Camp, Dreama e Dowd: a obediência em questão.
Obediência é um filme tão simples que chega a surpreender a plateia pelas sensações que gera, sendo que, não seria exagero afirmar que exige nervos de aço do espectador que quiser conhecer o pior dia da vida de Becky (Dreama Walker), uma jovem funcionária de uma lanchonete de fast food que sofrerá grandes constrangimentos no que deveria ser apenas mais um dia de trabalho. Afinal, ela mal começa a trabalhar quando a gerente, Sandra (Ann Dowd) recebe a ligação de um policial dizendo que houve uma denúncia: Becky roubou dinheiro da bolsa de uma cliente - e o dinheiro precisa aparecer. Argumentando estar ocupado demais com outros desdobramentos do caso, o policial diz que precisa da colaboração de Sandra e começa a tortura psicológica de Becky perante a plateia. Levada para um depósito, o policial instrui que Becky retire toda a roupa e sofra um ciclo de humilhações e constrangimentos, que em momento algum, desperta o estranhamento de Sandra - nem mesmo quando o tal policial estabelece que Becky seja vigiada por homens variados (que deverão cumprir orientações estranhas e descrever as reações da moça). Para o espectador mais esperto, não fica difícil saber o que acontece em cena, especialmente quando levamos em conta o título que entrega as intenções do diretor e roteirista Craig Zobel: abordar como o ser humano pode ser capaz de realizar atos abusivos quando segue orientações de quem confere autoridade. Essa ideia do lado obscuro do homem já apareceu em outros filmes como Sobre Meninos e Lobos/2003 (quando o menino entra no carro com um homem vestido de policial e outro de padre e termina molestado sexualmente por dois farsantes) e O Leitor/2008 (quando a alemã de vida comum segue ordens de oficiais nazistas sem perceber os estragos que provoca). Em Obediência, a maioria dos personagens parece cega quando manipulada por telefone, sem questionamento, sem pensar na obviedade absurda da violência física e moral que provoca. No entanto, vale ressaltar, que o filme poderia ser facilmente desacreditado em seus exageros cênicos se não retratasse uma história real inspirada em quase uma centena de casos semelhantes que aconteceram nos EUA. Zobel não cria sua atmosfera sufocante para que condenemos seus personagens, mas para que possamos perceber como palavras são capaz de conduzirem o comportamento dos outros com uso de frases específicas, algumas ameaças, elogios e o aproveitamento de um bocado de ingenuidade (já que os que entendem o que está havendo são descartados e rapidamente classificados como problemáticos e rebeldes pelas autoridades envolvidas). Para nos fazer embarcar nessa jornada desconfortável, a atuação de Ann Dowd é crucial na condução do horror da situação que presenciamos. Dowd foi indicada a vários prêmios por sua atuação (como o Independent Spirit de atriz coadjuvante em 2012), o resultado é tão certeiro que o filme foi lembrado como um dos melhores de 2012 no National Board of Review e considerado o melhor filme no Amazonas Film Festival do mesmo ano. O mais interessante da obra é a maestria com que o diretor gera uma tensão insuportável com os poucos recursos que aparecem em cena.
Obediência (Compliance/EUA-2012) de Craig Zobel com Dreama Walker, Ann Dowd, Pat Healy, Phillip Ettinger, Bill Camp e James McCaffrey. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário