Courtenay, Smith, Collins e Connolly: talento não se aposenta.
Eu poderia fazer uma lista com dez filmes antológicos protagonizados por Dustin Hoffman e ainda iria faltar alguns. Não é novidade que o cinema tem maltratado um dos seus melhores atores ao não oferecer-lhe um papel à altura do seu talento há muito tempo. Reduzido à coadjuvante em alguns filmes de sucesso e dublador do Mestre Shifu em Kung-Fu Panda (2008), o melhor de Hoffman ficou no passado. Portanto, não deixa de ser curioso que depois de mais de cinquenta anos de carreira (isso mesmo, ele começou a atuar em 1961 em programas de TV), o ator tenha passado para o outro lado das câmeras. Na verdade essa é sua segunda tentativa, já que em 1978 tentou fazer sua estreia com o drama criminal Liberdade Condicional (que terminou assinado por Ulu Grosbard, porque o ator considerou complicado demais a experiência). Em 2012, Hoffman, resolveu filmar uma versão da peça de Ronald Harwood sobre um quarteto de veteranos do canto lírico que se encontra num abrigo para artistas idosos, que encontra-se sob ameaça de fechar as portas. Obviamente que podemos enxergar o motivo de identificação do diretor com essa história, já que estamos falando de pessoas talentosas, que ficaram esquecidas e que, naquele pequeno universo paralelo, sentem a segurança de ser reconhecidos. Além de oferecer cursos para os interessados em música, a instituição ainda organiza eventos para receber doações e satisfazer a necessidade desses artistas provarem que o tempo não abalou o talento de outros tempos. É nesse contexto que conhecemos o falastrão Wilf (Billy Connolly) e seu amigo contido Regginald (Tom Courtenay), os dois são figuras absolutamente opostas no asilo. Acompanhando os dois amigos está a elétrica Cissy (Pauline Collins), fiel escudeira nas pendengas entre os dois. A estabilidade na instituição começa a ser abalada quando entra em cena a diva temperamental Jean Horton (Maggie Smith), que junto com os outros três formava um famoso quarteto vocal. Além das lembranças do tempo de fama, os personagens ainda terão que lidar com a dor de cotovelo de Reg, que tem um mal resolvido relacionamento com Jean. Embora o filme seja simpático, com bela fotografia e locações, Hoffman tem dificuldade de criar uma narrativa envolvente, enfrentando alguns problemas de ritmo pelo caminho. Sendo assim, cabe à química entre Maggie e Tom a responsabilidade de carregar o filme nas costas. Todo mundo sabe que Maggie Smith é uma grande atriz (com dois Oscars na estante e outras quatro indicações), prestes a completar oitenta anos (em 28 de dezembro), ela gravou o filme entre as gravações do seriado Downton Abbey, construindo uma personagem que aos poucos enfrenta seus problemas com o passado, inclusive com a própria fama - o que lhe gera um certo medo de manchar uma carreira ímpar como cantora lírica. Embora sua reconciliação com Reggie seja um tanto apressada, o romance entre os dois é mostrado com muito carinho. Embora não seja brilhante em sua estreia, Dustin Hoffman demonstra sensibilidade ao contar essa história de tom acentuadamente inglês. Embora voltado para um público alvo bastante específico (os maduros de gosto musical mais sofisticado), o filme é agradável de se assistir e tem alguns momentos engraçados. A estreia do ator na direção não compromete sua carreira, mas eu ainda prefiro que Hoffman volte a ter destaque como o excelente ator que é. Preste atenção no elenco de coadjuvantes de luxo - que é apresentado nos créditos como alguns dos maiores nomes do teatro inglês. No fim das contas o filme é uma homenagem ao talento desses veteranos.
Quarteto (Quartet/Reino Unido - 2013) de Dustin Hoffman com Maggie Smith, Tom Courtenay, Billy Connolly e Pauline Collins. ☻☻☻
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