Alicia e Lili: romance de meninas?
A vida do primeiro transexual a se submeter à uma cirurgia de mudança de sexo era o assunto perfeito para se fazer um grande filme. A história de Lili Elbe quase saiu do papel com Gwyneth Paltrow e Nicole Kidman vivendo o casal de artistas plásticos Einar (que depois se torna Lili) e Gerda Wegener, mas... o projeto teve tantas versões e alterações que chega a tela numa versão diluída de tudo o que se esperava. Além disso vem com aquela balela de "versão fictícia" de uma história real que sempre levanta suspeitas. O desafiador papel de Einar/Lili ficou com Eddie Redmayne, que está em alta desde que ganhou o Oscar por sua atuação de Stephen Hawking em A Teoria de Tudo/2014 e o de sua esposa ficou a cargo da competência sueca de Alicia Wikander (de Ex-Machina/2015). Pode se dizer que os dois dão o sangue pelo filme - é graças a eles que o filme não se torna um daqueles filmes onde figurinos e cenários de época são o mais importante. A direção de Tom Hooper (de O Discurso do Rei/2010) não consegue acrescentar nada, funcionando no piloto automático desde o início quando Einar ajuda Gerda posando para sua pinturas e com uma brincadeira aqui e outra ali, uma fantasia erótica acolá... Einar começa a perceber que sente-se mais a vontade com seu lado feminino. De acordo com o roteiro até parece que se não fosse as fantasias do casal, o lado mulher de Einar continuaria adormecido, mas não é bem assim. Aos poucos, o personagem confessa que sua sexualidade sempre foi diferente, o que instiga e desconforta sua fiel esposa, principalmente quando ele começa a flertar com um homem (Ben Whishaw). São sempre nos momentos que A Garota Dinamarquesa precisa lidar com atração de Einar/Lili por homens que o filme escorrega. Aparentemente ele e Gerda eram satisfeitos sexualmente, mas ele passa a ter uma vida celibatária quando se assume mulher. Isso mesmo, até quando encontra seu grande amor da adolescência (Matthias Schoenaerts) não acontece nada... mais artificial é impossível! Sempre escuto as pessoas falando que o filme é delicado, romântico, lindo... sinceramente, o considerei decepcionante em sua hipocrisia ao tratar com tanta timidez e conservadorismo um personagem tão complexo. Afinal, Einar submete-se a uma cirurgia delicada e perigosíssima para o início do século XX para ser Lili por completo, mas é praticamente uma freira quando se trata de sentir desejo e fazer sexo (afinal, nem com Gerda acontece mais nada). Resta ver Redmayne caprichando nos olhares, sorrisos (até demais) e gestos femininos até o fim da sessão acompanhado por uma devotada esposa apaixonada. Não é por acaso que o filme concorre aos Oscars de melhor ator (Redmayne), atriz coadjuvante (Alicia), figurino e direção de arte, afinal, são os aspectos que ficarão na lembrança por algum tempo.
A Garota Dinamarquesa (The Danish Girl/Reino Unido-EUA-Dinamarca-Bélgica-Alemanha/2015) de Tom Hooper com Eddie Redmayne, Alicia Vikander, Ben Whishaw, Matthias Schoenaerts e Amber Heard. ☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário