Borat: sucesso e presença no Oscar.
Com a chegada de O Ditador às locadoras, existe uma boa a chance de recapitular o trabalho de Sacha Baron Cohen em Hollywood. Nascido em Londres no ano de 1971, Cohen parece ter resolvido sacudir o mundo a comédia depois de um período em que o politicamente correto passou a comprometer a eficiência das piadas. A porta de entrada para o seu humor explosivo ocorreu na virada do século - junto com a promessa de que o mundo iria acabar! O sucesso começou como o personagem rapper Ali G, que tinha seu próprio programa na TV britânica (e apareceu até no clipe Music de Madonna). G chegou a ter seu próprio filme (Ali G Indahouse/2002), mas chegou, na maioria dos países, direto nas locadoras com sua trama de astro do hip hop que tem a missão de tornar o primeiro ministro britânico mais popular do que nunca. O estrago mesmo veio com Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão viaja à América (2006), um documentário fake que resgatava o personagem Borat Sagadiyev e o colocava numa viagem inusitada aos EUA. Na época o fantasma de onze de setembro ainda estava forte no imaginário dos sobrinhos do Tio Sam e Cohen estava disposto a exibir o preconceito que o discurso antiterrorismo estava gerando. Com o bigode do personagem e uma câmera sempre à espreita, ele abordava todo tipo de pessoa se aproveitando das reações que seu personagem despertava. O filme causou polêmica por utilizar o preconceito para evidenciar ainda mais preconceito (especialmente contra os judeus odiados por Borat). Apesar da polêmica o filme foi um sucesso (com piadas que colocavam um boneco judeu colocando ovo, a fuga desesperada do personagem da casa de um casal simpático de judeus, uma luta insana entre Borat e seu assistente, além da perseguição à Pamela Anderson - sua musa). Como ninguém havia ousado colocar tanta bobagem com verniz antropológico num filme, o longa foi indicada ao Oscar de roteiro adaptado. Mas Cohen já estava satisfeito com o seu surpreendente Globo de Ouro de ator de comédia. Depois do sucesso era óbvio que o ator levaria para a tela sua outra cria: o fashionista austríaco Brüno.
Brüno repaginado: Sai o visual punk e entra o cabelo de Justin Bieber.
Brüno chegou às telas, com uma gigantesca. Todos aguardavam uma sandice do quilate de Borat. A direção do mesmo Larry Charles prometia o mesmo estilo de documentário fake acerca de algum estereótipo. Saia as piadas raciais e havia a promessa do ataque à homofobia. Não foi bem isso que aconteceu. Ao contrário da ingenuidade de Borat perante às "diferenças culturais", Brüno era arrogante e idiota demais para servir de amostra de qualquer coisa. As piadas também baixaram ainda mais o nível do filme anterior, com destaque para alfinetadas nas celebridades - a mais engraçada foi a "entrevista" com Harrison Ford que dura menos de dois segundos. Girando mais em torno da decadência de Brüno (que perde o emprego depois de um desastroso desfile) e suas tentativas mal sucedidas de voltar ao sucesso, o filme não chegou a ser um fracasso nas bilheterias, mas não repetiu o êxito do anterior. Para evitar mal entendidos, Cohen preparou até versões diferentes do longa. Embora sua crítica social tenha se tornado mais branda, sobrava piadas ousadas como um pênis falante e a vez em que Brüno quase tem sua primeira relação sexual com uma mulher (que mais tarde ele descobre ser uma dominatrix). Apesar da decepção, Sacha Baron Cohen já tinha lugar garantido nas produções de Hollywood, esteve em Sweeney Todd (2007) de Tim Burton e escalado para A Invenção de Hugo Cabret (2011) de Martin Scorsese. Se Brüno era apontado como mostra de que o comediante estava perdendo a mão, ele resolveu pegar mais leve em O Ditador. Apesar de ser um opressor assumido, o General Aladeen resgata um pouco da ingenuidade de Borat. Aladeen lutou a vida inteira para que a democracia não chegasse à República de Wadiya e quando a ONU suspeita que o país está produzindo sua primeira bomba atômica, Aladeen é convocado para se explicar. Apesar de curioso o fato de Aladeen não imaginar que seu braço direito conspirava contra ele (no caso, um tio interpretado por Ben Kingsley), o filme ganha contornos de comédia água com açúcar quando seu lugar é assumido por um sósia abestalhado e ele acaba vivendo como um cidadão comum com a ajuda de um mulher engajada (Anna Faris) - que o confunde com um manifestante. Apesar de algumas boas piadas sobre as diferenças do casal ( além do discurso final onde sugere semelhanças entre ditadura e democracia), o roteiro é frouxo e mostra-se apenas uma coleção de situações que nem sempre funcionam como deveria. Além disso, o filme perde bastante ao não usar as "pegadinhas" que fizeram a glória de Borat. Apesar da participação de astros para ajudar na bilheteria (Kingsley, Faris, John C. Reilly, além de Megan Fox e Edward Norton com piadas sobre prostituição), o filme não tem o quilate corrosivo de seus irmãos, sendo assim, O Ditador consegue ser apenas grosseiro.
Kingsley, Cohen e John C.: o mais convencional dos irmãos.
O Ditador (The Dictator/EUA-2012) de Larry Charles com Sacha Baron Cohen, Ben Kingsley, Anna Faris, John C. Reilly e Megan Fox. ☻☻
Brüno (EUA-2009) de Larry Charles com Sacha Baron Cohen, Gustaf Hammarsten e Josh Meyers. ☻☻
Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão viaja à América (Borat : Cultural Leranings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan/EUA-2006) de Larry Charles com Sacha Baron Cohen, Ken Davitian e Pamela Anderson. ☻☻☻
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