Os moradores: de simpáticos a ameçadores.
Desde que escrevi sobre o filme chileno O Clube em meu post sobre o indicado ao Oscar Spotlight/2015, vários amigos começaram a me cobrar um comentário sobre o polêmico filme do aclamado diretor Pablo Larraín. O longa ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim no ano passado e foi indicado ao Globo de Ouro de filme estrangeiro. Embora Larraín tenha concorrido ao Oscar em 2013 por No (2012), ele ficou de fora ao prêmio desse ano, principalmente por conta de todo a discussão que o filme gerou. No Brasil ele não recebeu muita atenção do público, mas a crítica ficou atenta à história pontuada por segredos e crueldades. Larraín, parece inspirado no cinema de Mark Haneke para construir o clima seco do filme, que consegue ser ainda mais estranho que o premiado Tony Manero (2008), segundo filme do cineasta chileno. O Clube conta a história de um grupo de velhinhos que mora numa casa de praia sossegada no litoral chileno. As primeiras cenas deixam claro que o grande passatempo do grupo é a corrida de cachorros que acontece na cidade, sendo de responsabilidade de Vidal (Alfredo Castro, ator favorito do diretor) a responsabilidade de treinar o mascote da casa. Eles ainda conversam, cantam rezam, se alimentam e contam com a ajuda de uma mulher, Mónica (Antonia Zegers), para cuidar da residência. Eis que a rotina da casa é quebrada quando recebem a visita de um padre que traz outro morador para lá e, enquanto Mónica explica para o novo hóspede as regras da casa, descobrimos que todos ali são padres que participam de uma espécie de retiro de penitência à margem da sociedade. Tudo piora quando um desconhecido começa a gritar em frente à casa descrevendo como o novo morador o molestou quando era criança. É quanto acontece uma morte na trama e uma investigação começa a acontecer envolvendo todos os moradores da residência. Conduzida pelo enviado especial da igreja, Padre Ortega (Marcelo Alonso), a vida de todos na casa e colocada em risco. A partir da introdução de Ortega na trama, o filme tem momentos de entrevista com os padres e a madre reclusa, mas nunca fica muito claro o que os levaram até ali. O interesse do roteiro é outro: expor como a religião pode inibir o prazer e, por isso mesmo, criar consequências desastrosas. Ortega cria regras mais rígidas para a casa e desenvolve uma antipatia especial pelo Padre Vidal. O Clube aos poucos torna aquele grupo de simpáticos velhinhos em sujeitos um tanto ameaçadores e o que era para ser um dramalhão, passa a ganhar toques de suspense. Conforme a trama avança, acordos começam a aparecer para manter a casa como estava antes e... Larraín cria uma última meia hora assustadora, tão dolorosa que é de partir o coração - mas o desfecho é irônico (que rende várias interpretações, de acordo com o tamanho da fé que o espectador tem nos personagens). Para muitos o resultado é apenas desagradável, para outros é uma brilhante analogia sobre como a igreja cuida de seus tropeços sacrificando inocentes.
O Clube (El Club / Chile - 2015) de Pablo Larraín, com Alfredo Castro, Antonia Zegers, Marcelo Alonso, Jaime Vadell, Roberto Farias e Alejandro Goic. ☻☻☻☻
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