Amy Winehouse: ascensão e queda de uma voz poderosa.
É interessante perceber que existe um verdadeiro duelo de divas musicais na categoria de melhor documentário do Oscar 2016! Afinal, os deuses do cinema fizeram os filmes sobre Amy Winehouse (1983-2011) e Nina Simone (1933-2003) estrearem em 2015 de formas distintas (um com toda pompa do Festival de Cannes o outro com destaque na Netflix). Quase fiz uma resenha conjunta dos dois, mas (para não estimular comparações) resolvei escrever separadamente. O documentário sobre a inglesa Amy Winehouse recebeu exibições especiais no Brasil e participou de alguns festivais, sempre chamando atenção pelo vasto material coletado pelo diretor Asif Capadia (o mesmo que em 2010 lançou o documentário Senna, sobre o famoso piloto brasileiro). Imagino o quanto foi exaustivo para o documentarista organizar tantas filmagens, fotos e gravações da cantora desde os tempos em que era apenas uma jovem inglesa de origem judia. Amy começa como um retrato um tanto aleatório da estrela, seja do ponto de partida onde canta Happy Birthday junto aos amigos e sua voz se sobressai, passando pela confusão emocional provocada pelo divórcio de seus pais. Asif faz o possível para não criar relações de causa e efeito na trajetória de uma das maiores vozes do século XXI, mas surgem a todo instante diálogos que pareciam proféticos para uma artista que recebia atenção por suas músicas e pela vida regada a álcool e drogas variadas. Porém, para os fãs, é emocionante perceber como nasceu seu primeiro álbum, Frank (2003), lançado após Amy ficar famosa por sua trajetória em pubs londrinos. As vendas iniciais do CD surpreenderam, especialmente por Amy estar bem distante do som rock indie que fazia sucesso na época (The Kills, Libertines...). Com sua voz educada a partir das dvias da música americana, sobretudo do jazz, Winehouse era dona de um talento realmente estimulante aos ouvidos. Ao mesmo tempo, a voz poderosa, contrasta com o corpo que torna-se cada vez mais frágil e a alegria inconsequente que começa a ceder espaço para um processo de autodestruição, especialmente motivado pelo seu problemático relacionamento com Blake Fielder-Civil, responsável por apresentar Amy às drogas pesadas - embora, em várias cenas, o maior vício de Amy fosse no próprio Blake (num processo obsessivo onde um deveria sentir a mesma coisa que o outro). Ironicamente, foi graças à primeira separação dos dois que Amy criou sua obra prima, o álbum Back to Black (2006), um ponto mais sombrio e infinitamente mais emocional que o anterior (e o filme merece crédito por retratar essa trajetória). No entanto, conforme cresceu o sucesso, cresceram os problemas. Entre reabilitações, shows cancelados, assédio incansável da mídia, escárnio da imprensa, o uso de drogas e álcool só aumentava num verdadeiro circo de horrores. Asif Capadia beneficia-se de contar uma triste história da cultura pop recente que todo mundo conhece por uma perspectiva diferente, vista por dentro de toda a decadência física e emocional de Amy Winehouse. Entre depoimentos de amigos, familiares, produtores e ex-namorados, o que se percebe é que Amy não conseguia lidar com seus fantasmas e eles só aumentaram quando sua vida se tornou um retrato de todo o estrago que as drogas (e incluo o álcool nesse grupo) podem provocar. No meio de todo o caos, momentos como sua consagração no Grammy e o dueto com Tony Bennett são paradoxais, já que são de uma intensidade emocional absurda, ao mesmo tempo que se banham na melancolia de vermos uma grande estrela perder o brilho diante dos nossos olhos, seja nos bastidores ou nos holofotes do showbizz.
Amy (Reino Unido/EUA-2015) de Asif Capadia com Amy Winehouse, Nick Shymansky, Blake Fielder-Civel, Lauren Gilbert, Juliette Ashby, Mos Def e Mitch Winehouse. ☻☻☻☻
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