Thomas, os filhos e a esposa: antes da avalanche.
Depois de receber o prêmio da Mostra Um Certo Olhar em Cannes2014, Força Maior colheu uma indicação ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e, muitos consideravam, que sua presença no Oscar era certa. No entanto, o filme ficou de fora do prêmio de melhor filme estrangeiro. Porém, o longa merece ser visto por qualidades quase inusitadas. O diretor e roteirista Ruben Östlund conta a história de uma família que vai curtir as férias esquiando nos alpes franceses, mas uma quase tragédia irá mudar radicalmente o que era para ser diversão. Um dia, enquanto estavam no restaurante do hotel, visualizaram uma avalanche que se aproximava cada vez mais. Diante do perigo Ebba (Lisa Loven Kongsli) abraça os filhos conforme a avalanche se aproxima, enquanto seu marido, Tomas (Johannes Kuhnke) pega o celular, o par de luvas e foge sozinho. Passado o susto, percebem que a avalanche, ainda que assustadora, era inofensiva. No entanto, a tragédia anunciada tem efeitos devastadores no relacionamento familiar. Östlund apresenta sua família feliz como se fosse parte de um comercial de margarina, para pouco depois, coloca em dúvida os sentimentos do esposo por sua esposa e filhos. Trata-se de um exercício cruel, não apenas para os personagens, como para o espectador também, afinal, a pergunta que paira sobre a reação de Tomas afeta diretamente a ideia que temos de nossa própria reação naquela situação. Enquanto os ressentimentos crescem em Ebba, a tristeza invade os filhos que ainda não conseguem expressar muito bem o que sentiram. Por outro lado, Tomas mostra-sem cada vez mais introspectivo e deprimido conforme Ebba relembra a avalanche em conversas com os amigos, que evocam diretamente um julgamento da postura do patriarca. Embora o instinto de sobrevivência possa ter falado mais alto naquele momento, Ebba não consegue entender a reação do esposo. Aos poucos o ocorrido afeta até alguns amigos do casal, que tomam partido da postura de um e de outro, ressaltando que em meio à reflexão proposta pelo filme, existe até espaço para o humor inusitado do relacionamento entre casais (ou de sua trilha sonora superlativa). Mais interessante do que julgar os personagens (e se você condenar Tomas, também pode se incomodar com a postura de Ebba que ao invés de conversar com ele em particular sobre o assunto, prefere lavar a roupa suja somente na frente dos amigos) é embarcar na discussão que cerca o filme sobre a forma como aquela situação pode deflagrar sentimentos antes ocultos nos personagens. Força Maior pode não ser um filme fácil de assistir para quem está acostumado com o cinema americano, mas evoca os instintos animais que temos dentro de nós de forma bastante reveladora. Sendo assim, até seus dois atos finais, soam mais irônicos do que propriamente heroicos, nos fazendo reavaliar tudo o que observamos desde o início da sessão. Valorizado pelo roteiro e as atuações de seus protagonistas, Força Maior promete gerar discussões por dias após ser visto.
Força Maior (Force Majeure / Suécia - França - Noruega - Dinamarca/ 2014) de Ruben Östlund com Johannes Kunke, Lisa Loven Kongsli, Clara Wettergren. ☻☻☻☻
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