Mitch e Colin: registro de viagem.
O Ganhador do Prêmio Johnn Cassavetes (conferido ao melhor filme independente com orçamento inferior a quinhentos mil dólares) no Independent Spirit Awards desse ano foi para uma simpática comédia sobre dois velhinhos, amigos de longa data, que resolvem viajar para a Islândia. A ideia simples é valorizada pelos diálogos espirituosos entre os personagens, que se distanciam gradualmente dos estereótipos. Mitch (Earl Lynn Nelson) é o mais animado da dupla, embora sempre esteja disposto a pegar no pé de quem está por perto (especialmente com relação às roupas alheias), além de ser bastante chegado a um baseado, enquanto Colin (Paul Eenhoorn) é mais introspectivo e sério - mas vale ressaltar que ambos tem um charme bastante próprio. A dinâmica estabelecida entre os atores/personagens garantem um programa leve, despretensioso e ainda mais interessante quando percebemos a forma como esses dois senhores seguem suas vidas. Os dois são cunhados duas vezes (já que um casou com irmã do outro) e enquanto Colin parece não ter se recuperado do falecimento da esposa, ou do fim de seu último relacionamento, é visível como Mitch é fundamental para que o amigo não se sinta só. O texto assinado pelos próprios diretores, poupa a plateia de lamentos sobre o abandono dos filhos, doenças e outros aspectos que parecem de lei em filmes que retratam idosos. O filme parece mais preocupado em acompanhar a dupla pelas belas paisagens da terra de Björk, seja para tomar banho em lagoas de água quente, caçar géiser, frequentar boates ou interagir com os outros personagens que cruzam o caminho deles. É verdade que não existe uma história propriamente dita, mas uma espécie de diário de bordo da viagem, sem golpes melodramáticos, baixarias ou chororô, sendo um recorte breve, mas revelador dos personagens distintos em suas personalidades. Por escapar de situações manjadas, o filme torna-se mais interessante quando Mitch fica eufórico com a chegada de uma dupla de jovens moças - e elas se mostram mais de carne e osso do que qualquer outra coisa -, o mesmo quando acontece um beijo entre Colin e uma desconhecida, ele é mostrado de forma terna e confortável. Ainda que eu não goste do título Passageiros da Vida, posso dizer que ele faz sentido e combina com o clima da sessão, que não pretende ser edificante, ou uma grande lição de vida. O longa está mais preocupado em desenhar e acompanhar a dupla de amigos como se nem criasse um filme, mas um registro de viagem. Esse aspecto fica tão evidente que as duas cenas dos amigos fazendo gracinha para a câmera são os momentos mais sem graça, já que quebram o clima de que estamos acompanhando aquela viagem mais por uma janela do que propriamente uma tela.
Passageiros da Vida (Land Ho! /Islândia-EUA / 2014) de Aaron Katz e Martha Stephens, com Earl Lynn Nelson, Paul Eenhoorn, Karrie Crouse, Elizabeth McKee e Daníel Gylfason. ☻☻
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