Jenny e Jake: apenas mais uma comédia romântica.
Exibido no Festival do Rio no ano passado, Obvious Child ainda aguarda um espaço para chegar às salas brasileiras. Provavelmente será lançado somente em DVD por aqui. Sem efeitos especiais, sem atores consagrados, o filme recebeu atenção no exterior por sua abordagem bastante natural de uma mulher que pretende fazer um aborto. Vale lembrar que o aborto nos EUA é uma prática legalizada e, com os debates polêmicos constantes sobre o tema no Brasil, é provável que o filme seja prejudicado pelo receio dos distribuidores em imaginar a reação do público diante de uma comédia sobre o assunto. A temática já gerou dramas respeitáveis como Terra D´Água (1992), O Segredo de Vera Drake (2004) e o antológico 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (2007), mas algumas comédias já colocaram o tema em pauta, como Juno (2007) até ganhou o Oscar pelo roteiro ao retratar uma adolescente que desiste de realizar um aborto e resolve entregar seu bebê para a adoção, no entanto, Ruth em Questão (1996) de Alexander Payne ainda é o que demonstra mais ousadia e criticidade ao lidar com o tema. Obvious Child não é uma reflexão sobre o aborto (e nem quer ser), afinal de contas, o tema aparece de forma tão natural que em momento algum alguém questiona a prática. O dilema de sua personagem é outro: deve contar ao pai da criança que está grávida ou não? A pergunta ecoa pela mente de Donna Stern (Jenny Slate), uma comediante que ganha a vida em números de stand up em bares de pouco prestígio. Quando a conhecemos, ela está prestes a receber um fora do namorado que cansou dela fazer piada sobre a intimidade dos dois sobre o palco - e se você não achar graça das piadas dela no número de abertura, a coisa piora consideravelmente quando ela entre em crise consigo mesma e os rancores de ser trocada por outra tomam conta de seu (mau) humor. Numa das noites em que se apresenta ela conhece Max (Jake Lacy), um rapaz educado, meio tímido e inteligente com quem acaba passando a noite... tempos depois descobre que está grávida dele. Começa então o dilema de Donna, que passa a evitar o rapaz enquanto pensa na melhor maneira de contar para ele que está esperando um filho e disposta a abortar. Embora Jenny Slate (indicada a vários prêmios) use várias gracinhas para que simpatizemos com sua personagem, ela faz questão que percebamos a dificuldade de Donna em lidar com a vida de forma séria (tanto que momentos tristes de sua vida precisam ser passados no palco, mesmo que não gerem risadas, apenas constrangimento para ela ou para quem a assiste nos shows). Sempre há uma gracinha ou uma piadinha (algumas até bastante grosseiras) que servem para demonstrar o quanto a personagem tem problemas de lidar com seus sentimentos por Max (que merece um prêmio por compreender toda a instabilidade de Donna). Obvious Child não gera muitas risadas, não causa suspiros, mas um certo incômodo da forma infantilizada como Donna encara a vida. Quanto ao aborto, eu nem vou entrar no debate sobre a forma como aparece no filme, já que nos EUA a prática é legalizada desde 1973, o que torna muito provável que não existam tantos conflitos como imaginamos que o filme possa explorar. Porém, independente do que a personagem faça no final, a naturalização do tema deixou o texto um tanto inconsistente, tornando-se mais uma comédia romântica açucarada. Talvez a ideia funcionasse melhor no curta-metragem de Gillian Robespierre que foi lançado em 2009.
Entre Risos e Lágrimas (Obvious Child/EUA-2014) de Gillian Robespierre com Jenny Slte, Jake Racy, Gabby Hoffman e Richard Kind. ☻☻
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