Rachel, Mark, Brian, Michael e John: uma bomba nas mãos.
Em 2001, para além do ataque ao World Trade Center, outra história ganhou espaço nos jornais: os casos de crianças molestadas por sacerdotes católicos. A situação ganhou proporções assustadoras após a publicação de uma matéria no jornal The Boston Globe que afirmava que há décadas a igreja tinha ciência dos casos de pedofilia envolvendo padres, mas a solução encontrada era apenas transferir os abusadores para outras paróquias, promovendo um verdadeiro rodízio de ameaças e encaminhando outros para tratamentos em grupo não muito eficazes. Com relação às vítimas, a situação era mais frustrante: acordos realizados fora dos tribunais e vozes abafadas para evitar problemas na imagem de uma das instituições mais poderosas do mundo. Spotlight - Segredos Revelados do diretor Tom McCarthy ganha cada vez mais força nessa reta final do Oscar por seu caráter de filme denúncia (embora a denúncia já tenha ocorrido há tempos) acoplado ao seu empenho ao reproduzir o trabalho investigativo de um grupo de jornalistas que dá título ao filme. O Spotlight está em atividade desde a década de 1970 e é reconhecido pelo trabalho de excelência que desempenha, mas fica evidente como a chegada de um novo editor ajudou a dar uma sacudida nas intenções dos jornalistas. Quando o editor Marty Baron (Liev Schreiber) entra em cena, ele deixa claro que pretende fazer do jornal novamente uma referência e percebe num caso de abuso, que ninguém deu muita importância, o fio de uma história que merece ser contada. É interessante como o diretor se apropria desse momento, até Baron instigar seus jornalistas o filme parece um tanto sem rumo, mas conforme o fio é puxado, uma rede de informações se desenha de forma assustadora, envolvendo quase uma centena de padres e incontáveis sobreviventes à situação de abuso. Sendo assim, cabe a Walter Robbinson (Michael Keaton), Mike Rezendes (Mark Rufallo), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matt Carroll (Brian d'Arcy James) superar os obstáculos em busca de entrevistas, provas e arquivos que comprovam não apenas a culpa de um grupo de padres, mas do funcionamento de um sistema que não lida de forma apropriada com os casos de abuso sexual cometidos pelo clero. McCarthy conta com um elenco exemplar (que ganhou o prêmio do Sindicato de Atores recentemente, além de McAdams e Rufallo concorrerem como coadjuvantes no Oscar que se aproxima), contando ainda com a ajuda de Stanley Tucci e Billy Crudup na pele de personagens que já lidam com o problema há tempos e sempre se depararam com a indiferença dos demais (inclusive da própria imprensa). O roteiro de John Singer e Tom McCarthy é eficiente ao contar a sua história, mas poderia ter explorado mais como o trabalho afeta a vida dos jornalistas (mostradas de forma rápida em poucos momentos). A edição também ajuda a manter o ritmo e o interesse num filme que não é exuberante visualmente, mas que consegue contar algo complicado evitando o sensacionalismo (como o próprio Spotlight faz). Indicado ao Oscar de melhor diretor, Tom McCarthy demonstra segurança ao lidar com um filme ambicioso, suas obras anteriores (incluindo Ganhar ou Ganhar/2011 e O Visitante/2007) já demonstravam seu olhar sensível perante as histórias que conta - e isso faz toda a diferença no que poderia ser apenas mais um filme burocrático sobre jornalismo. Com sua atmosfera inspirada nos clássicos da década de 1970 (especialmente Todos os Homens do Presidente/1976), Spotlight é um filme que merece ser visto (e se você se interessou pela história, vale conferir o chileno O Clube/2015 de Pablo Larraín - ainda estou devendo uma resenha sobre ele aqui no blog).
Spotlight - Segredos Revelados (Spotlight/EUA-2015) de Tom McCarthy com Michael Keaton, Mark Rufallo, Rachel McAdams, Brian D'Arcy James, Stanley Tucci, Billy Crudup e John Slattery. ☻☻☻☻
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