Barr e Lucas: ressaca da geração beat.
O cinema ainda está devendo um filme bacana inspirado na obra de Jack Kerouac. Se em 2012 o escolado Walter Salles escorregou na adaptação de Na Estrada, agora é a vez de Michael Polish encarar o desafio de levar para as telas o livro Big Sur, que funciona quase como uma ressaca ao movimento Beat, já que Kerouac constrói sua narrativa sobre todo o peso da fama sobre sua vida particular. Afinal, todo mundo que lê Na Estrada, imagina um jovem Kerouac aventureiro e cheio de energia, sendo que ele já estava quarentão e se afogando em seus próprios fantasmas. Essa insatisfação do escritor real diante de sua idealização é o que motiva a atuação de Jean Marc Barr (que ficou famoso com Imensidão Azul/1988 de Luc Besson e realizou vários trabalhos com Lars Von Trier) que busca refúgio na cabana do amigo Lawrence Ferlighetti (Anthony Edwards) na paradisíaca Big Sur,. Porém, sempre que volta para o convívio com mulheres e amigos sua mente se complica (e então, para não sentir a ressaca, se mantem bêbado). Há muitas ideias em Big Sur, a maioria delas está presente na narrativa em off que soa desnecessária durante a maior parte do filme centrado no desconforto de Jack, que torna-se cada vez mais anti-social e incomodado com a presença até do seu melhor amigo Neal Cassady (Josh Lucas). Neal é casado com Carolyn (Radha Mitchell), mulher com a qual os dois já formaram um triângulo amoroso. Neal traça um plano para que Jack se case com sua amante, Billie (Kate Bosworth) para todos possam se encontrar mais vezes sem as desconfianças de Carolyn. Mas depois de um início de romance tórrido, o próprio Kerouac percebe que aquilo nunca dará certo. O mais curioso é que o diretor consegue acertar na parte mais difícil do filme: manter nossa atenção enquanto Kerouac divaga sobre sua existência sem nenhum parceiro em cena. Sua conexão com as paisagens de Big Sur tranborda numa experiência sensorial bem sucedida ao expectador, mas tudo se complica com a presença dos outros personagens mal apresentados. Assim, figuras importantes na vida de Jack, como Lew (Patrick Fischler), Phillip (Henry Thomas) e Michael (Baltazar Getty) tem pouco coisa para fazer em cena, servem apenas para gerar algum incômodo no protagonista (sobretudo quando vão para a cabana em Big Sur e Kerouac sente seu paraíso em risco), deixando o destaque para a formação de um quadilátero amoroso perigoso (gerador de uma cena sensacional na casa de Lean com todos reunidos). O maior problema do filme é sua reverência às descrições elétricas do livro, no livro elas são fundamentais, na tela, se já transformadas em imagens, são cansativas em vários momentos. Além disso, embora Jean Marc-Barr dê conta do abismo emocional de seu personagem, o tom arrastado em algumas de suas narrações tornam até o texto tedioso. Polish também poderia ter caprichado mais no desfecho - apressado após um momento arrepiante envolvendo Billie, seu filho e uma cova. No fim das contas, fica a imagem de Kerouac sempre com uma garrafa na mão e a impressão de que são as mulheres - que precisam lidar com homens tão instáveis emocionalmente - as que apresentam os trabalhos mais consistentes em cena.
Big Sur (EUA/2013) de Michael Polish com Jean-Marc Barr, Josh Lucas, Kate Bosworth, Anthony Edward, Radha Mitchell, Patrick Fischler e Henry Thomas. ☻☻
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