O casal Macbeth: conspirações em nome do poder.
Confesso que Macbeth é meu texto shakesperiano favorito. Li a história na adolescência, motivado por todos os comentários sobre a maldição que rondava a peça (era 1992 e e existia uma montagem estrelada por Antonio Fagundes e Vera Fischer na época). Aquela mistura de cobiça, loucura, culpa e violência tecida pela poesia de Shakespeare colocou a obra entre as minhas favoritas. Recentemente, quando descobri que haveria uma nova versão para o cinema estrelada por Michael Fassbender e Marion Cotillard, eu fiquei ansioso para assistir. Exibido em Cannes, o filme estava cotado para as premiações de final de ano, mas bastou estrelar junto aos pesos pesados da temporada para que a crítica começasse a ver essa nova versão com desconfiança. Lançado sem grande alarde nos cinemas brasileiros na véspera do natal, o filme ainda recebeu um aposto horrendo por aqui (Ambição e Guerra? Isso era realmente necessário, distribuidores?). Assinado pelo diretor australiano Justin Kurzel (do perturbador Snowtown/2011), o filme é um primor estético com cenas sujas, escuras e enfumaçadas que evocam o período medieval. O predomínio do vermelho e do preto, traçam a atmosfera ideal para a história do barão escocês Macbeth (Fassbender), que mal acabou de enterrar seu filho bebê e perde o primogênito na batalha sangrenta que abre o filme. Ao final da batalha, junto ao amigo general Branquo (Paddy Considine), os dois são surpreendidos por um trio de bruxas que afirmam que Macbeth se tornará rei e que Branquo será pai de muitos reis, embora não seja um. Os dois estranham aquela profecia, mas ficam um tanto maravilhados com as revelações. Ao contar para sua esposa, Lady Macbeth (Cotillard), ela demonstra estar disposta a tornar a profecia real, basta convencer o marido a matar o rei (David Thewlis) enquanto lhes faz uma visita. A partir daí, tem início uma das maiores tragédias da dramaturgia mundial, com Macbeth tornando-se um tirano assassino capaz de eliminar qualquer um que comprometa o seu reinado. Kurzel faz um belo trabalho, criando uma das versões mais intensas de Shakespeare para o cinema, no entanto, o filme erra em alguns aspectos. Embora não deixe a sensação de teatro filmado por boa parte de sua duração, Kurzel opta por uma edição fragmentada que mostra-se confusa no início, sem que o espectador possa perceber o que acontece antes ou depois de cada cena. Porém, a entrega dos atores compensa essa confusão inicial. Então ele comete mais três erros graves. O primeiro, eu já imaginava que aconteceria, já que o filme é curto (menos de duas horas, quando a peça rende bem mais que isso) o que sacrifica a transição dos personagens - perceba como Macbeth torna-se um vilão rápido demais, enquanto Lady Macbeth se arrepende ao mesmo tempo. Neste ponto surge o segundo problema do filme: Lady Macbeth aparece pouco na metade final da história, tornando-se quase inútil - o que é lamentável diante das belas cenas que Cotillard tinha na primeira metade da produção. O terceiro é que o monólogo final de Macbeth destoa de todo o resto do filme, parecendo artificial demais. Diante da arrebatadora cena final do filme, você até poderia esquecer as imperfeições do que poderia ser a obra prima de Kurzel, mas fica a estranha sensação de que ele quase chegou onde queria. uma pena, já que ele contou com um elenco de primeira em plena sintonia (o que conta muito a favor do cineasta). Vale lembrar que toda a plasticidade do filme rendeu o convite para o moço realizar Assassin's Creed, que é estrelado por Michael e Marrion e estreia no final de 2016 (e que muitos já veem semelhanças com cenas de seu "inovador" Macbeth).
Macbeth - Ambição e Guerra (Macbeth/Reino Unido-França-EUA/2015) de Justin Kurzel com Michael Fassbender, Marion Cotillard, Paddy Considine, David Thewlis e Hilton McRae. ☻☻☻
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