Xavier e Monia: amigos apaixonados pelo mesmo rapaz.
Não deixa de ser surpreendente que quando Amores Imaginários foi lançado no Brasil, seu diretor, o canadense Xavier Dolan, tivesse apenas 22 anos. Depois de chamar atenção em sua estreia com Eu Matei a Minha Mãe! (2009), o rapaz mudou sua estética e tornou-se mais contido em seu segundo longa. Com fotografia que parece emoldurar um sonho, ele interpreta Francis, o melhor amigo de Marie (Monia Chokri). Os dois vivem grudados e vivendo experiências amorosas frustrantes com relacionamentos que mal duram uma noite. A vida do casal de amigos sofre mudanças quando o loiro Nicolas (Niels Schneider) cruza seus caminhos numa festa e se torna objeto de desejo de ambos. Assim, o que era uma dupla inseparável, torna-se um trio cada vez mais próximo, seja pelos interesses compartilhados por cinema e música, ou pelas segundas intenções que Francis e Marie nutrem pelo rapaz. Dolan não demonstra nenhum traço da histeria de sua estreia atrás das câmeras, preferindo uma abordagem mais sutil e contemplativa dos sentimentos conflituosos que começam a existir no trio quase amoroso. Afinal, somente no final, existem declarações de amor entre eles e o resultado era mais saboroso quando imaginário do que quando torna-se concreto - já que o sabor de desgosto é praticamente inevitável. Dolan (que começou a carreira como ator mirim na TV canadense), apresenta Francis como uma espécie de versão madura de Hubert Minel (seu personagem no filme anterior), numa espécie de possibilidade do que poderia ser o seu futuro (não por acaso, sua mãe nem aparece em cena, ou melhor, aparece, já que Anne Dorval faz uma breve participação como a mãe estapafúrdia de Nicolas). No entanto, apesar de ser a gênese de um quase triângulo amoroso, a relação de Marie com Francis é o que chama mais atenção em cena - já que formam uma espécie de casal perfeito até que a competitividade se instaure entre os dois. Ainda que não expresse em palavras, Amores Imaginários nutre-se especialmente do ciúme que os personagens despertam um no outro (seja como amigos ou amantes) ou da própria solidão que emana deles. No entanto, o texto e a direção de Dolan nunca caem no lugar comum, deixando muito a cargo da mente do espectador. Por isso, torna-se importante ficar atento aos comentários em estilo documental aparentemente soltos de que podem revelar mais sobre Nicolas do que você imagina. Visualmente mais exuberante que seu filme anterior, o longa demonstra que Dolan pretendia amadurecer como diretor e, ainda que abordando mais uma vez um personagem homossexual, seu interesse está além de criar histórias voltadas para o público GLSBT. A naturalidade como retrata a sexualidade de seus personagens, sem gratuidade ou sensacionalismo, mostra-se aqui um dos seus maiores méritos.
Anores Imaginários (Les Amours Imaginaires/Canadá-2010) de Xavier Dolan, com Xavier Dolan, Monia Chokri, Niels Schneider e Anne Dorval. ☻☻☻
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