Jacob e Brie: excelentes atuações.
Ao lermos o livro Quarto de Emma Donoghue, percebemos que o grande diferencial da narrativa é o fato de nos apresentar o olhar de uma criança sobre uma história devastadora. Afinal, Jack tem cinco anos e vive num cômodo com a mãe. Não se trata de não terem dinheiro para morar num lugar melhor, a mãe de Jack foi raptada há sete anos e colocada naquele lugar por um maníaco - que Jack chama de Velho Nick. Desde então, ela não viu mais a luz do dia, ao não ser pela claraboia do quarto e Jack não faz a mínima ideia de como é o mundo lado fora (talvez uma vaga perspectiva pelo que assiste na TV). Traduzir uma história dessas para o cinema é sem dúvida um grande desafio, mas o diretor Lenny Abrahamson (de Frank/2014) cumpre com uma eficiência surpreendente. Desde que foi exibido pela primeira vez no festival de Toronto (e saiu de lá com o título de melhor filme do Festival), o longa começou a ser um dos filmes mais cotados para as premiações. Saiu do Globo de Ouro com o prêmio de Melhor Atriz (Brie Larson) e chegou ao Oscar como o representante indie da temporada com quatro indicações (Filme, direção, atriz e roteiro adaptado). O Quarto de Jack é um filme que consegue ser bastante original por manter o olhar da criança sobre o que acontece ao seu redor (e ele é vivido com uma desenvoltura embriagante por Jacob Tremblay), se por um lado, isso ameniza o que a narrativa tem de mais assustador, Abrahamson consegue contornar isso utilizando o poder de sugestão para ressaltar o que é desagradável na história. Pontuando a narrativa com aquelas explicações que só as crianças podem dar ("os presentes são tirados, por mágica, da televisão", "as pessoas da TV são feitas de luzes e cores" ou "no mundo não para de acontecer coisas e mais coisas"), o filme sempre muda nossa perspectiva sobre os personagens, cabendo a Jack o assustador deslumbramento diante do novo e à mãe, a terrível sensação de recomeçar após anos de isolamento. O filme mostra que não está interessado na parte judicial da história, ou no apelo sensacionalista da mídia, sua preocupação está nas pessoas, no desenvolvimento das personalidades e dos laços que se constroem, fortalecem ou se rompem. O Quarto de Jack chama atenção justamente por ser um filme incomum ao acertar os momentos em que precisa mudar de tom e escolher caminhos, assim como seus personagens. Nesse ponto, a atuação de Brie Larson merece todos os elogios, já que dá conta das oscilações de sua personagem com maestria. Embora seja pouco conhecida, a atriz atua desde os nove anos, talvez por isso tenha uma espontaneidade de veterana. No entanto seria injusto não elogiar o prodígio Jacob Tremblay, um verdadeiro achado, que conduz a trama em vários momentos complicados, inclusive ao final de rasgar o coração. Equilibrando doçura e obscuridade, O Quarto de Jack merece um lugar de honra na temporada.
O Quarto de Jack (Room/Irlanda-Canadá/2015) de Lenny Abrahamson com Brie Larson, Jacob Tremblay, Joan Allen, William H. Macy, Sean Bridgers e Cas Anvar. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário