Fassbender e Javier: bons atores em filme decepcionante.
O Conselheiro do Crime era uma das produções mais aguardadas de 2013, no burburinho do Oscar o seu seleto elenco fazia muito crítico salivar e colocar qualquer um deles nas bolsas de apostas para as premiações. A direção é do gabaritado Ridley Scott e o roteiro pertence ao celebrado escritor Cormac McCarthy (autor do livro que deu origem ao premiado Onde os Fracos Não Têm Vez/2007) em sua estreia em roteiros para o cinema. Bastou o filme estrear para que a decepção se instaurasse. Apesar do elenco de estrelas, o filme é bastante problemático em sua execução. O filme trata dos apuros de um advogado chamado "carinhosamente" de Conselheiro (Michael Fassbender), ele mantém um relacionamento profissional nebuloso com o estranho Reiner (Javier Bardem) que propõe que se envolva no tráfico de drogas, especificamente na chegada de um carregamento que está chegando ao Texas pela fronteira mexicana com a cidade de Juárez (conhecida por ter uma das maiores taxas de homicídio do mundo). Enquanto o carregamento tenta chegar ao seu destino somos apresentados aos personagens em seus diálogos sobre moral, perversão e conselhos de pessoas que são menos amigas do que parecem. Existe até uma sobreposição de dois casais importantes para o andamento da trama, um deles aparece na cena tórrida que abre o filme - e não se engane, esses são os mocinhos (no caso, o Conselheiro e sua namorada, Laura vivida por Penélope Cruz), o outro casal em cena são os antagonistas, o próprio Reiner e sua mulher, a escorregadia Malkina (Cameron Diaz) que, gradativamente revela-se a maior vilã em cena. Conforme a trama avança a maioria dos personagens descobre que é bem menos esperta do que pensava. Existe aí uma grande ironia com o título do filme, já que o personagem de Michael Fassbender é um joguete nas mãos de seus contatos perigosos. A força motriz do filme deveria ser os dilemas do personagem que se mistura num negócio arriscado com gente pouco confiável, mas a opção de criar mais um painel de situações do que uma história, torna a narrativa um dispersa demais. Diante a narrativa frouxa nem Fassbender escapa. Ele é um ótimo ator, mas seu esforço não consegue costurar a tensão do filme, parecendo que tem pouco a fazer em cena - mostrando-se tão perdido quanto seu personagem. O destaque fica com o casal Reiner e Malkina. Javier Barden mostra-se até inofensivo como Reiner, um malandro que está tão enfeitiçado por Malkina que não percebe o veneno que ela carrega nas veias. Depois de ficar sempre à espreita (e protagonizar uma das cenas mais estranhamente evocativas do cinema recente), Malkina mostra-se a grande protagonista da história, uma vilã de respeito e com um olhar arrepiante - que é quase uma assinatura às frases maldosas que destila aos outros personagens. É engraçado que entre tantos atores celebrados, uma atriz subestimada como Cameron Diaz roube a cena. A filosófica cena final prova que Diaz tem um musculatura dramática bem maior do que Hollywood percebe nela. Aprisionada em papéis bobos em comédias idiotas (só esse ano serão duas), a loura aparece madura em cena, plena da maldade de sua personagem que parece viver num mundo próprio onde os outros são apenas oponentes a serem derrubados. Talvez, se a história fosse contada de forma mais harmônica em seu flerte constante com a danação, O Conselheiro do Crime poderia ser tão contundente quanto Traffic (2000), mas parece somente um esboço do grande filme que poderia ser sobre os signos de poder e luxúria em torno do mundo das drogas.
O Conselheiro do Crime (The Conselor/EUA-2013) de Ridley Scott com Michael Fassbender, Javier Barden, Cameron Diaz, Penélope Cruz, Brad Pitt, Rosie Perez e Bruno Ganz.☻☻
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