Maria: a graça de 62 pacotes mortais.
O uso de Drogas é um dos assuntos mais recorrentes nos noticiários e filmes policiais. É notável como num mundo sem grande perspectivas torna-se terreno fértil para sua utilização e tráfico, uma vez que nascem da mesma realidade (que nunca parece nunca superada). Vendo Maria Cheia de Graça, nem parece que o filme do diretor americano Joshua Marston já completa dez anos. O filme ficou conhecido quando foi exibido no Festival de Berlim e rendeu prêmios para o diretor e sua atriz, Catalina Sandino Moreno (que na ocasião dividiu o prêmio com Charlize Theron/Monster, as duas entrariam juntas no páreo do Oscar em 2005 - e Theron levaria a melhor). Sem firulas narrativas, Marston conta a história de Maria (Catalina), grávida de um bebê que não deseja de um homem que não ama. A personagem vive numa comunidade rural na Colombia e trabalha numa plantação de flores onde é responsável pela desagradável tarefa de tirar os espinhos. Condenada a um salário baixo - que precisa ser dividido para o sustento da mãe, irmã e sobrinho - num momento de insatisfação ela decide servir de "mula" e carregar em seu estômago 62 pacotes de cocaína para os Estados Unidos. Vale ressaltar que ela (e todos os outros) têm ciência de que se um dos pacotes vazar a sua vida terá fim. A situação expressa bem o desespero das drogas representarem uma vida melhor para seu envolvidos, já que se o plano der certo ela estará salva (ao menos financeiramente), até aí, nenhuma novidade. O maior trunfo do filme é que na jornada dessa jovem de 17 anos, vemos uma perspectiva diferente sobre o tráfico. O olhar não é do traficante, da polícia ou de um herói de filmes de ação, trata-se do olhar do ponto mais baixo e vulnerável de uma cruel engrenagem. Marston faz questão de contar a história da forma mais realista possível, sobre a perspectiva de uma personagem que considera "não ter nada a perder" e que coloca-se em risco cm a ilusão de uma vida melhor. A narrativa cresce numa tensão absurda, sobretudo quando cada minuto parece aumentar o risco de Maria e suas companheiras de serviço que se veem sozinhas num mundo incapazes de dominar. É verdade que muito da emoção do filme brota da desesperança magistralmente expressa pela estreante Catalina Sandino Moreno. Na última parte do filme (onde tenta consertar um plano que estava fadado ao fracasso desde o início), sua atuação retira da personagem qualquer sinal de falsa redenção ou arrependimento, Maria parece mudar seu olhar sobre o futuro ao conviver com a irmã de uma amiga. Sem ser moralista ou moderninho, o filme conta sua história de forma limpa e bem executada, deixando sua maior polêmica por conta do pôster que mostrava a personagem aparentando receber a comunhão, mas que na verdade observa um dos pacotes que carregará no corpo. A imagem gerou a analogia da "graça efêmera" que a droga representa, mas serve para apresentar uma personagem que acredita que a contravenção é um caminho para uma vida melhor diante da dura realidade que vivencia - algo cada vez mais comum na sociedade contemporânea.
Maria Cheia de Graça (Maria, Llen Eres de Gracia/Colômbia-2014) de Joshua Marston com Catalina Sandino Moreno, Yenny Paola Vega, Virginia Ariza e Orlando Tobon. ☻☻☻☻
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