Amy, Bradley, Renner, Bale e J.Law: um "Scorsese" deliciosamente Light!
Como bom diretor originário do cinema independente, David O. Russell sabe que os personagens nas mãos dos atores certos pode fazer uma grande diferença no resultado de um filme. A coisa complicava porque o diretor costumava ter atrito com seus atores (ainda hoje todo mundo gosta de lembrar dos berros com a veterana Lilly Tomlin nos bastidores de Huckabees/2004), mas isso é passado. Seus últimos três filmes foram cobertos de indicações ao Oscar, começando com O Vencedor/2010 passando por O Lado Bom da Vida/2012 e chegando no esperto Trapaça/2013 - que mescla atores consagrados nos filmes citados anteriormente, ou seja, depois de um passado conturbado com o elenco, o diretor já criou até uma patotinha! Patotinha, não! Uma senhora patota! Afinal, foi graças a O Vencedor que Christian Bale recebeu sua primeira indicação ao Oscar (e levou para casa o prêmio de coadjuvante), pelo mesmo filme Amy Adams foi indicada ao prêmio de atriz coadjuvante (mas perdeu para sua então colega de elenco Melissa Leo). Ano passado foi a vez de Jennifer Lawrence levar o prêmio de atriz por O Lado Bom da Vida enquanto seu parceiro de cena, Bradley Cooper foi indicado ao prêmio de ator. Por isso mesmo é curioso que esse quarteto estelar consiga novas indicações ao Oscar (e em várias outras premiações) por essa nova parceria com Russell (mas Jennifer e Amy tiveram que se contentar com seus Globos de Ouro de coadjuvante e atriz de comédia e os meninos nem isso). Para além do trabalho com os atores, Russell aqui demonstra um domínio cênico impressionante. A iluminação, a trilha sonora, os figurinos, cabelos (ou perucas), a direção de arte e o ritmo frenético criam uma narrativa que empolga mais do que a sinopse pode supor. Afinal, trata-se de uma história de trapaças, armada com vigaristas profissionais (não estou falando de políticos), políticos (agora sim) e agentes do FBI. David O. Russell não teve pudores em mencionar em entrevistas que seu filme era uma homenagem aos filmes de Scorsese (e isso bastou para pipocar comparações entre o universo Scorsesiano com Trapaça), mas devo dizer que não lembro de Scorsese fazendo um filme como esse (e nem adianta mencionar O Lobo de Wall Street/2013 que Russell não teria como prever o formato do último filme de Scorsese - e se previa, não deve estar nem aí para as comparações). Acho que o Russell se referia à visão um tanto turva que temos dos personagens, de forma que não conseguimos identificar mocinhos e vilões, apenas sujeitos levados por circunstâncias que se complicam cada vez mais. Mas existe uma diferença crucial entre o universo dos dois diretores: a violência. Trapaça é quase um filme infantil se comparado aos maiores clássicos de Scorsese. Deixando as comparações de lado, Trapaça diz-se inspirado em fatos reais (e essa deve ser a primeira piada), ao contar a história da dupla de golpistas Irving Rosenfeld (um Christian Bale bregão) e Sydney Prosser (Amy Adams, surpreendentemente sexy) que são verdadeiros profissionais no ramo. Num desses golpes eles acabam cruzando o caminho do agente do FBI Richie DiMaso (Bradley Cooper, de cachinhos) que utiliza a prisão de Sydney para contar com a colaboração do casal numa operação para descobrir sujeiras políticas. Seu alvo é um político de bom coração de Nova Jersey, Carmine Polito (Jeremy Renner, num papel que parece feito para Mark Wahlberg, o amigo de Russell que ficou de fora da brincadeira) que hesita cair em tentação, mas ao tornar-se amigo de Irving coloca sua carreira em risco - principalmente ao apresentar ao sedento por fama Richie DiMaso um grupo de políticos metidos em investimentos ilícitos. Nessa confusão aparece a esposa maluquete de Irving, Rosalyn (uma hilária Jennifer Lawrence numa atuação menos contida do que nos acostumamos a vê-la) e um flerte inevitável entre Richie e Sydney. No meio de disfarces, escutas e malas cheias de dinheiro, começamos a questionar toda aquela operação e nos perguntamos quem está trapaceando mais nessa história toda, os vigaristas? Os políticos? O FBI? No desfecho os personagens tem seus dilemas a enfrentar e o final deixa aquele gosto de quero mais. Apesar de ter saído da cerimonia do Oscar sem estatueta alguma, Trapaça é uma das comédias mais espertas dos últimos anos e mostra-se um banquete para os olhos e ouvidos. Russell é um cozinheiro de mão cheia!
Trapaça (American Hustle/EUA-2013) de David O. Russell com Christian Bale, Amy Adams, Jennifer Lawrence, Bradley Cooper, Jeremy Renner e Robert DeNiro. ☻☻☻☻
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