Hardy e Leo: traição e sofrimento em 1820.
Existem filmes que são claramente feitos para que seu protagonista ganhe prêmios, portanto, essa é exatamente a sensação quando você assiste Leonardo DiCaprio comendo o pão que Alejandro González Iñárritu amassou em O Regresso. Indicado a doze Oscars, o filme é um dos favoritos ao prêmio principal e, tem como certeza absoluta, finalmente dar o prêmio para o ator. Vale lembrar que o diretor Alejandro levou os prêmios de melhor filme, direção e roteiro original por seu trabalho em Birdman, o grande premiado do ano passado e, se repetir a dose em 2016, será um caso inédito perante a Academia (levando em conta que trata-se de um mexicano, a coisa fica ainda mais interessante). Ao mesmo tempo, Alejandro não poderia ter feito um filme mais diferente do que sua aclamada obra anterior. Se Birdman era todo metalinguístico e com uma atmosfera claustrofóbica, O Regresso é seu perfeito oposto. O tom é dos épicos clássicos, as cenas abusam dos planos abertos. A ousadia fica por conta do realismo impressionante de cenas que demonstram a jornada de Hugh Glass (DiCaprio) por sua sobrevivência. Contando uma história real, a história se passa no ano de 1820, quando Glass pertencia a uma expedição do comércio de peles e, não bastasse os conflitos com os índios que habitavam a região, ele é atacado por um urso (numa das cenas mais impressionantes do filme). Seus companheiros então enfrentam um dilema diante do corpo dilacerado de Glass e o rigoroso inverno que enfrentam. Ele acaba sendo deixado para trás, por conta das atitudes nada louváveis do ambicioso John Fitzgerald (Tom Hardy, merecidamente lembrado na categoria de ator coadjuvante). Hugh enfrentará um longo caminho não apenas para sobreviver, mas para desmascarar o homem que quase o enterrou vivo. Longe de ser um filme apenas de vingança, Iñárritu quer algo mais, com cenas longas e contemplativas, quase sem cortes, mostrando os embates da natureza em analogia com todo o sofrimento de Glass. O resultado é uma espécie de cria quase A Odisseia do Século XIX em sua poesia visual bela e crua. Em vários momentos, a narrativa em off misturada às memórias de Glass remetem à obra de Terrence Mallick se misturando com os grande épicos hollywoodianos. Tecnicamente o filme é impecável e o elenco está ótimo em cena (além de Leo e Hardy, os atores Will Poulter e Domhnall Gleeson tem ótimos momentos - e você percebeu que Gleeson tem seus quatro filmes de 2015 indicados ao Oscar?), porém, acho que algumas partes poderiam ter ficado mais enxutas na ilha de edição, especialmente sua primeira meia hora, que é mais confusa do que eficiente ao tentar apresentar os personagens - principalmente, a história de Glass e Hawk (eu teria cortado ela toda e começado pouco antes da cena do urso). Em alguns momentos a ousadia tropeça na pretensão, mas nada que retire de O Regresso sua beleza visual arrebatadora - que só comprova o talento versátil do diretor - resta saber se ele conquistará a Academia mais uma vez. Quanto a Leonardo DiCaprio ele realmente cresceu bastante como ator nos últimos anos, ao ver sua atuação em O Regresso você pensa que tudo aquilo é real, não apenas o sofrimento ilimitado do personagem, mas também suas emoções diante de uma vida destruída. Se DiCaprio quer um Oscar ele escolheu o papel certo de 2015!
O Regresso (The Revenant/EUA-2015) de Alejandro González Iñárritu com Leonardo DiCaprio, Tom Hardey, Domhnall Gleeson e Will Poulter. ☻☻☻☻
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