Zissou (Murray): o pior de Wes Anderson.
Quem acompanha o blog sabe que sou fã do trabalho de Wes Anderson desde que assisti a Os Excêntricos Tenenbaums (2001), seu terceiro filme, que o retirou do gueto do circuito independente. Depois da indicação ao Oscar pelo roteiro original de Tenenbaums (ao lado do amigo Owen Wilson), Anderson gerava uma expectativa absurda para seu novo filme. Esse deve ser o meu maior problema com A Vida Marinha com Steve Zissou. Antes que o filme fosse lançado, assisti Três é Demais (1998) - o segundo filme do diretor - e a expectativa cresceu ainda mais. Some isso aos atores que pertencem à patota de Wes que estava no elenco (Bill Murray, Owen Wilson e Anjelica Huston) e os outros que se jutnaram (Willem Dafoe, Cate Blanchett, Jeff Goldblum e até Seu Jorge!) e você só poderia esperar pelo melhor de um diretor cada vez mais seguro do seu estilo. Quando assisti ao filme fiquei bastante decepcionado. Parecia uma colagem de assuntos dos outros filmes (principalmente em sua abordagem quase obsessiva sobre a figura paterna), só que sem a inspiração sentida neles. A trama gira em torno de Steve Zissou (Murray, muso do diretor), personagem inspirado no explorador marinho Jacques Custeau. Zissou é um cineasta que estuda o fundo do mar e parte na aventura de encontrar o raro Tubarão Jaguar, uma busca que é quase uma vingança - já que o tubarão é o responsável pela morte de seu melhor amigo. Zissou ainda vê nessa jornada a chance de revitalizar sua carreira, depois que sua última obra foi um fracasso. No meio do caminho precisa lidar com o assédio de uma jornalista grávida (Cate Blanchett) que quer acompanhar a expedição e de um filho (Owen Wilson) que até então não conhecia. Esses são os elementos do roteiro que se desenvolve conforme Zissou tenta acertar os ponteiros com sua carreira e com o filho ressentido que acaba de conhecer. Com relação à estética não há o que reclamar (repare nos cardumes feitos em stop motion ou a cena final onde todos estão num yellow submarine), mas... ainda que a tripulação de Zissou seja composta por tipos curiosos - que inclui Seu Jorge praticamente sem falas cantando versões em português das músicas de David Bowie (?!) - a história não decola. O humor não consegue encontrar o tom certo, assim como a atuação de Bill Murray que deveria parecer um "gênio incompreendido", mas encarna mais um personagem entediado com a vida. Ao final da sessão, tive a impressão que era um conjunto de ideias nonsense que não foram costuradas como deveriam. Visto hoje percebo que o filme talvez seja uma grande provocação do diretor. Afinal, parte da crítica o acusava de ser superficial na abordagem de suas tramas, abusar da simetria de seus enquadramentos, caricaturar personagens e artificializar situações, bem, se o diretor realmente fazia isso, aqui ele extrapola essas considerações, tornando tudo mais exagerado, mais artificial, mais distante do mundo real. Mesmo incompreendido, A Vida Marinha de Steve Zissou é uma declaração de amor de Wes à sua identidade como autor. O filme simplesmente esfrega na cara do espectador que seus filmes não tem a mínima pretensão de representarem o mundo real, mas um universo muito particular existente na mente do cineasta. Wes fez quase a mesma coisa com Viagem à Darjeeling (2007) para depois adaptar o aclamado O Fantástico Sr. Raposo (2009) - que foi Indicado ao prêmio de Melhor Animação pela Academia e fez às pazes do público e da crítica com Wes. Talvez Raposo tenha feito mais do que isso, fez o mundo perceber que a maneira como o diretor conduz seus filmes live action é bastante semelhante ao que associamos à estética dos desenhos. Em cartaz nos cinemas com o elogiado O Grande Hotel Budapeste (2014) que deve aparecer no Oscar, assim como ocorreu com o anterior (o nostálgico Moonrise Kingdom/2012), Wes Anderson é um desses sujeitos que basta uma cena para percebermos sua assinatura, mesmo que você não goste dela.
A Vida Marinha com Steve Zissou (Life Aquatic with Steve Zissou/EUA-2004) de Wes Anderson com Bill Murray, Owen Wilson, Cate Blanchett, Willem Dafoe, Anjelica Huston e Seu Jorge. ☻☻
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