela), com Clotilde ele experimenta o amor sincero (por mais que seus interesses não permitam uma união plena) e com Virginie é apenas uma vingança pessoal. Pena que os diretores não consigam aprofundar essas relações, muitas vezes as situações acontecem de forma episódica graças à ausência de fluência narrativa. No entanto, vale registrar, que Pattinson ainda não é um grande ator, mas deixa evidente o seu esforço em desbravar um personagem difícil e cheio de nuances. Perdendo a ingenuidade do início entre as expressões vilanescas de outrora, para o rapaz deve haver vida em Hollywood depois que deixou de ser o vampiro mais certinho da história do cinema.
Bel Ami - O Sedutor (Bel Ami/Reino Unido-França-Itália/2012) de Declan Donnellan e Nick Ormerod com Robert Pattinson, Christina Ricci, Uma Thurman e Kristin Scott Thomas. ☻☻
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