Hammer e Tonto: aventura despretensiosa em orçamento inchado.
Evitei assistir a O Cavaleiro Solitário depois de todas as críticas ruins que recebeu. O filme, preparado pela Disney para faturar alto nas bilheterias do verão americano amargou uma bilheteria pífia na terra do Tio Sam e críticas sofríveis por onde passou. Vi o filme dia desses e para minha surpresa... gostei bastante. Obviamente que a baixa expectativa diante dessa versão para a telona do personagem (que teve origem no rádio da década de 1930 e chegou à TV pela CBS na década de 1960) ajudou bastante, mas, levando em consideração que é um filme de Gore Verbinski (mentor da franquia Piratas do Caribe/2003 e oscarizado pelo faroeste fabular Rango/2011) o filme é exatamente do jeito que eu imaginava: fantasioso demais para ser levado a sério, movimentado, divertido, ou seja, um bom passatempo. É verdade que brincar com o universo do faroeste numa roupagem feita para agradar todos os públicos sempre vai encontrar problema na violência de vilões sórdidos de um gênero em que matar índios era o papel dos mocinhos. A violência num filme com a franquia Disney não é bem vista e isso pode ter prejudicado o filme, mas acho que o maior problema é que Hollywood não aprendeu que gastar alto num filme não é sinônimo de sucesso. O Cavaleiro Solitário custou 215 milhões de dólares, mais do que muitos filmes de pequeno orçamento irão fazer ao redor do mundo, e ainda assim, serão considerados um sucesso. Pela lógica lucrativa de Hollywood, para fazer bonito, o filme deveria esbarrar no bilhão de dólares (coisa que seu astro Johny Depp já conseguiu algumas vezes), mas não lembro de nenhum filme com ares de bang-bang que tenha chegado tão longe, não importa se era sério ou uma brincadeira. Talvez, por que não importe o quão divertido o filme seja, existe um estigma sobre o gênero (ainda que aborde um personagem próprio das mais ingênuas matinês). Talvez, por enxergar além dos estigmas, Quentin Tarantino (que adora liquidificar gêneros - inclusive o faroeste em Django Livre/2012) tenha considerado O Cavaleiro Solitário um dos melhores filmes do ano passado. O filme conta a história de John Reid (Armie Hammer que continua investindo no tom cômico de seus personagens), jovem advogado que acaba de chegar em sua cidade natal no ano de 1930 após se formar em direito. John é irmão do xerife da cidade, Dan Reid (James Badge Dale) que casou com o grande amor de John, Rebecca (a interessante Ruth Wilson) e tem um filho. Enquanto viaja de trem para a cidade natal, o trem sofre com a ação de bandidos que querem libertar o sanguinário Butch Cavendish (William Fichtner) que encontra-se acorrentado ao índio comanche Tonto (Johny Depp). Esse é o início da aventura de John que, após uma emboscada, terá somente índio Tonto como companhia para encontrar os vilões do filme. Para isso, usará uma máscara e um cavalo branco "espiritual", famoso pelo "Hy-ioooo Silver!". Existem outros detalhes na história, como a ferrovia idealizada por Latham Cole (Tom Wilkinson) e a ameaça de índios que ameaçam a população próxima dela, assim como alguns desentendimentos entre a dupla improvável formada por John e Tonto. Mas o interesse da plateia está mesmo no tom engraçado impresso por Depp às frases de Tonto (apesar do nome parecer pejorativo, esse é o nome original do personagem - que alguns países de língua latina chamam de Toro para evitar polêmicas), sempre com um estranho corvo morto sobre a cabeça, que às vezes parece tomar vida. O maior problema da produção é a duração, são duas horas e meia de filme, com muitas cenas delirantes de ação que beiram o inexplicável diante de uma história tão simplista. Acho que hora e meia já estaria de bom tamanho, mas a pretensão dos produtores foi maior que da história. No entanto, quem curte cenas de aventura não deve reclamar. Verbinski se diverte fazendo uma versão de carne e osso de seu melhor filme (a animação Rango, que era uma homenagem ao gênero) e até encontra um lugar para encaixar Helena Bonhan Carter (que pode confundir alguns expectadores, achando que Tim Burton tem algo a ver com isso) em uma participação especial. Muito humor e cenas de ação desmioladas não foram capazes de fazer o filme um sucesso, mas seria maldade dizer que ele não funciona dentro de sua própria lógica - que pode até causar algum estranhamento. O filme concorreu a dois Oscars (efeitos especiais e Maquiagem & Hairstyling) para tentar tirar o gosto de vexame, mas eu toparia ver uma continuação dessa aventura sem esforço.
O Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger/EUA-2013) de Gore Verbinski com Armie Hammer, Johnny Depp, William Fichtner, Helena Bonhan Carter e Tom Wilkinson. ☻☻☻
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