Ana e Mario: construção de mistérios. |
Assim como dissemos que alguns filmes são clássicos da Sessão da Tarde ou do Corujão por se tornarem recorrentes nestas sessões globais, também podemos cunhar a expressão clássicos da Netflix para aqueles filmes que se tornaram famosos no serviço de streaming. Sabe aquele filme que parece que todo mundo assistiu e você ainda se pergunta porque ainda não fez o mesmo? Esta foi minha sensação com Um Cotratempo, tanta gente me indicou o filme que eu já ficava sem graça de dizer que não tinha assistido (sabe se lá o motivo). Num fim de semana desses eu conversei com um amigo e fiz praticamente uma promessa de assistir. Assim o fiz. É fácil entender o motivo do filme cair na graça do espectador, a começar pela história que nunca se revela por completo, criando uma uma rede de revelações que seguem surpreendentes até o final da sessão. A trama gira em torno de Adrian Dória (Mario Casas) que é acusado de matar sua amante (Bárbara Lennie) num quarto de hotel, embora ele afirme que um desconhecido entrou no quarto e cometeu aquele assassinato. Ele logo contrata uma renomada advogada (Ana Wagener) para defendê-lo, mas suas chances de convencer o júri são pequenas. Conforme Adrian conta sua história a coisa se complica cada vez mais, também não ajuda muito o fato de pensarmos a todo instante que o rapaz está construindo um discurso de forma que a advogada e o publico possa acreditar em sua inocência. A morte da amante mostra-se somente a ponta de um iceberg, já que os dois estiveram envolvidos em um acidente mantido em segredo e que introduz outro casal na história. Ancorado na retórica de seu protagonista e na forma como ele nunca se compromete com os acontecimentos envolvidos, Um Contratempo bebe em várias fontes clássicas para compor sua história (Hitchcock, Agatha Christie e até uma pitada do David Fincher na construção de sua estética de suspense), o melhor é que alcança um bom resultado. A montagem da história é precisa, a fotografia investe em diferentes tonalidades para contar a história (reparem no uso de azul, verde e o caloroso amarelo em determinada cenas) e a direção de Oriol Paulo sabe exatamente os momentos em que deve focar especificamente no embate entre a advogada e seu cliente, onde não se sabe especificamente quem é mais esperto ali - sobretudo naquele momento em que ela consegue ganhar a confiança dele e fazê-lo acreditar que pode ser totalmente honesto. Eficiente na construção de seus mistérios e surpresas, Um Contratempo é mais um exemplo de como o cinema espanhol é um dos mais interessantes do mundo.
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