Caleb: a idolatria como doença sem cura.
David Cronenberg ficou reconhecido na década de 1980 com filmes de horror que mexiam com os sentidos e o estômago da plateia. Com a chegada do século XXI, ele tornou seu estilo menos grotesco, mas continuou a provocar. Acho que se perguntassem para Brandon Cronenberg, filho do cineasta, qual a melhor fase da carreira de seu pai, ele responderia, com certeza absoluta, que é a de décadas atrás. Antiviral marca a estreia de Brandon em longa metragem e, ao contrário de muitos filhos de diretores que preferem criar uma voz distante do legado paterno, Brandon prefere mergulhar fundo na cinematografia do pai. O filme retrata um futuro onde as pessoas são tão obcecadas por celebridades que são capazes de se contaminarem com as mesmas doenças que seus ídolos, apenas para sentirem que compartilham as mesmas sensações (febre, enjoo, náusea, dores pelo corpo...) dos seus famosos favoritos. É em uma empresa que fatura alto com essa venda de doenças de celebridades que trabalha o estranho Syd March (Caleb Landry Jones), além de convencer os fãs a se contaminarem com os produtos da empresa, Syd ainda fatura uns trocados contrabandeando os vírus para empresas concorrentes utilizando o próprio corpo. Por conta de sua atividade ilícita (já que as doenças são patenteadas e alteradas para que não contaminem ninguém de graça, somente o fã que a comprou), Syd vive doente, se alimentando a base de sanduíches e suco de laranja. Num mundo onde as pessoas cobiçam a herpes de beldades como Hannah Geist (Sarah Gadon) ou a febre de Aria Noble (Nenna Abuwa), Syd recebe a missão de comprar a nova doença de uma dessas estrelas, mas com a esperança de contrabandear o tal vírus, acaba se contaminando com uma doença rara, incurável e mortal. A partir desse momento, enquanto o organismo de Syd deteriora-se, Brandon Cronenberg mergulha sem pudores no que o cinema de seu pai tinha de mais grotesco. Misturando referências que vão de Videodrome (1983) até A Mosca (1986), o que contamina a limpidez da brancura de sua estética. O diretor vai de encontro à temática que seu pai retrata em suas obras mais recentes (Cosmópolis/2012 e Mapas para as Estrelas/2014) sobre o culto exagerado à vida das celebridades e a sociedade alienante que o alimenta. Exibido no Festival de Cannes em 2012, o filme chamou atenção pela ousadia do diretor estreante, não satisfeito ele reeditou o filme com seis minutos a menos - e eu teria cortado mais alguns. Pode-se dizer que o filme tem quatro atos, sendo que a partir da metade, começa cansar em suas tentativas de gerar surpresas para o espectador, perdendo a oportunidade de ser mais enxuto (a parte em que Syd fica preso a um reality show poderia ter sido cortada sem pensar duas vezes). Apesar de seus tropeços, Antiviral consegue ter um final ainda mais estranho do que tudo o que vemos em sua projeção, mas devo ressaltar que a atuação de Caleb Landry Jones tem papel importante no cumprimento dos objetivos do diretor. O ator de vinte e e cinco anos pode ser lembrado como o mutante Banshee de X-Men: Primeira Classe/2011, mas é em personagens obscuros como o vivido em O Último Exorcismo (2010) e Antiviral que ele se mostra mais a vontade. Com uma expressividade que lembra a de um jovem Willem Dafoe, Caleb promete fazer uma carreira bastante interessante, assim como o jovem Cronenberg.
Antiviral (Antiviral/Canadá-França/2012) de Brandon Cronenberg com Caleb Landry Jones, Sarah Gadon, Douglas Smith, Salvatore Antonio e Lisa Berry. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário