Dakota e Charlie: vivendo o casal literário mais falado dos últimos anos.
Talvez por ter lido obras de Henry Miller escondido durante a minha adolescência, o livro 50 Tons de Cinza de E.L. James, nunca me chamou atenção. Sobrevivi à febre de ver todo mundo falando sobre o livro (incluindo várias amigas) e ler apenas a sinopse da história. Nada contra quem curtiu o livro, apenas não me interessou ler sobre a moça ingênua que cai nas garras de um ricaço adepto do sadomasoquismo. Talvez eu tenha introjetado a máxima do (sempre citado) amigo Osmar: "Fuja dos best-sellers como o diabo foge da cruz" sem que me desse conta. Sempre achei irritante o alardeado sucesso do livro pelas descrições das cenas de sexo, afinal de contas, acho que quando isso ocorre é porque a sexualidade ainda não é vivenciada com a naturalidade que deveria no século XXI. Diante dos milhões de livros vendidos, era evidente que Hollywood (com cada vez mais fome de trilogias) o transformaria em filme. Houve uma polêmica danada quando começaram a especular sobre quem deveria viver os protagonistas (os campeões de votos eram os ex-astros infantis Ryan Gosling e Emma Watson, que não passaram nem perto do projeto), quando escolheram Dakota Johnson e David Hunnam, os fãs da obra chiaram alto e Hunnam acabou expulso do projeto. Em seu lugar colocaram o modelo de cuecas Calvin Klein, Jamie Dornan (que também atua na série The Fall) e caiu a ficha na mulherada que nenhum ator iria satisfazer a expectativa de um personagem construído na mente de mulheres do mundo inteiro. Acabei assistindo ao filme depois dos elogios que Dakota Johnson recebeu. Lembro da filha de Melanie Grifith e Don Johnson sendo apresentada como a Miss Globo de Ouro em 2006, desde então a neta de Tippi Hedren fez alguns papéis pequenos que nunca a deixaram em evidência. Pois aos 25 anos, sua carreira parece ter dado uma guinada, graças à mudança de foco proposta pela diretora Sam Taylor-Johnson sobre a obra. Sam explora o romance entre Anastasia Steele e Christian Grey como um jogo de sedução, onde tanto ele quer satisfazer suas fantasias como ela quer fazê-lo dobrar-se aos que ela espera de um relacionamento "normal". Muita gente reclamou que o filme ficou pudico demais, sem a voltagem erótica das 480 páginas do livro. Reclamaram dos poucos palavrões, dos atores não mostrarem os genitais, das poucas cenas de sexo, da concepção conservadora delas, ou seja, o povo queria mesmo era uma variável dos filmes pornôs que se encontram às pencas na internet. É verdade que o filme deixa o romance entre os dois um tanto fofinho demais para toda a polêmica em torno do livro, mas também, muita gente quando lê um livro imagina coisas que nem sempre quer ver sentado numa sala de cinema. No fim das contas, o sucesso do filme garante a gravação dos outros dois livros. A adaptação do primeiro livro gira em torno da apresentação dos personagens e do famigerado contrato que Grey negocia com Anastasia para que ela seja sua submissa (a negociação em si gera uma das cenas mais curiosas do filme). 50 Tons de Cinza é bastante certinho visualmente, mas Dakota dá conta de sua personagem sutilmente insinuante e Dornan consegue compor um Grey distante e quase gélido. De resto é um jogo de sedução onde um quer submeter o outro às suas vontades, algo comum no relacionamento de qualquer mortal - e nem posso dizer que há originalidade na fantasia do ricaço pervertido (com nome de conotação religiosa) somado à moça virginal (com nome de princesa russa) doida para se entregar aos prazeres da carne... então, que venha as próximas etapas do relacionamento do casal literário mais falado dos últimos anos - e ainda acho que a trilogia é a cara do diretor Adrian Lyne, que tem no currículo Nove Semanas e Meia de Amor (1986), Atração Fatal (1987), Proposta Indecente (1993), Lolita (1997) e anda sumido desde Infidelidade (2002), quem sabe ele não encontra o tom que as fãs tanto desejam?
50 Tons de Cinza (50 Shades of Grey/EUA-2015) de Sam Taylor-Johnson com Dakota Johnson, Jamie Dornan, Marcia Gay Harden, Rita Ora e Jennifer Ehle. ☻☻
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