sexta-feira, 24 de abril de 2015

PL►Y: O Homem que Ri

Grondin: o Coringa do século XIX?

O Homem que Ri deve ser o melhor filme de Tim Burton que não foi dirigido por Tim Burton. Deixa eu explicar melhor. Inspirado no romance de Victor Hugo (1802-1885), o longa de Jean-Pierre Améris (o mesmo do achocolatado Românticos Anônimos/2010) pede emprestado muito da estética do diretor americano para contar a triste história de Gwynplaine (Marc-André Grondin), a inspiração no universo burtoniano aparece nos figurinos de época sombrios, na fotografia, na trilha sonora (que em algumas cenas parece até composta por Danny Elfman) e no humor sombrio, às vezes tristonho utilizado na história. Essas referências acabam se sobrepondo a outra influência relacionada ao filme: o protagonista jovem que carrega a cicatriz de cortes na face, serviu de inspiração para criação do personagem Coringa por Bob Kane na DC Comics. No entanto, Gwynplaine está longe de ser um vilão, pelo contrário, mostra-se mais uma vítima das circunstâncias numa trama de vingança que revela-se aos poucos. Quando a história começa, o personagem é apenas um menino, abandonado em meio a nevasca por um grupo de fugitivos que o deixam para trás -  porque a cicatriz que carrega iria revelar o paradeiro para quem os procurasse. Abandonado à própria sorte, ele acaba encontrando uma menina, Déa (que quando crescida será vividas por Christa Théret) e juntos serão criados por Ursus (Gerard Depardieu), um saltimbanco que utilizará os dois em seus números para chamar atenção dos povoados por onde anda. O trio formará uma família, ainda que Gwynplaine e Déa comecem a ter sentimentos que vão contra a criação de irmãos que receberam. O carisma de Gwynplaine, somado ao seu bom coração irá transformá-lo numa espécie de astro da região, embora ele continue vivendo um forte conflito com as marcas que carrega no rosto. Seus trabalhos acabam chamando a atenção da nobreza, especialmente da duquesa Josiane (Emmanuelle Seigner) que, atraída pelo personagem vivido por ele nos palcos, tenta seduzí-lo. Não demora para que o passado do personagem venha à tona e mude a vida de todos que estão ao seu redor. O diretor Amérris, consegue conduzir seu filme como um estranho conto de fadas, acertando no tom romântico e na transição para o ritmo de farsa que se instaura em sua metade. Ainda que o filme esgarce o comentário social de sua trama sem qualquer sutileza no último ato, Améris demonstra total controle da história que está contando e conta com um ótimo elenco (o desconhecido Marc-André Grondin merece nossa atenção). O celebrado Victor Hugo ficaria orgulhoso do resultado bem cuidado que sua obra (lançada em 1869) recebeu no cinema, numa bem orquestrada transição de conto de fadas para uma dolorosa tragédia humana. 

O Homem que Ri (L'homme qui rit / França - 2012) de Jean-Pierre Amérris com Marc-André Grondin, Gerard Depardieu, Christa Théret, Emmanuelle Seigner, Arben Bajraktaraj e Swann Arlaud. ☻☻☻☻

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