Ryan e Eva: tragédia determinista.
O Lugar Onde Tudo Termina foi um dos filmes independentes mais falados de 2012. Afinal, na época, Ryan Gosling tinha seus projetos aguardados não apenas pelos fãs, mas pela crítica que o percebia como uma referência para produções que mereciam atenção. Ironicamente, sua presença no filme foi o que mais causou decepção. Não que o ator esteja mal em cena, pelo contrário, mas a expectativa gerada acabou quebrando as pernas do filme. Apesar de trabalhar pela segunda vez com o diretor Derek Cianfrance, do belamente triste Namorados Para Sempre (2010), o filme evoca outro filme do ator, o prestigiado Drive (2011). Para piorar as coisas, depois de O Lugar existiu Apenas Deus Perdoa (2013), filme com Ryan e dirigido por Nicholas Windig Refn, mesmo cineasta responsável por Drive. Tanto neste quanto em Drive e Apenas Deus Perdoa, Gosling interpreta personagens silenciosos, violentos e com traços de psicopatia. Ou seja, a coisa começou a ficar repetitiva. No entanto, apesar de todos os acontecimentos de O Lugar Onde Tudo Termina girarem em torno do motoqueiro vivido pelo ator, seu personagem aparece em cena somente na primeira parte do filme, já que Derek planeja abordar um encadeamento maior dos fatos a partir dos encontros entre os personagens. O tom de tragédia é constante, mas o que mais incomoda é a pretensão mesclada com o determinismo que aprisiona as intenções de um filme que poderia ser mais interessante do que sua conclusão permite. Luke (Gosling) é um motoqueiro que coloca sua vida em risco no Globo da Morte em apresentações num parque de diversões, eis que o parque volta para uma cidade onde se envolveu com a bela Romina (Eva Mendes, com quem o romance com o ator foi para a vida real). Não demora muito para que ele descubra que teve um filho com ela e que deve zelar pelos dois. Mas Romina prosseguiu a vida ao lado de outro homem, Kofi (Mahershala Ali) e o que Luke tem a oferecer não a satisfaz. No entanto, Luke quer dar ao seu filho o amparo que ele mesmo não recebeu do próprio pai e se junta a um amigo mecânico para assaltar bancos. Essa é a primeira parte do filme, que depois segue o policial Avery (Bradley Cooper) que cruzará o caminho de Luke e sua família. O encontro fará com que Avery enfrente seus próprios dilemas e descubra que entre seus amigos policiais existe um bocado de corrupção. A última parte é dedicada aos filhos desses dois homens, AJ (Emory Cohen) é o filho do policial e Jason (Dane DeHaan) é o rapaz em busca da identidade desconhecida do pai. Os dois tornam-se amigos, mas com um certo sadismo por parte de AJ que irá motivar uma nova jornada de violência na história. Cianfrance cria uma história interessante, mas que sofre com a rédea curta do esquematismo, há muitas ações que são mostradas como inevitáveis, como se a vida já estivesse escrita e coubesse a nós somente sofrê-la. Essa sensação fica quase insuportável quando Jason, parece ter como única opção de vida tornar-se o mais próximo possível do pai. Desprezando seu bom relacionamento com o padrasto e a mãe, subitamente o rapaz sucumbe à marginalidade. Essa opção torna o filme um tanto previsível em sua estética de sarjeta e diminui as possibilidades de suas camadas defendidas por um ótimo elenco. O Lugar onde Tudo Termina é interessante, mas é menos do que gostaria, talvez pela pretensão de Cianfrance e sua visão surpreendentemente simplista dos personagens que tem em mãos.
O Lugar Onde Tudo Termina (The Place Beyond the Pines/EUA-2012) de Derek Cianfrance com Ryan Gosling, Eva Mendes, Bradley Cooper, Dane DeHaan, Ben Mendelsohn e Emory Cohen. ☻☻☻
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