Dorval e Xavier: tempestade entre mãe e filho.
Depois de assistir Mommy (2014), último e premiado longa de Xavier Dolan, fiquei instigado com a carreira do cineasta de 25 anos. A estreia desse jovem canadense na direção aconteceu em 2009 com esse filme que está longe de retratar um matricídio literal. Querido no Festival de Cannes, Dolan foi celebrado como autor assim que seu filme foi exibido - e ele mal havia completado vinte anos. Eu Matei a Minha Mãe! tem elementos autobiográficos sobre a relação do diretor com a mãe, mas merece mais atenção por retratar o complicado processo de crescimento de seu protagonista. Hubert Minel (o próprio cineasta), vive com a mãe (a ótima Anne Dorval) em um relacionamento tempestuoso, mas se ela tem lá seus momentos de chatice, Hubert é de longe um sujeito mais difícil de conviver. Hubert grita muito o filme inteiro, no entanto, sua inquietação pode ser atribuída às angústias de seus dezesseis anos, sua vontade de alçar voo, sem ter condições concretas para tanto. Prova disso é o fato de querer morar sozinho num apartamento, mas sua mãe boicotar por considerar completamente absurdo que ele o faça tão jovem. Por outro lado, Dorval compõe uma mãe quase contida, que tenta ser paciente com a explosão hormonal de seu filho - mas que nem sempre consegue. Hubert tem aspirações de tornar-se escritor, tem na professora a sua confidente e melhor amiga (vivida por Suzanne Clément) e namora o amigo Antonin (François Arnaud) sem que sua mãe saiba. O relacionamento caótico entre mãe e filho irá direcionar o jovem Hubert para um colégio interno e sua distância emocional com a mãe irá se tornar ainda maior. O diretor utiliza vários recursos para expor os pensamentos do personagem, mas mesmo assim, a dimensão humana impressa por Anne Dorval consegue ser maior do que qualquer filosofice de Dolan. Hubert parece sofrer de uma espécie de histeria crônica, que não comove e muitas vezes beira o cômico. Por outro lado, as cenas em que sua mãe descobre que o filho tem um namorado consegue ser mais emocionante do que qualquer grito afetado de Hubert. O título Eu Matei a Minha Mãe! é referente a uma mentira contada por Hubert na escola, mas ilustra com precisão a dificuldade que o jovem personagem encontra para seguir seus caminhos, inclusive quando se trata de assumir a homossexualidade para a pessoa que esteve ao seu lado desde antes do nascimento (e essa dicotomia nas emoções aparece em algumas das melhores reflexões do personagem), enfim, Freud explica! Para quem curtiu Mommy, vale a pena conferir o debut do diretor e perceber as semelhanças (que vão além das atrizes do diretor) entre as duas obras, que resultam quase complementares.
Eu Matei a Minha Mãe! (J'ai Tué ma mére/Canadá - 2009) de Xavier Dolan com Xavier Dolan, Anne Dorval, Suzanne Clément, François Arnaud e Niels Schneider. ☻☻☻
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