Neil e Smiley: matadores enfrentam o desconhecido.
Filminho sinistro esse dirigido pelo ainda desconhecido Ben Whitley, mas a julgar pelos elogios que vem colhendo em seus trabalhos você irá ouvir falar dele rapidinho. O roteiro escrito pelo próprio diretor e sua parceira constante, Amy Jump, revela a história aos poucos, sempre surpreendendo o espectador quando ele começa a se acomodar à trama. De primeira estranhamos quando ao invés do título a tela tem cravada um estranho símbolo. Parece uma espécie de símbolo pagão embalado pela trilha sonora opressora. Mas o filme começa bem iluminado, claro até demais, e temos a impressão que estamos diante de mais um desses personagens injustiçados pelo sistema - que vive do seguro desemprego e da paciência da esposa. Jay (Neil Maskell) é apresentado como um sujeito emasculado, como se o desemprego o tornasse um sujeito sem direito de se impor quando as reclamações da esposa (MyAnna Buring) se excedem. Tratado como um peso morto dentro da própria casa ainda é fácil simpatizar com o personagem após oito meses de desemprego. A esposa tomou as rédeas da casa e cuida do filho e de todo o resto, enquanto Jay não sabe muito bem o seu lugar no mundo. O desconforto daquele lar é evidente e quando o casal recebe um amigo com a namorada para jantar, sabemos que o clima vai esquentar. Nem as alfinetadas da esposa ou as esquivadas do marido conseguem assustar mais do que quando a tal namorada do amigo, Fiona (Emma Fryer) vai ao banheiro e crava o mesmo símbolo misterioso do início atrás do espelho no banheiro do casal. A partir dali sabemos que a família de Jay está correndo algum risco. Essa certeza só aumenta quando descobrimos que Jay é convidado pelo amigo, Gal (Michael Smiley), a voltar para o ofício de matador de aluguel. Um serviço que promete saldar as dívidas de Jay e ainda fazer o sangue correr novamente em suas veias. A dupla aceita o serviço e sabem tanto quanto a plateia sobre os motivos das encomendas. O roteiro nunca deixa claro qual o motivo dos serviços que devem prestar, nem para quem. Apenas temos a impressão que se meteram com pessoas muito mal intencionadas - e que desfazer o combinado sairá caro. Fica claro que Whitley é um diretor de pulso firme, capaz de manter o tom da trivialidade do início, o mergulho numa atmosfera violentamente tensa e, quando eles mesmos se assustam com o que veem, o filme se transforma num filme de terror arrepiante. Houve quem comparasse o filme com A Bruxa de Blair (1999), mas é um exagero. Kill List é um filme de muitos climas e desvenda as várias camadas do aparentemente passivo Jay numa trama assustadora até a tragédia anunciada desde o início. Deixando a plateia atônita em sua cena final, Kill List deve assombrar minha memória por um bom tempo.
Kill List (Reino Unido/2011) de Ben Whitley com Neil Maskell, Michael Emiley, Emma Fryer e MyAnna Buring. ☻☻☻
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